São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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Comentário/ "Caminho das Índias"

"Exotismo" de novela encontra limites sociais

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de falarem a mesma língua (o português), há outra impressionante identidade entre Brasil e Índia na nova novela das oito, "Caminho das Índias": o tamanho dos "palácios" das famílias ricas de ambos os países, com seus pés-direitos monumentais, suas muitas salas e antessalas, seus serviçais e familiares agregados.
Têm realmente uma escala "oriental" -reparem nas portas, na altura dos tetos- as residências da elite carioca, ali. É, no entanto, em torno das diferenças culturais que gira a dança de quadrilha dos conflitos amorosos da trama. O "tempero exótico", além da cafonice, é uma das marcas de sua autora, Glória Perez.
Dessa vez, há o jovem indiano que faz negócios no Brasil e ameaça desrespeitar um dos preceitos de sua cultura -o casamento arranjado- para poder se unir à amada brasileira. Isso porque, claro, ele ainda não conhece Juliana Paes, moça de grupo social superior e operadora de telemarketing que já se apaixonou por um integrante de casta "intocável" com doutorado nos Estados Unidos (Márcio Garcia).
Abundam os clichês de uma Índia ao mesmo tempo "globalizada" e tradicional, em que se ressaltam suas características rígidas e hierárquicas. Serve para que o Brasil apareça como representante da modernidade ocidental, antiga aspiração da ex-colônia periférica magicamente realizada por Perez.
Mas as oposições entre os dois países criam relações curiosas, talvez não propositais. Apresentados ambos como objeto de preconceito e ignorância, um certo paralelo surge entre os "intocáveis", na Índia, e os loucos -ou "usuários de saúde mental"- no Brasil. Não à toa, o principal personagem nesse último grupo é negro e pobre. A "naturalização" das diferenças, criticada na prática das castas, parece ressurgir, parcialmente, no "ocidente".
Quanto aos "palácios" da gente rica de toda parte, é verdade que eles são um fetiche constante do mundo das novelas. Mas, numa trama que procura dar tanta importância às diferenças, é curioso que seja justo nessa dimensão -digamos, socioeconômica- que apareçam as maiores semelhanças -e nada "ocidentais"- entre os dois países.
Creio que Márcio Garcia tinha em mente diferenças, e não semelhanças, quando comentou sobre a condição social de seu personagem: "Na Índia, direitos iguais não existem".



CAMINHOS DAS ÍNDIAS
Quando: seg. a sáb., às 21h10, na Rede Globo
Classificação: não indicada a menores de 12 anos



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