|
Texto Anterior | Índice
Cantor peruano Juan Diego Florez encarna o "Tom Cruise da ópera"
MICHAEL CHURCH
DO "INDEPENDENT"
"La Cenenterola", de Rossini,
demora muito a chegar ao ponto.
Você imagina se a espera valerá
-e foi o que aconteceu na estréia
da ópera no Covent Garden (Londres), há três anos. O jovem peruano que interpretava o príncipe
havia recebido críticas favoráveis
por seu desempenho com a Royal
Opera fora do Reino Unido, e estrelara em "Otello", de Rossini,
mas aquela noite marcaria sua
verdadeira estréia londrina.
Mesmo em trajes de criado,
Juan Diego Florez impôs uma figura nobre, mas foi quando abriu
a boca que se tornou possível perceber a platéia segurando a respiração. Sua interpretação das linhas complexas e agudas de Rossini foi impecável, suave e natural;
é raro que um talento se declare
de maneira tão inequívoca.
Depois de ser classificado pela
imprensa como "o novo Pavarotti" e o "Tom Cruise da ópera",
Florez hoje vive sob os holofotes.
Astro de "Don Pasquale", de Donizetti, e com o CD "Juan Diego
Florez: Great Tenor Arias", o cantor está na crista da onda.
Florez se irritava com o rótulo
"o segundo Pavarotti": "Quero
ser visto como o primeiro Juan
Diego Florez". Hoje, mudou.
"Admiro Pavarotti como a maior
voz do século passado, e também
porque neste ano, quando alguém
perguntou a ele quem seria o próximo astro da ópera, ele respondeu "Juan Diego Florez"."
Florez parece considerar as
oportunidades que o conduziram
à fama como recompensas por
seus méritos. A primeira delas
surgiu em 1996, no festival Rossini
em Pesaro, quando o principal tenor, Bruce Ford, adoeceu, e Florez
foi convidado a substitui-lo. O sucesso foi tão grande que contratos
"choveram" sobre ele.
A ópera estava longe de seu
pensamento quando deu os primeiros passos como músico. Nascido em 1973, Florez cresceu ouvindo e tocando em companhia
de seu pai, o cantor folclórico Ruben, bem como ouvindo os grandes expoentes da nueva trova cubana. Florez também adorava as
coisas do Reino Unido e dos EUA
-Beatles, Rolling Stones etc. - e
aos 12 anos começou a compor.
Tocava com o pai em um piano
bar de Lima, e a seguir montou
sua banda. "Eu queria ser muitas
coisas, mas quando me matriculei
no conservatório, as coisas se tornaram mais claras."
"Quando comecei a cantar clássicos, mantive a sonoridade anasalada -meio misturada com
uso pesado amplificação, à Elvis
Presley." Ele abandonou o estilo e
decidiu procurar vaga nas principais instituições norte-americanas de educação musical. "E foi
então que compreendi que tinha
talento, porque eles me queriam."
"Eu canto melhor se improvisar", diz. "Jamais mostro nos ensaios o que vou fazer no espetáculo. Minha agenda está tão cheia
que tenho de chegar atrasado a
certas produções."
Qual é o objetivo em prazo mais
longo? "Cantar melhor. Verdi e
Puccini giram em torno da paixão, e que cada detalhe seja polido. Mas no bel canto de Rossini
há sempre coisas que se pode cantar de forma mais bonita, e é preciso que seja esse o objetivo." E é
isso que temos. Um artista consumado que provocou virada tectônica no mundo da ópera.
Tradução Paulo Migliacci
Texto Anterior: Crítica: Sons retrô e teclados antigos em jovem guarda Índice
|