São Paulo, segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

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"Persépolis" traz visão feminina do Irã

HQ da iraniana Marjane Satrapi, que virou animação premiada em Cannes, chega em versão completa

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Marjane Satrapi nasceu em Rasht, Irã, em 1969. Aos dez anos, após ter estudado em uma escola laica e bilíngüe, foi obrigada a freqüentar um colégio religioso e a usar véu. Foi a primeira conseqüência direta em sua vida da Revolução Islâmica de 1979, que derrubou o xá Reza Pahlevi. A história de sua vida desde então, assim como a do Irã pelo seu ponto de vista, estão contadas em "Persépolis Completo", lançada neste mês no Brasil. A vida de Marjane passou por muitas transformações, como ela narra nesta história em quadrinhos autobiográfica. "Persépolis" foi lançada originalmente na França, em 2000. Depois, ganhou continuações, uma por ano, até o quarto e último volume, em 2003. A série foi publicada no Brasil de 2004 a fevereiro deste ano, e o novo volume reúne conteúdo dos quatros livros em uma edição de 352 páginas. Marjane cresceu em uma família politizada e que era contra as mudanças que vieram a partir de 1979 -eles participaram de manifestações contra o uso obrigatório do véu, por exemplo. Em 1980, um de seus tios foi preso pelo governo iraniano e executado como espião.
Migração para a Europa
Com o início da guerra contra o Iraque (1980-88), a situação foi piorando. Em 1983, aos 14 anos, Marjane mudou-se para a Áustria. Seus pais ficaram no Irã, e ela se viu sozinha diante da cultura européia. Além de não falar alemão, enfrentou dificuldades naturais de adaptação, além da adolescência. Queria fazer amigos e namorar, mas tinha medo de perder sua identidade e de não ser mais aceita em seu país. Aos 18 anos, voltou para o Irã.
Após quatro anos na Europa, sentia-se ocidentalizada demais para ser aceita pelos antigos amigos, assim como havia se sentido oriental demais quando foi para a Áustria. "Persépolis" virou um longa-metragem animado com roteiro e direção da própria Marjane e de seu amigo Vincent Paronnaud. O filme estreou neste ano no Festival de Cannes, onde venceu o prêmio do júri; também participou da Mostra de São Paulo (melhor longa de ficção estrangeiro pelo júri popular); e é um dos cinco indicados ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro.
Além da qualidade artística, a chave para o sucesso de "Persépolis", a HQ e o filme, é a mesma: trata-se de uma narração autocrítica e bem humorada de tal maneira que se torna difícil não simpatizar com a autora-personagem Marjane.


PERSÉPOLIS COMPLETO
Autora:
Marjane Satrapi
Tradutor: Paulo Werneck
Editora: Cia. das Letras
Quanto: R$ 39 (352 págs.)


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