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Música - Crítica/"Jukebox"
Cat Power retorna aos seus estranhos covers
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Chan Marshall é daquelas moças esquisitas essenciais no mundo pop.
Mesmo aos 36 anos, com uma
música mais trabalhada e jurando ter deixado as drogas no
passado, a cantora que atende
pelo nome Cat Power mostra
que a normalidade não está em
seu horizonte. "Jukebox", seu
mais recente trabalho (que por
enquanto tem edição apenas
internacional), é um disco de
covers que não são covers. São
ainda mais que "versões": são
reconstruções.
Não é nada estranho para alguém que, em 2000, lançou outro disco ainda mais radical,
"The Covers Record". O disco
abria com "(I Can't Get No) Satisfaction", o clássico dos Rolling Stones em releitura onde
saíam os conhecidíssimos riffs
de guitarra e o refrão.
Era uma balada minimalista,
de fossa, perfeito reflexo da
cantora na época: uma garota
indie, largada, que se vestia como menino e praticamente
murmurava as letras das canções, dona de péssimos shows
(quando comparecia).
A Chan Marshall de "Jukebox" é uma artista que leva a
música a sério, mas que ao mesmo tempo não se tornou uma
burocrata do showbiz. É como
se, de tempos em tempos, ela
precisasse deixar de lado seu
trabalho mais autoral para
mergulhar nas suas influências
em busca de auto-afirmação.
Os shows que fez no Brasil no
ano passado explicam quem é
essa nova Cat Power, uma cantora que se reinventou ao abraçar o soul e o blues "clássicos".
O repertório daqueles shows é
basicamente o mesmo do disco,
com uma típica sonoridade de
boteco de filmes que se passam
no Mississippi. Ao mesmo tempo, Marshall parece ter perdido
o medo de soltar sua voz rouca.
Acompanhada pela banda
Dirty Delta Blues, encontrou
sua real vocação.
As canções refletem bem o
atual momento. Entre as 12 faixas, estão presentes releituras,
sempre na chave do blues, r&b
e country, de nomes como James Brown ("Lost Someone"),
Billie Holiday ("Don't Explain"), Janis Joplin ("Woman
Left Lonely"), Joni Mitchell
("Blue"), além de uma nova
versão de "Metal Heart", composição dela própria.
"New York, New York" deixa
a grandiloquência algo kitsch
de Frank Sinatra para adentrar
no universo soul de Cat Power.
Mas, desta vez, ela não tirou o
refrão, apenas o canta de forma
mais sensual. Mesmo que interessada em outros sons, Marshall mantém Bob Dylan como
seu ídolo supremo. Há a versão
para "I Believe in You", da fase
religiosa do cantor, que soa um
tanto redundante no conjunto.
Dylan reaparece na única faixa inédita composta por Marshall do disco, a ótima "Song to
Bobby". Ela relembra um encontro que teve com Dylan, no
ano passado (na tradução):
"Com a credencial do backstage
na minha mão/dar a você meu
coração era meu plano/.../posso finalmente falar para você
ser meu homem?".
JUKEBOX
Artista: Cat Power
Lançamento: Matador Records
Quanto: US$ 12 (cerca de R$ 22 mais taxas, em www.matadorrecords.com)
Avaliação: bom
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