São Paulo, Sexta-feira, 24 de Dezembro de 1999


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Desmond Llewelyn, o Q, foi o ator mais fiel da série

da Equipe de Articulistas

Q está morto. Não há sinais de ação da Spectre no acidente de carro que vitimou, no último domingo, aos 85 anos, seu intérprete, Desmond Llewelyn.
O mais fiel ator dos filmes de James Bond sai de cena sem ter respeitado seu último conselho a 007, em "O Mundo Não É o Bastante". Não preparara uma saída de emergência.
Assistimos (oficialmente) a cinco Bond, incontáveis M, mas houve apenas um Q. Todos os intérpretes de 007 com os quais contracenou (Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton e Pierce Brosnan) confirmaram participação para uma cerimônia póstuma em homenagem a Desmond Llewelyn no próximo dia 1º.
Llewelyn participou de 17 dos 19 filmes oficiais da mais rentável série da história do cinema. Sua estréia deu-se logo no segundo filme, "Moscou contra 007" (1963), ao lado de Sean Connery.
Q deixou de prover Bond com seu arsenal hi-tech de gadgets apenas em "007 contra o Satânico Dr. No" (1962) e em "007 - Viva e Deixe Morrer" (1973).
A possível aposentadoria de Llewelyn virou notícias ainda antes do lançamento "007 - O Mundo Não É o Bastante". Foi desmentida, mas o próprio filme parecia dar razões aos boatos.
Pela primeira vez, Q apresentava um ajudante, logo apelidado por Bond de R. John Cleese o interpretou em chave cômica, em tudo contrastante com a séria elegância de seu patrão. Na última cena de Llewelyn ao lado de Bond (Pierce Brosnan), ele dá dois conselhos sobre retirada -e graciosamente some, baixando num elevador.

Aposentadoria anunciada
Desmond Llewelyn morreu a caminho de casa, em East Sussex, ao sul de Londres, depois de uma tarde de autógrafos de sua recém-lançada autobiografia, "Q, the Authorized Biography of Desmond Llewelyn" (SP Publications, 160 págs., cerca de R$ 39), escrita ao lado de Sandy Hernu e prefaciada por Pierce Brosnan.
Llewelyn acabara também de gravar uma série de entrevistas sobre sua carreira ao lado de Bond. O documentário em duas partes, "A Life of Q", produzido por Andy Brice, vai estrear na TV britânica nos próximos dias 4 e 11 de janeiro.
O teatro foi a primeira paixão de Llewelyn, que entrou em 1930 na Royal Academy for Dramatic Arts. Sua estréia nas telas aconteceu em 1939, na comédia "Ask a Policeman", de Will Hay.
Sua carreira foi interrompida pela convocação para servir no exército britânico durante a Segunda Guerra. Llewelyn chegou a ser preso na França sob domínio alemão. Foi encarcerado por cinco anos e passou até por uma solitária ao ser flagrado cavando um túnel para fugir.
Sua longa filmografia inclui uma participação não creditada no colossal "Cleópatra", de Mankiewicz, e um papel na comédia "Chitty Chitty, Bang Bang" (1968). Mas foi mesmo como Q que escreveu seu nome na história do cinema.
"Preste atenção, Bond" tornou-se seu jargão predileto. Uma caneta-granada de "GoldenEye" (1995) era a favorita dentre as invenções que ofertou a 007.
Não que Llewelyn se sentisse à vontade com elas. "Na vida real sou alérgico a "gadgets'", afirmara recentemente. "Eles simplesmente não funcionam comigo, nem mesmo esses cartões de plástico para portas de hotel."
Llewelyn acabara de rodar seu primeiro filme em 20 anos fora da série 007. No ainda inédito "Error 2000", finalmente chegara sua vez de salvar o mundo. No último fim-de-semana, o mundo não foi o bastante para salvá-lo. (AL)


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