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"Persépolis" traz visão feminina do Irã
HQ da iraniana Marjane Satrapi, que virou animação premiada em Cannes, chega em versão completa
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Marjane Satrapi nasceu em
Rasht, Irã, em 1969. Aos dez
anos, após ter estudado em
uma escola laica e bilíngüe, foi
obrigada a freqüentar um colégio religioso e a usar véu. Foi a
primeira conseqüência direta
em sua vida da Revolução Islâmica de 1979, que derrubou o
xá Reza Pahlevi.
A história de sua vida desde
então, assim como a do Irã pelo
seu ponto de vista, estão contadas em "Persépolis Completo",
lançada neste mês no Brasil.
A vida de Marjane passou por
muitas transformações, como
ela narra nesta história em quadrinhos autobiográfica.
"Persépolis" foi lançada originalmente na França, em
2000. Depois, ganhou continuações, uma por ano, até o
quarto e último volume, em
2003. A série foi publicada no
Brasil de 2004 a fevereiro deste
ano, e o novo volume reúne
conteúdo dos quatros livros em
uma edição de 352 páginas.
Marjane cresceu em uma família politizada e que era contra as mudanças que vieram a
partir de 1979 -eles participaram de manifestações contra o
uso obrigatório do véu, por
exemplo. Em 1980, um de seus
tios foi preso pelo governo iraniano e executado como espião.
Migração para a Europa
Com o início da guerra contra o Iraque (1980-88), a situação foi piorando. Em 1983, aos
14 anos, Marjane mudou-se para a Áustria. Seus pais ficaram
no Irã, e ela se viu sozinha diante da cultura européia.
Além de não falar alemão, enfrentou dificuldades naturais
de adaptação, além da adolescência. Queria fazer amigos e
namorar, mas tinha medo de
perder sua identidade e de não
ser mais aceita em seu país.
Aos 18 anos, voltou para o Irã.
Após quatro anos na Europa,
sentia-se ocidentalizada demais para ser aceita pelos antigos amigos, assim como havia
se sentido oriental demais
quando foi para a Áustria.
"Persépolis" virou um longa-metragem animado com roteiro e direção da própria Marjane
e de seu amigo Vincent Paronnaud. O filme estreou neste ano
no Festival de Cannes, onde
venceu o prêmio do júri; também participou da Mostra de
São Paulo (melhor longa de ficção estrangeiro pelo júri popular); e é um dos cinco indicados
ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro.
Além da qualidade artística, a
chave para o sucesso de "Persépolis", a HQ e o filme, é a mesma: trata-se de uma narração
autocrítica e bem humorada de
tal maneira que se torna difícil
não simpatizar com a autora-personagem Marjane.
PERSÉPOLIS COMPLETO
Autora: Marjane Satrapi
Tradutor: Paulo Werneck
Editora: Cia. das Letras
Quanto: R$ 39 (352 págs.)
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