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Mônica Nador leva cores a bairro de Santo André
Projeto da artista, que pinta fachadas de casas com a ajuda dos moradores, deve se estender a 3.000 residências na Grande São Paulo
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"É ela quem faz desenho na
casa dos outros", diz a menina
com menos de cinco anos, camisa rosa e saia vermelha,
apontando a artista Mônica
Nador, que tem coordenado a
pintura da fachada de casas no
Jardim Santo André, em Santo
André, cumprindo promessa
que nada tem de religiosa: gastar tinta onde é necessário.
Nos últimos três meses, a jovem moradora da região em
processo de urbanização, que
se tornou conhecida por ser onde ocorreu a tragédia do caso
Eloá, viu cerca de 30 casas ganharem cores e padrões inéditos. A mudança é tão significativa que as ruas da região, ainda
sem nome, passaram a ser chamadas com referências às pinturas realizadas. A rua do Jacaré, com uma pintura do animal,
por exemplo, foi onde a garota
apontou a artista.
Tigres, cachorros ou macacos, plantas e ainda objetos como bules, xícaras e fruteiras são
elementos que agora fazem
parte da fachada das moradias,
feitos a partir de encontros
com os próprios moradores.
"Mesmo que não sejam eles
que pintem, sempre peço que
ao menos eles escolham os desenhos [...] Mas também estabeleço alguns critérios: não pode ser logomarca, e é preciso ter
alguma relação com a pessoa",
conta Nador.
Artista que iniciou sua carreira nos anos 80, no momento
em que se pregava o retorno à
pintura, Nador, apesar do reconhecimento, decidiu, na década seguinte, que não iria mais
usar pincéis dentro de museu.
"Eu achava que estava gastando tinta onde não era necessário", costuma dizer.
Em 2004, após várias experiências em pintar casas junto
com seus moradores, Nador
fundou o Jardim Miriam Arte
Clube (Jamac), instalando-se
de forma fixa no bairro homônimo da região sul da capital.
Rapidamente, veio o reconhecimento, com o grupo convidado para a Bienal de São Paulo
de 2006, "Como Viver Junto".
Habitação e arte
Graças à sua atividade com o
Jamac, Nador foi contatada por
profissionais da Companhia de
Desenvolvimento Habitacional
e Urbano do Governo do Estado de São Paulo (CDHU). "Estamos desenvolvendo um trabalho de urbanização de favelas
e, ao concluirmos duas delas,
percebemos que população
precisava mais do que obras,
mas de sentimento de pertencimento, de valorização da autoestima, e que a arte poderia
ajudar nisso", disse à Folha Viviane Frost, superintendente
de ações de recuperação urbana da CDHU.
Na próxima semana, a especialista apresenta os resultados
já alcançados no Jardim Santo
André num congresso sobre
urbanização e inclusão social
na América Latina, na Universidade da Flórida (EUA).
O trabalho de Nador no Jardim Santo André é considerado
piloto, mas deve se estender a
todas as 3.000 moradias do local, segundo Lair Krähenbühl,
secretário de Estado da Habitação e presidente do CDHU.
"Criamos uma dotação orçamentária, o projeto São Paulo
de Cara Nova, com R$ 50 milhões a serem gastos não só em
pinturas, mas em melhorias estruturais como muro de arrimo", explica o secretário, que
estima gasto de R$ 1 mil por
moradia.
Em um local de tons escurecidos, as novas casas coloridas
se sobressaem. Uma das que alcança maior destaque é a do casal Gilcilene Girardelli e Edielson Ferreira Bento. "Eles queriam usar o desenho de um cachorro com chapéu, mas achei
que seria forçado e mostrei o
desenho de uma criança, com
quem trabalhei no Japão, no
ano passado, e eles gostaram",
conta Nador. "Nossos amigos e
parentes nem reconhecem
mais nossa casa, só espero que
a japonesa não cobre direitos
autorais", brinca Bento.
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