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"Fui ressuscitado", anuncia Ivan Cardoso
DA REPORTAGEM LOCAL
Hitler está vivo na Argentina.
Carrascos nazistas refugiaram-se
no Brasil sob a "pele" de múmias,
com a cooperação de um cientista
louco. E, no Pentágono, o agente
especial Ed Stone está prestes a
desfiar essa meada, ao catalogar
arquivos confiscados do Führer
pelo Exército Vermelho, em 45.
Os documentos encontram-se em
poder do presidente Bush, como
herança recebida de Reagan, autor de acordos selados com o governo russo.
O resumo corresponde ao argumento do roteiro de "O Sarcófago
da Múmia", um dos dez premiados em concurso do Ministério da
Cultura para a produção de telefilmes orçados em até R$ 500 mil.
A escolha não significou pouco
para o cineasta Ivan Cardoso.
"Fui ressuscitado", diz.
Aos "49 anos, solteiro, botafoguense" e bom companheiro das
múmias (a elas dedicou seus três
longas), Cardoso havia conseguido realizar apenas dois curtas durante a década de 90 -"À Meia-Noite com Glauber", em homenagem a Hélio Oiticica, e "Hi-Fi",
elogio a Álvaro de Campos.
"Foi um período muito tortuoso para mim. Eu me preparei a vida inteira para ser um diretor de
cinema e fiquei precocemente
aposentado, por um problema de
censura estética. Mas sou possivelmente um dos cinco cineastas
brasileiros mais conhecidos no
exterior. Tenho sete prêmios internacionais e me sentia exilado
em meu país. Uma década deu
para aguentar, mas a segunda seria difícil", afirma.
Cardoso define "O Sarcófago da
Múmia" como "uma investigação
em torno do personagem principal de "O Segredo da Múmia"
(1982), o professor Expedito Vitus, imortalizado nas telas por
Wilson Grey".
O filme trará material inédito de
Grey, captado em 16 mm, em
1977. Nesse ano, Cardoso queria
fazer um filme, mas não tinha roteiro. Rodou cenas com Grey, Felipe Falcão e Julio Medaglia, até
que conheceu -por intermédio
de José Mojica Marins, o Zé do
Caixão- R. F. Lucchetti, o homem que deu forma a "O Segredo
da Múmia" e se tornaria roteirista
de todos os trabalhos de Cardoso.
"Sou fã de Lucchetti, mas no roteiro que ele fez para "O Segredo
da Múmia" apenas 20% do material filmado foi aproveitado. Tive
a idéia de utilizar as horas que ficaram guardadas vendo seriados
como "Arquivo X" na TV", diz o
cineasta.
Para a realização do projeto, o
MinC oferece R$ 200 mil e se
compromete a cooperar na captação dos R$ 295 mil restantes, além
de exibir o trabalho na TV Cultura e Arte.
Curta
A "ressurreição" de Cardoso recebeu reforço este mês, quando
foram anunciados os dez projetos
de curta-metragem contemplados com R$ 50 mil cada um pelo
projeto Petrobras Cinema. "Heliorama" -o terceiro filme que
Cardoso pretende dedicar ao
amigo Hélio Oiticica- estava entre eles.
Uma vez mais, trata-se de "dar
novo significado a um material de
arquivo". Entre os negativos que
guarda na casa de sua mãe, no
Rio, Cardoso tem 50 minutos gravados com Hélio Oiticica e que até
agora tinham o status de "sobras"
de "HO" (13 min.).
Cardoso explica o fio condutor:
"Folheando os exemplares, vi que
nos programas com os pioneiros
do cinema havia um título recorrente -"O Homem-Pássaro".
Ora, o homem-pássaro é Hélio
Oiticica. Muitas vezes, esses programas eram anunciados como
"novidades excêntricas". E novidades excêntricas é bem o tipo de
obra do Hélio Oiticica também".
Alguém duvida?
(SA)
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