São Paulo, sexta-feira, 24 de dezembro de 2004

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"DOZE HOMENS E OUTRO SEGREDO"

Dirigido por Steven Soderbergh, longa é estrelado por George Clooney e Julia Roberts

Seqüência troca idealismo por pragmatismo

PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Nos filmes de assalto, sempre o que está em jogo são as habilidades olímpicas dos ladrões em arquitetar um elaborado plano. Steven Soderbergh também quer provar seus atributos, no caso, como diretor. Pois não são poucas as vezes que seus trabalhos foram sufocados pelos cacoetes estilosos de câmera. Talvez por isso as produções de roubo "Onze Homens e Um Segredo" (2001) e, agora, "Doze Homens e Outro Segredo" sejam dois de seus melhores longas, no casamento perfeito que fazem estilo e tema.
No primeiro, tínhamos Danny Ocean (George Clooney) armando com mais dez vigaristas o assalto ao cassino de Terry Benedict (Andy Garcia). Havia ali uma pulsão de vida extraordinária, um componente lúdico infiltrado no planejamento quase empresarial daqueles homens, com o dinheiro importando menos que o simples ato de roubar um milionário. E havia também, às escondidas, uma motivação crucial para a empreitada: o amor incontrolável por uma mulher.
Estávamos, portanto, sob um idealismo e tanto. Na construção das engrenagens do golpe, a câmera na mão, a montagem picotada e outras manias do cinema de Soderbergh foram essenciais na construção da narrativa. O conceito cinematográfico do diretor, que desde "sexo, mentiras e videotape" queria mostrar que era autor de um estilo bem particular, finalmente atestava solidez.
"Doze Homens e Outro Segredo" é como o dia seguinte ao grande golpe. Benedict, irado, encontra a gangue de Ocean e ordena para devolverem a quantia roubada, com juros e correção, em até duas semanas. Todos terão de armar outro crime para saldar a dívida, e os deslocamentos em território americano do primeiro filme migram para visitas a países europeus.
O romantismo ideológico que havia antes cede a um pragmatismo digno do mercado financeiro. E o que era como um jogo de xadrez agora é uma verdadeira competição selvagem, sob o risco de o bando de Ocean ser atacado. É o que faz François Toulour (Vincent Kassel), ricaço marchand e cleptomaníaco que tromba com o bando. Ele e Danny firmarão uma competição para ver quem é o melhor gatuno do momento. Entre apuros mil, até Tess Ocean prestará socorro, passando-se por Julia Roberts numa típica brincadeira metalingüística.
A mão do diretor, aqui, parece mais afetada que afinada, ainda que haja um deslocamento de personagens digno, como se eles fossem empresários em viagens de negócios. A montagem inclusive desacelera quando a afetividade tenta tomar as rédeas. É Rusty Ryan (Brad Pitt), agora, quem esconde uma história de amor. Perigoso, aliás, porque Isabel Lahiri (Catherine Zeta-Jones) é uma policial. Claro, numa chave bem moderna e ambígua, sibilando entre a lei e a contravenção.
Longe de ser uma visão sombria, pelo contrário, "Doze Homens e Outro Segredo" é como a ressaca que vem após a bebedeira de "Onze Homens...", com a obrigação tomando as rédeas do que antes era entretenimento.


Doze Homens e Outro Segredo
Ocean's Twelve
   
Direção: Steven Soderbergh
Produção: EUA, 2004
Com: George Clooney, Brad Pitt
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Cine Penha e circuito; e amanhã no Bristol, Cinearte e circuito



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