São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OUTRA FREQÜÊNCIA

Portadores de doenças mentais lançam programa na FM

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de portadores de doenças mentais lançou na semana passada um programa de rádio. Produzido e apresentado por pacientes do Centro de Atenção Psicossocial de Amparo (Caps), vai ao ar pela Cultura FM da cidade, no interior paulista.
Além de funcionar como terapia, discutirá temas como preconceito, fim dos manicômios e as "neuroses da sociedade".
Duas outras experiências semelhantes inspiram essa iniciativa: "Rádio Tan-Tan", criada na década de 80 em Santos (litoral de SP), e o programa "Maluco Beleza", veiculado atualmente pela Educativa de Campinas (interior).
Esse último tem tom irreverente e trata tabus com humor. Quem apresenta o programa, por exemplo, é chamado de "loucu-tor".
Santos e Campinas estão entre os principais centros de discussão sobre a reforma psiquiátrica no Brasil, que aborda, entre outros aspectos, o fim de sanatórios e de antigos métodos de tratamento, como o uso da camisa-de-força e de choque elétrico.
Na estréia, o programa de Amparo -uma estância hidromineral turística, com 60 mil habitantes- buscou um nome. Os próprios participantes deram idéias e pediram sugestões para moradores da cidade e colegas do "Maluco Beleza".
"Corpo São, Mente Feliz", "Mental, Coisa e Tal", "Desconectados", "Voz do Povo", "Dentro do Ar", "Loucos por Si", "Maré Mental" foram cogitados. Venceu "Papo Cabeça".
Com respaldo de profissionais da saúde, de comunicação e educação, o programa tem produção caprichada. As músicas dialogam com os temas, há vinhetas marcando mudança de quadros.
Nos papéis de locutores, repórteres e entrevistados, os portadores de doenças mentais prendem a atenção do ouvinte.
Falam sobre seu dia-a-dia, os tratamentos, denunciam preconceitos, refletem sobre sua condição. "O que é ser normal ou louco nessa loucura de sociedade em que a gente vive?", questiona um deles; "Vamos romper com o hospício que está na nossa mente", convida outro.
Na estréia, criticaram a Guerra do Iraque, falaram dos esportes, do turismo e do Carnaval da região. E deixaram clara, logo de cara, a intenção de mostrar que "portadores de doenças mentais têm capacidade para exercer várias atividades".
"Papo Cabeça" irá ao ar mensalmente e está garantido durante todo o ano de 2004 por um acordo entre a prefeitura e a Petrobras. Dos 12 participantes, cinco irão receber uma bolsa mensal de meio salário mínimo.

@ - laura@folhasp.com.br


Texto Anterior: Mercado redescobre obras de Alan Moore
Próximo Texto: O umbigo do Asdrúbal
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.