São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"TERRA DE NINGUÉM"

Como é tragicômica a humanidade...

DA REDAÇÃO

O soldado bósnio corre das balas sérvias vestindo uma camiseta com a língua de Andy Warhol. O ano é o de 1993, na então Iugoslávia cindida pela Guerra da Bósnia (1992-1995).
O logo dos Stones na roupa do soldado Chiki nos mostra a que veio Danis Tanovic, 32, o diretor bósnio de "Terra de Ninguém", vencedor do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro.
O filme não é um tratado sobre mocinhos e bandidos do enfrentamento, mas uma crítica à indiferença do Ocidente em relação à tensão nos Bálcãs. Crítica que poderia surgir na forma de drama panfletário, mas que vem como uma divertida tragicomédia sobre reações e relações humanas dentro de um conflito desse porte.
Chiki e Cera são combatentes bósnios que se perdem no território não-ocupado entre as duas linhas de ataque vigiadas pelas Nações Unidas. Fugindo de um ataque, abrigam-se em uma trincheira abandonada junto com um soldado inimigo novato, Nino, que é enviado para matá-los, mas que não sabe sequer segurar um fuzil.
Cera, por sua vez, está deitado sobre uma bomba de fragmentação, qualquer movimento seu pode jogar tudo para os ares. O dilema transforma a trincheira num microcosmo da guerra. Reduzida a isso, os argumentos que sustentam o conflito viram brincadeira de moleque. Um acusa: "Foram vocês que começaram", o outro responde: "Não, foram vocês" etc.
Um sargento francês, inquieto por ser apenas um observador neutro na guerra, decide ajudar o soldado deitado sobre a bomba, contra ordem de seus superiores.
A ação se passa num belo dia de verão. Quase não há música, só o som do vento, das moscas, dos pés batendo nas pedras. Romântico, Tanovic tenta contrapor um cenário idílico aos horrores da ação humana. O que acaba mostrando, porém, é que a estupidez da guerra se encaixa perfeitamente no quadro da natureza.
(SYLVIA COLOMBO)


Terra de Ninguém
No Man's Land
   
Direção: Danis Tanovic
Produção: Bélgica/Bósnia/ França/ Itália/Eslovênia/Reino Unido, 2001
Com: Branko Djuric, Rene Bitorajac
Quando: a partir de hoje no Belas Artes, Cinearte e circuito




Texto Anterior: Crítica: Diretora retrata a intolerância que a diversidade esconde
Próximo Texto: Erika Palomino
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.