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Crítica/cinema/"Um Segredo em Família"
Narrada em quatro tempos, trama se dispersa
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O que melhor explica o
segredo de que fala o
título desse filme talvez seja uma sutil mudança de
nomes: de Grinberg para Grimbert. Sutil, porém decisiva: o
primeiro designa a origem judaica de seu usuário, o segundo
é de uma família católica. Bem
entendido, a família é a mesma.
O que está em questão nessa
história narrada em quatro
tempos (décadas de 1930/40;
1955; começo dos anos 1960 e
1985) é, em linhas gerais, o antissemitismo francês (e europeu, mais genericamente) e sua
ressonância sobre essa família.
No centro, François, sete
anos em 1955, quando se descobre o filho fracote de uma mãe
nadadora e de um pai ginasta.
François, batizado no catolicismo, constrói para si um irmão
imaginário, capaz de realizar
aquilo com que sonha o pai.
Esse garoto melancólico (em
1985, torna-se um terapeuta)
ainda terá muito a descobrir a
respeito de sua família e de si, a
começar pelo fato de que esse
irmão imaginário existiu efetivamente, chamava-se Simon e
morreu na guerra, num campo
de concentração com a mãe.
O filme de Claude Miller talvez tivesse bastante a ganhar
caso pudesse tratar o tempo
com idas e vindas menos barrocas, concentrando a ação em
um número menor de épocas.
Talvez ganhasse, ainda, se
concentrasse a ação sobre um
ou dois personagens no lugar
de dispersá-la, já que temos (assim como o diretor do filme) de
nos entender com François,
com seus pais, Maxime e Tânia,
com o irmão morto durante a
guerra, Simon, e com a mãe
deste, Hannah.
Sem contar a paixão que Maxime passa a sentir por Tânia
no exato dia de seu casamento,
a invasão da França pelos nazistas, as mazelas da colaboração cooperativa do governo do
marechal Pétain com Hitler.
Não se trata de um filme insignificante: transita por momentos trágicos da história do
século passado, pela identidade
francesa e também pela dos judeus franceses e, de certa forma, pela repercussão desses
momentos sobre um grupo de
pessoas (para enfatizar a dimensão desse problema, basta
lembrar: Paris já teve -ou ainda tem?- um arcebispo de origem judaica).
Como está é acessível aos
franceses, que conhecem a
questão (ou preferem ignorá-la, o que dá quase no mesmo) e,
em todo caso, aos fãs de alguns
atores implicados, entre os
quais a bela Cécile de France e
o ótimo Mathieu Amalric.
UM SEGREDO EM FAMÍLIA
Direção: Claude Miller
Produção: França/Alemanha, 2007
Com: Cécile de France, Mathieu Amalric
e Patrick Bruel
Onde: Cinesc, Espaço Unibanco Augusta, Reserva Cultural e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular
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