São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/cinema/"Um Segredo em Família"

Narrada em quatro tempos, trama se dispersa

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O que melhor explica o segredo de que fala o título desse filme talvez seja uma sutil mudança de nomes: de Grinberg para Grimbert. Sutil, porém decisiva: o primeiro designa a origem judaica de seu usuário, o segundo é de uma família católica. Bem entendido, a família é a mesma. O que está em questão nessa história narrada em quatro tempos (décadas de 1930/40; 1955; começo dos anos 1960 e 1985) é, em linhas gerais, o antissemitismo francês (e europeu, mais genericamente) e sua ressonância sobre essa família.
No centro, François, sete anos em 1955, quando se descobre o filho fracote de uma mãe nadadora e de um pai ginasta. François, batizado no catolicismo, constrói para si um irmão imaginário, capaz de realizar aquilo com que sonha o pai. Esse garoto melancólico (em 1985, torna-se um terapeuta) ainda terá muito a descobrir a respeito de sua família e de si, a começar pelo fato de que esse irmão imaginário existiu efetivamente, chamava-se Simon e morreu na guerra, num campo de concentração com a mãe.
O filme de Claude Miller talvez tivesse bastante a ganhar caso pudesse tratar o tempo com idas e vindas menos barrocas, concentrando a ação em um número menor de épocas. Talvez ganhasse, ainda, se concentrasse a ação sobre um ou dois personagens no lugar de dispersá-la, já que temos (assim como o diretor do filme) de nos entender com François, com seus pais, Maxime e Tânia, com o irmão morto durante a guerra, Simon, e com a mãe deste, Hannah.
Sem contar a paixão que Maxime passa a sentir por Tânia no exato dia de seu casamento, a invasão da França pelos nazistas, as mazelas da colaboração cooperativa do governo do marechal Pétain com Hitler. Não se trata de um filme insignificante: transita por momentos trágicos da história do século passado, pela identidade francesa e também pela dos judeus franceses e, de certa forma, pela repercussão desses momentos sobre um grupo de pessoas (para enfatizar a dimensão desse problema, basta lembrar: Paris já teve -ou ainda tem?- um arcebispo de origem judaica). Como está é acessível aos franceses, que conhecem a questão (ou preferem ignorá-la, o que dá quase no mesmo) e, em todo caso, aos fãs de alguns atores implicados, entre os quais a bela Cécile de France e o ótimo Mathieu Amalric.


UM SEGREDO EM FAMÍLIA

Direção: Claude Miller
Produção: França/Alemanha, 2007
Com: Cécile de France, Mathieu Amalric e Patrick Bruel
Onde: Cinesc, Espaço Unibanco Augusta, Reserva Cultural e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular


Texto Anterior: Resumo das novelas
Próximo Texto: Luiz Felipe Pondé: O deus mau
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.