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OUTRA FREQÜÊNCIA
Portadores de doenças mentais lançam programa na FM
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de portadores de
doenças mentais lançou na
semana passada um programa de
rádio. Produzido e apresentado
por pacientes do Centro de Atenção Psicossocial de Amparo
(Caps), vai ao ar pela Cultura FM
da cidade, no interior paulista.
Além de funcionar como terapia, discutirá temas como preconceito, fim dos manicômios e as
"neuroses da sociedade".
Duas outras experiências semelhantes inspiram essa iniciativa:
"Rádio Tan-Tan", criada na década de 80 em Santos (litoral de SP),
e o programa "Maluco Beleza",
veiculado atualmente pela Educativa de Campinas (interior).
Esse último tem tom irreverente
e trata tabus com humor. Quem
apresenta o programa, por exemplo, é chamado de "loucu-tor".
Santos e Campinas estão entre
os principais centros de discussão
sobre a reforma psiquiátrica no
Brasil, que aborda, entre outros
aspectos, o fim de sanatórios e de
antigos métodos de tratamento,
como o uso da camisa-de-força e
de choque elétrico.
Na estréia, o programa de Amparo -uma estância hidromineral turística, com 60 mil habitantes- buscou um nome. Os próprios participantes deram idéias e
pediram sugestões para moradores da cidade e colegas do "Maluco Beleza".
"Corpo São, Mente Feliz",
"Mental, Coisa e Tal", "Desconectados", "Voz do Povo", "Dentro
do Ar", "Loucos por Si", "Maré
Mental" foram cogitados. Venceu
"Papo Cabeça".
Com respaldo de profissionais
da saúde, de comunicação e educação, o programa tem produção
caprichada. As músicas dialogam
com os temas, há vinhetas marcando mudança de quadros.
Nos papéis de locutores, repórteres e entrevistados, os portadores de doenças mentais prendem
a atenção do ouvinte.
Falam sobre seu dia-a-dia, os
tratamentos, denunciam preconceitos, refletem sobre sua condição. "O que é ser normal ou louco
nessa loucura de sociedade em
que a gente vive?", questiona um
deles; "Vamos romper com o hospício que está na nossa mente",
convida outro.
Na estréia, criticaram a Guerra
do Iraque, falaram dos esportes,
do turismo e do Carnaval da região. E deixaram clara, logo de cara, a intenção de mostrar que
"portadores de doenças mentais
têm capacidade para exercer várias atividades".
"Papo Cabeça" irá ao ar mensalmente e está garantido durante
todo o ano de 2004 por um acordo
entre a prefeitura e a Petrobras.
Dos 12 participantes, cinco irão
receber uma bolsa mensal de
meio salário mínimo.
@ - laura@folhasp.com.br
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