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Comentário/ "Caminho das Índias"
"Exotismo" de novela encontra limites sociais
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Além de falarem a mesma
língua (o português), há outra
impressionante identidade entre Brasil e Índia na nova novela das oito, "Caminho das Índias": o tamanho dos "palácios"
das famílias ricas de ambos os
países, com seus pés-direitos
monumentais, suas muitas salas e antessalas, seus serviçais e
familiares agregados.
Têm realmente uma escala
"oriental" -reparem nas portas, na altura dos tetos- as residências da elite carioca, ali.
É, no entanto, em torno das
diferenças culturais que gira a
dança de quadrilha dos conflitos amorosos da trama. O "tempero exótico", além da cafonice,
é uma das marcas de sua autora, Glória Perez.
Dessa vez, há o jovem indiano que faz negócios no Brasil e
ameaça desrespeitar um dos
preceitos de sua cultura -o casamento arranjado- para poder se unir à amada brasileira.
Isso porque, claro, ele ainda
não conhece Juliana Paes, moça de grupo social superior e
operadora de telemarketing
que já se apaixonou por um integrante de casta "intocável"
com doutorado nos Estados
Unidos (Márcio Garcia).
Abundam os clichês de uma
Índia ao mesmo tempo "globalizada" e tradicional, em que se
ressaltam suas características
rígidas e hierárquicas. Serve
para que o Brasil apareça como
representante da modernidade
ocidental, antiga aspiração da
ex-colônia periférica magicamente realizada por Perez.
Mas as oposições entre os
dois países criam relações curiosas, talvez não propositais.
Apresentados ambos como objeto de preconceito e ignorância, um certo paralelo surge entre os "intocáveis", na Índia, e
os loucos -ou "usuários de saúde mental"- no Brasil. Não à
toa, o principal personagem
nesse último grupo é negro e
pobre. A "naturalização" das diferenças, criticada na prática
das castas, parece ressurgir,
parcialmente, no "ocidente".
Quanto aos "palácios" da
gente rica de toda parte, é verdade que eles são um fetiche
constante do mundo das novelas. Mas, numa trama que procura dar tanta importância às
diferenças, é curioso que seja
justo nessa dimensão -digamos, socioeconômica- que
apareçam as maiores semelhanças -e nada "ocidentais"-
entre os dois países.
Creio que Márcio Garcia tinha em mente diferenças, e não
semelhanças, quando comentou sobre a condição social de
seu personagem: "Na Índia, direitos iguais não existem".
CAMINHOS DAS ÍNDIAS
Quando: seg. a sáb., às 21h10, na
Rede Globo
Classificação: não indicada a menores de 12 anos
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