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CINEMA ESTRÉIA
"O Informante" traz Pacino falando de ética
KAREN DURBIN
do "The New York Times"
Ágil e compacto, Al Pacino praticamente salta de um lado a outro na cozinha de seu escritório,
no alto de um edifício do centro
de Manhattan. Estamos na Chal
Productions, empresa que abriu
com o professor de atores Charlie
Laughton, seu amigo e mentor.
Há homens trabalhando em todas canto, desde editores e produtores que trabalham nos projetos
de filmes independentes de Pacino até seu assistente pessoal de
longa data, passando pelo estudante de teatro que atua como recepcionista e assistente geral.
Al Pacino é conhecido por ser
avesso a entrevistas, mesmo ao tipo que não procura descobrir informações sobre sua vida privada
(namorada: a atriz Beverly D'Angelo; filha: Julie, 9 anos, a quem é
muito ligado). Desta vez, porém,
mostra-se caloroso e simpático.
Passa uma tarde toda conversando sobre seu trabalho, com prazer
evidente e eloquência em alguns
momentos comovente.
De tempos em tempos, Pacino
interrompe sua carreira no cinema para, em suas próprias palavras, "percorrer a corda bamba
do teatro". Representar, de todas
as formas, é a grande paixão de
sua vida, seu princípio organizador. Citando um trecho comovente de "Otelo", de Shakespeare,
ele compara sua descoberta do
trabalho de ator, 40 anos atrás, à
descoberta do amor: "Que a perdição tome conta de minha alma,
mas eu te amo. Quando não te
amo, o caos entra em mim".
Pelo telefone, entre risadas, Oliver Stone fala: "Al é uma pessoa
muito sensível. Ele possui uma
grande reserva de sentimento".
Pacino fez uso dela mais recentemente em dois filmes novos e importantes, quando representou
um jornalista de TV em "O Informante", de Michael Mann (que
estréia hoje no Brasil), e um envelhecido treinador de futebol americano que enfrenta um mundo
esportivo em transformação em
"Any Given Sunday", de Stone.
Diz Mann: "Alguns diretores
podem ver atores como uma chateação a ser suportada. Não é o
meu caso. Tenho um respeito
enorme pelo que eles fazem, é algo que exige coragem incrível. Estou falando dos grandes atores".
Ele está falando, especificamente, de Pacino, que, ao lado de Russell Crowe, estrela o polêmico
"thriller" criado por Mann sobre
o poder desenfreado das grandes
empresas, baseado em fatos reais.
Crowe faz o papel de Jeffrey Wigand, o diretor de pesquisas e desenvolvimento da Brown & Williamson Tobacco Corporation,
que se tornou delator após ser
despedido por ser contra a decisão da empresa de não procurar
maneiras de produzir cigarros
menos prejudiciais à saúde. Pacino representa Lowell Bergman, o
produtor do programa de TV "60
Minutes" que convenceu Wigand
a revelar o que sabia, concedendo
uma entrevista a Mike Wallace.
Quando a CBS ordenou que a
entrevista não fosse ao ar e a direção do "60 Minutes" obedeceu,
Bergman passou a fazer tudo para
restaurar a boa reputação de Wigand e fazer a entrevista vir à tona.
Algumas figuras discordam do
retrato que é feito delas no filme.
É o caso de Mike Wallace, que ganha uma imagem de certa covardia. Mann foi acusado de glorificar indevidamente a figura de Lowell Bergman, mas afirma que ele
e Pacino se esforçaram muito para não errar nesse sentido.
Na versão apresentada por Pacino, Bergman é contundente,
mas nada glamouroso. É um jornalista investigativo dotado da
agressividade típica dessa categoria, que se orgulha de ser o primeiro a descobrir os fatos e de
proteger suas fontes. Pacino pode
ser o astro maior do filme, mas ele
deixa a atenção voltar-se para o
personagem central da história, o
conflituoso Jeffrey Wigand.
O dom singular de Al Pacino
consiste em ser capaz de representar ambas as extremidades do
espectro com igual perfeição: os
perdedores e "homenzinhos" que
representa são tão convincentes e
cheios de nuanças quanto seus
personagens viris e grandiosos.
Quando pergunto sobre isso, sua
resposta denota não só modéstia,
mas até a idéia de que a pergunta
não faz sentido: "Você está falando de masculinidade? Homem
machão? Não faço idéia do que
quer dizer, mas tudo bem".
Em dado momento, falamos em
tom de brincadeira sobre o desaparecimento de sua timidez. Afinal, ele acaba de passar horas respondendo a perguntas com facilidade e franqueza.
Al Pacino me garante que sua timidez é inata e ainda está lá, em
algum lugar no fundo de sua psique. "Mas", pondera, "acho que
chega um momento em que você
tem de afirmar quem é e a que
veio. Não dá para fugir, para se esconder. Em última análise, tem de
dizer: "Estou aqui. Este sou eu"."
Tradução Clara Allain
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