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FRANÇA
Bernard Teyssedre conta a saga de ``L'Origine du Monde''
Livro sobre saga de quadro
de Gustave Courbet é lançado
RAUL MOREIRA
especial para a Folha, em Milão
Um livro contando a saga do
quadro mais escandaloso da história, "L'Origine du Monde", pintado pelo francês Gustave Courbet, em 1886, acaba de ser lançado
na França.
"Le Roman de L'Origine" (Gallimard, 450 págs., 150FF), do historiador e crítico de arte Bernard
Teyssedre, aborda, nos mínimos
detalhes, os 124 anos de rocambolescas aventuras e os desdobramentos críticos e morais de uma
obra que ainda hoje desperta polêmica no mundo das artes.
Dos mil modos como foi visto
aos caminhos que percorreu
-passou pelas mãos de húngaros,
nazistas, russos e do psicanalista
Jacques Lacan-, até restar no
Museu de Arte Moderna D'Orsay,
em Paris, em 95, a trajetória do
quadro de Courbet acabou transformando-se em um livro agradável pelas surpresas da reconstituição histórica.
A começar pelo fato de que o
quadro saiu do atelier do célebre
Courbet sem título.
O título definitivo -já havia sido
chamado de "Tableau X"- foi
dado por um dos seus primeiros
donos, um barítono francês.
Segundo Teyssedre, o quadro de
Courbet causou tanto espanto entre os críticos de arte do final do
século 19 que muitos foram incapazes de definir o seu enigma.
O francês Edmound de Goncourt se disse embaraçado e escreveu: "Diante desta tela que eu jamais havia visto, devo parabenizar
Courbet: esse ventre é belo como
um nu de Correggio", observação
que acabou sendo vetada pelos donos do jornal em que trabalhava.
Um outro crítico conhecido da
época, o escritor Maxime du
Camp, amigo de Gustave Flaubert,
fez um ataque direto ao quadro:
"Uma mulher em tamanho natural, extraordinariamente pintada,
mas com um inconcebível esquecimento do resto do corpo".
Bernard Teyssedre faz também
no seu livro uma observação histórica a respeito dos quadros que exploravam o nu feminino na época.
Segundo ele, em 1865, Edouard
Manet havia apresentado no salão
de Paris o seu "L'Olympia", pintura que também foi considerada
escandalosa, mas em que o espectador conseguia manter a distância do "sexo" feminino.
A diferença de "L'Origine du
Monde", diz Teyssedre, é que a
pintura conseguiu quebrar esse invisível confim que separa a obra da
realidade.
Vetado às exposições, o quadro
caiu no esquecimento e foi parar
na Hungria, onde em 1944 os alemães o tomaram como prêmio de
guerra. Um ano depois, em fevereiro de 45, Budapeste foi invadida
pela brigada russa. O quadro passou pelas mãos dos embaraçados
oficiais russos, que, influenciados
pelo realismo socialista, acabaram
devolvendo-o ao antigo dono.
Em 1949, "L'Origine du Monde" voltou à França, onde ninguém teve coragem de mostrá-lo.
Reservadamente, foi adquirido
pelo psicanalista Jacques Lacan.
Começa a fase mais divertida do livro, em que o autor descreve as indecisões e as variações reticulares
da relação entre o quadro e o observador.
Lacan, diz Teyssedre, era um
professor desse grande "nada".
Olhava constantemente o quadro,
buscando os seus segredos, interrogando-se, num diálogo silencioso que durou 26 anos, até a sua
morte, em 1981.
Por um longo período depois da
morte do psicanalista, o quadro
desapareceu. Em 91, surgiu no
museu de Orans, onde ficou quatro anos. Em 95, com a presença do
ministro da Cultura da França, ganhou o seu posto definitivo no
Museu D'Orsay, onde pela primeira vez o público pôde ver o quadro
mais escandaloso do mundo.
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