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"DOZE HOMENS E OUTRO SEGREDO"
Dirigido por Steven Soderbergh, longa é estrelado por George Clooney e Julia Roberts
Seqüência troca idealismo por pragmatismo
PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Nos filmes de assalto, sempre
o que está em jogo são as habilidades olímpicas dos ladrões
em arquitetar um elaborado plano. Steven Soderbergh também
quer provar seus atributos, no caso, como diretor. Pois não são
poucas as vezes que seus trabalhos foram sufocados pelos cacoetes estilosos de câmera. Talvez por
isso as produções de roubo "Onze
Homens e Um Segredo" (2001) e,
agora, "Doze Homens e Outro Segredo" sejam dois de seus melhores longas, no casamento perfeito
que fazem estilo e tema.
No primeiro, tínhamos Danny
Ocean (George Clooney) armando com mais dez vigaristas o assalto ao cassino de Terry Benedict
(Andy Garcia). Havia ali uma pulsão de vida extraordinária, um
componente lúdico infiltrado no
planejamento quase empresarial
daqueles homens, com o dinheiro
importando menos que o simples
ato de roubar um milionário. E
havia também, às escondidas,
uma motivação crucial para a empreitada: o amor incontrolável
por uma mulher.
Estávamos, portanto, sob um
idealismo e tanto. Na construção
das engrenagens do golpe, a câmera na mão, a montagem picotada e outras manias do cinema
de Soderbergh foram essenciais
na construção da narrativa. O
conceito cinematográfico do diretor, que desde "sexo, mentiras e
videotape" queria mostrar que
era autor de um estilo bem particular, finalmente atestava solidez.
"Doze Homens e Outro Segredo" é como o dia seguinte ao
grande golpe. Benedict, irado, encontra a gangue de Ocean e ordena para devolverem a quantia
roubada, com juros e correção,
em até duas semanas. Todos terão
de armar outro crime para saldar
a dívida, e os deslocamentos em
território americano do primeiro
filme migram para visitas a países
europeus.
O romantismo ideológico que
havia antes cede a um pragmatismo digno do mercado financeiro.
E o que era como um jogo de xadrez agora é uma verdadeira
competição selvagem, sob o risco
de o bando de Ocean ser atacado.
É o que faz François Toulour
(Vincent Kassel), ricaço marchand e cleptomaníaco que tromba com o bando. Ele e Danny firmarão uma competição para ver
quem é o melhor gatuno do momento. Entre apuros mil, até Tess
Ocean prestará socorro, passando-se por Julia Roberts numa típica brincadeira metalingüística.
A mão do diretor, aqui, parece
mais afetada que afinada, ainda
que haja um deslocamento de
personagens digno, como se eles
fossem empresários em viagens
de negócios. A montagem inclusive desacelera quando a afetividade tenta tomar as rédeas. É Rusty
Ryan (Brad Pitt), agora, quem esconde uma história de amor. Perigoso, aliás, porque Isabel Lahiri
(Catherine Zeta-Jones) é uma policial. Claro, numa chave bem moderna e ambígua, sibilando entre
a lei e a contravenção.
Longe de ser uma visão sombria, pelo contrário, "Doze Homens e Outro Segredo" é como a
ressaca que vem após a bebedeira
de "Onze Homens...", com a obrigação tomando as rédeas do que
antes era entretenimento.
Doze Homens e Outro Segredo
Ocean's Twelve
Direção: Steven Soderbergh
Produção: EUA, 2004
Com: George Clooney, Brad Pitt
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Cine Penha e circuito; e
amanhã no Bristol, Cinearte e circuito
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