São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2002

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"Fui ressuscitado", anuncia Ivan Cardoso

DA REPORTAGEM LOCAL

Hitler está vivo na Argentina. Carrascos nazistas refugiaram-se no Brasil sob a "pele" de múmias, com a cooperação de um cientista louco. E, no Pentágono, o agente especial Ed Stone está prestes a desfiar essa meada, ao catalogar arquivos confiscados do Führer pelo Exército Vermelho, em 45. Os documentos encontram-se em poder do presidente Bush, como herança recebida de Reagan, autor de acordos selados com o governo russo.
O resumo corresponde ao argumento do roteiro de "O Sarcófago da Múmia", um dos dez premiados em concurso do Ministério da Cultura para a produção de telefilmes orçados em até R$ 500 mil. A escolha não significou pouco para o cineasta Ivan Cardoso. "Fui ressuscitado", diz.
Aos "49 anos, solteiro, botafoguense" e bom companheiro das múmias (a elas dedicou seus três longas), Cardoso havia conseguido realizar apenas dois curtas durante a década de 90 -"À Meia-Noite com Glauber", em homenagem a Hélio Oiticica, e "Hi-Fi", elogio a Álvaro de Campos.
"Foi um período muito tortuoso para mim. Eu me preparei a vida inteira para ser um diretor de cinema e fiquei precocemente aposentado, por um problema de censura estética. Mas sou possivelmente um dos cinco cineastas brasileiros mais conhecidos no exterior. Tenho sete prêmios internacionais e me sentia exilado em meu país. Uma década deu para aguentar, mas a segunda seria difícil", afirma.
Cardoso define "O Sarcófago da Múmia" como "uma investigação em torno do personagem principal de "O Segredo da Múmia" (1982), o professor Expedito Vitus, imortalizado nas telas por Wilson Grey".
O filme trará material inédito de Grey, captado em 16 mm, em 1977. Nesse ano, Cardoso queria fazer um filme, mas não tinha roteiro. Rodou cenas com Grey, Felipe Falcão e Julio Medaglia, até que conheceu -por intermédio de José Mojica Marins, o Zé do Caixão- R. F. Lucchetti, o homem que deu forma a "O Segredo da Múmia" e se tornaria roteirista de todos os trabalhos de Cardoso.
"Sou fã de Lucchetti, mas no roteiro que ele fez para "O Segredo da Múmia" apenas 20% do material filmado foi aproveitado. Tive a idéia de utilizar as horas que ficaram guardadas vendo seriados como "Arquivo X" na TV", diz o cineasta.
Para a realização do projeto, o MinC oferece R$ 200 mil e se compromete a cooperar na captação dos R$ 295 mil restantes, além de exibir o trabalho na TV Cultura e Arte.

Curta
A "ressurreição" de Cardoso recebeu reforço este mês, quando foram anunciados os dez projetos de curta-metragem contemplados com R$ 50 mil cada um pelo projeto Petrobras Cinema. "Heliorama" -o terceiro filme que Cardoso pretende dedicar ao amigo Hélio Oiticica- estava entre eles.
Uma vez mais, trata-se de "dar novo significado a um material de arquivo". Entre os negativos que guarda na casa de sua mãe, no Rio, Cardoso tem 50 minutos gravados com Hélio Oiticica e que até agora tinham o status de "sobras" de "HO" (13 min.).
Cardoso explica o fio condutor: "Folheando os exemplares, vi que nos programas com os pioneiros do cinema havia um título recorrente -"O Homem-Pássaro". Ora, o homem-pássaro é Hélio Oiticica. Muitas vezes, esses programas eram anunciados como "novidades excêntricas". E novidades excêntricas é bem o tipo de obra do Hélio Oiticica também". Alguém duvida? (SA)


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