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Arquitetos criticam projeto do Masp Vivo
Críticos veem "fisionomia empresarial" em reforma que elimina fachada original
Após veto de projeto original, com megatorre, desenho é adaptado, tem aprovação nas esferas estadual e municipal e passa por crivo da Lei Rouanet
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é certo ainda que o Masp
Vivo terá essa casca de vidro como prevê o projeto aprovado e
obtido pela Folha. No estágio
inicial das obras, também fica
difícil saber como será a cara final do anexo do museu, mas os
croquis da reforma, com a extensão de pé-direito triplo no
topo da laje original, já despertam críticas dos arquitetos.
Feito por Julio Neves, arquiteto que ficou 14 anos no comando do Masp, o projeto foi
adaptado e conseguiu a aprovação dos órgãos de preservação
do patrimônio histórico nas esferas estadual e municipal.
Embora não seja tombado, o
Dumont-Adams precisa de aval
público para passar por reformas porque fica no entorno de
um bem protegido, no caso, o
edifício modernista desenhado
por Lina Bo Bardi nos anos 60.
Na tentativa de evitar a descaracterização da região, o projeto inicial, com a torre gigantesca, foi vetado pelo município e um novo desenho só foi
aprovado em 2007. Mas arquitetos ouvidos pela Folha não
veem melhoras na versão que
começa a sair do papel agora.
"É uma pena que o Masp,
que já teve duas sedes vanguardistas projetadas por Lina Bo
Bardi, tenha de se contentar
com essa arquitetura de fisionomia empresarial", diz Renato Anelli, conselheiro do Instituto Bardi, que cuida do espólio
da arquiteta. "Vai na contramão do que ocorre com projetos de museu do mundo todo."
Gesto desesperado
Embora não veja como "má
ideia" a construção de uma torre com mirante ao lado do museu, o crítico de arquitetura
Guilherme Wisnik vê problemas nos motivos por trás da
obra, que considera um "gesto
desesperado de "salvar" um museu que ficou decadente, enfatizando seu lado comercial".
"É evidente que o museu se
depauperou, se descaracterizou e perdeu prestígio e representatividade", diz Wisnik.
"Quer dizer então que uma
obra como essa não viria no
sentido de coroar um processo
de crescimento do museu, como nos casos do Louvre, MoMA, da Tate e do Reina Sofía."
Críticos também apontam a
contradição da reforma numa
cidade como São Paulo, afeita à
construção de neoclássicos.
Exemplo desse estilo arquitetônico, o Dumont-Adams, em
vez de preservado será recoberto por uma capa de "arquitetura corporativista", nas palavras
do arquiteto Paulus Magnus.
Ponto central da discórdia,
essa fachada de vidro, que deve
custar R$ 3,5 milhões, mas que
também pode ser substituída
por uma versão mais modesta,
levanta outra polêmica.
Na opinião do arquiteto Álvaro Puntoni, professor da
FAU-USP, o anexo em forma de
torre envidraçada arrisca ofuscar o prédio horizontal de Lina
Bo Bardi. "Acho que o edifício
atual deveria ser preservado",
diz Puntoni. "O receio é que parece que o anexo compete com
o Masp, em vez de construir
uma relação serena."
Mas como tudo pode na Paulista, uma avenida longe da harmonia almejada por arquitetos,
há quem prefira não criticar. "É
antiético dizer que o projeto é
ruim", diz o arquiteto Carlos
Lemos. "Se tudo fosse térreo,
seria questionável, mas não é. A
Paulista tem dessas coisas."
(SILAS MARTÍ)
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