São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ator engorda para viver Lula jovem

Com barba importada, o recifense Tay Lopes fará o papel dos 18 aos 35 anos em filme dirigido por Fábio Barreto

Ator de 29 anos, que participou do filme "Última Parada 174", aprende a lidar com o torno mecânico e vai a reuniões de sindicato

Carol Guedes/Folha Imagem
Tay Lopes no escritório da produção de "Lula, o Filho do Brasil", em SP, ao lado de reportagens sobre a trajetória do presidente

AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Tay Lopes engordou seis quilos dos dez que prevê ganhar até o início do ano que vem. Entrou em uma turma do Senai em São Paulo para aprender torno mecânico, está deixando a barba crescer, vai a reuniões de sindicatos e vê vídeos sobre as greves do final dos anos 70.
Treina fazer a língua presa, mas apenas vez ou outra, para não soar uma caricatura da figura que irá interpretar em seu segundo trabalho no cinema. Aos 29 anos, o ator recifense precisa ficar parecido com o presidente Lula até janeiro de 2009. Ele será Luiz Inácio Lula da Silva dos 18 aos 35 anos no filme "Lula, O Filho do Brasil", de Fábio Barreto.
Desde a seleção para o papel, Lopes vive um "intensivo" que inclui, além de aprender a ser torneiro mecânico, aulas de musculação, encontros com uma nutricionista e estudos sobre a vida do presidente. O ator está lendo agora o livro de Denise Paraná, que tem o mesmo título e inspira o roteiro do longa-metragem.
"A cada dificuldade, desafio, perda, ele [Lula] viveu uma transformação", afirma o ator, que não diz se votou ou não no presidente ("Precisa mesmo responder isso?"), mas conta que foi para a avenida Paulista comemorar sua vitória no primeiro mandato.
Antes de aparecer como o pastor Jaziel em "Última Parada 174", sua única atuação fora do teatro havia sido em "A Pedra do Reino", minissérie da Globo, de Luiz Fernando Carvalho. "Eu disse: "Ainda vou trabalhar com esse cara". E fui", conta Lopes. Aos 11, ele diz, foi a mesma história: "Eu disse: "Vou trabalhar em teatro". E fui". Ao lado dele, a produtora Paula Barreto emenda: "Tá vendo? Ele tem a garra do Lula".

"Hipopocaré"
Em 1999, depois de ter participado de "todos os grupos amadores" de Recife, de ter interpretado um "hipopocaré" (mistura de hipopótamo e jacaré) com corpo de espuma num espetáculo e de ter feito peça até em campo de futebol ("A Paixão de Cristo"), Lopes se mudou para São Paulo.
Começou a trabalhar como garçom num restaurante nos Jardins que, segundo ele, recebia muitos atores e diretores de teatro. "Eu me capitalizei, sabe?", diz Lopes, sobre os contatos que fez e que o levaram ao grupo paulista XPTO.
Mais tarde, depois de ter feito "Última Parada 174", foi convidado por Antonio Abujamra para trabalhar em "Os Possessos". Lá, ouviu do diretor: "Você está com um naturalismo que funciona bem em TV e cinema". Fiquei com aquilo na cabeça. Fiz o teste para "Lula" e, quando soube do resultado, liguei correndo para minha mãe, minha Lindu [mãe do presidente Lula], e meu pai", conta e, em seguida, começa a chorar.
No longa, a cena do enterro de Lindu, que morreu em 1980, quando Lula estava preso, vai encerrar o filme. Lopes -usando barba importada, já que a sua foi considerada "insuficiente" pela produção- entrará num carro preto depois de discursar para "uma multidão" no cemitério de São Bernardo. Com efeito de fusão, a cena que o público verá na tela em seguida é a do próprio presidente no carro, rumo ao discurso da posse -a única com imagens de arquivo e com Lula já no cargo.
Para Lopes, "a preocupação é a alma do homem". "Não dá para ser mimético, porque seria de fora para dentro", analisa o ator. "É para ser Lula não sendo. É a minha memória e muitas coisas coincidindo."


Texto Anterior: Site conta a história do caderno
Próximo Texto: Saiba mais: Produção do filme busca "Lula bebê"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.