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ACADEMIA
O geógrafo e ambientalista paulista recebeu anteontem o título da Universidade de São Paulo
Ab'Saber vira emérito ao som de Chico
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
Teve forte cunho político a cerimônia em que o geógrafo e ambientalista paulista Aziz Ab'Saber
recebeu o título de professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da USP, anteontem à
tarde, no salão nobre da FFLCH.
Aposentado desde 1982, o professor honorário do IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP
defendeu um "socialismo democrático e humano" para uma platéia formada por convidados ilustres, como o intelectual Antonio
Candido e o presidente de honra
do Partido dos Trabalhadores,
Luiz Inácio Lula da Silva.
Autor do livro "Amazônia: Da
Teoria à Práxis" (Edusp), ganhador do Prêmio Jabuti em 97, e um
dos presidentes de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ab'Saber
foi definido pelo reitor da universidade, Jacques Marcovitch, como o "geomorfologista brasileiro
mais respeitado em todo mundo".
No ano passado, conquistou, na
categoria Ciências da Terra, o Prêmio Almirante Álvaro Alberto
para Ciência e Tecnologia, concedido pelo Ministério de Ciência e
Tecnologia, no valor de US$ 30
mil.
Pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária da USP e professor titular do departamento de
geografia, Adilson Avansi de
Abreu destacou o papel de Ab'Saber na mudança dos paradigmas
científicos de apoio da geomorfologia, bem como o pioneirismo
em novas metodologias, como o
uso de fotografias aéreas.
Abreu lembrou ainda a passagem do vencedor do Prêmio Moinho Santista em 98 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado
de São Paulo), à frente do qual teve forte participação no tombamento de regiões naturais.
Ab'Saber entrou na sala ao som
de "Levantados do Chão", canção
de Chico Buarque e Milton Nascimento. As paredes do prédio estavam decoradas com "Movimento
dos Sem-Terra", exposição do fotógrafo Sebastião Salgado.
"Não me presto muito a homenagens, porque sou um chorão",
afirmou, passando em seguida a
defender a universidade pública,
"não por causa corporativa, mas
por causa de consciência".
Lembrando com carinho antigos mestres, como Roger Bastide,
Ab'Saber disse que seu interesse
inicial era ser historiador e que teria desistido não apenas devido às
difíceis condições econômicas do
período (Segunda Guerra Mundial), mas também por gostar das
excursões de campo propiciadas
pelo estudo da geografia.
Em um discurso forte e emocionado, não poupou as privatizações ("não valeram nada, pois
seus recursos não foram utilizados para a dinamização econômica e cultural da sociedade brasileira"), a globalização ("que destrói
e desindustrializa, é uma colonização de enquadramento financeiro e econômico") e as elites do
Terceiro Mundo ("são ruins, especialmente nesta cidade e neste
Estado, pois nunca se preocuparam com os problemas do país,
com a desigualdade social").
Disse, contudo, não ser político,
nem ligado a partidos: "O cientista tem de estar longe dos problemas partidários, étnicos e religiosos".
No trecho mais aplaudido, criticou a metodologia de medição de
preços da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), cujos índices "não combinam com o
que eu verifico como comprador
de supermercado e de feira".
Ab'Saber aproveitou para defender a transformação do Código Florestal em um código de biodiversidade, porque "o Brasil não
é só floresta". Tal código deveria
merecer um gerenciamento particular, longe da "incompetência,
frieza e insensibilidade da burocracia de Brasília".
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