São Paulo, sábado, 25 de março de 2000


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ENTREVISTA - "QUERO SER JOHN MALKOVICH"
Pagaria pelo papel, diz Cusack

MILLY LACOMBE
especial para a Folha em Los Angeles

Não foi a invasão do corpo de John Malkovich, nem ter de contracenar com um macaco, tampouco ver Cameron Diaz morena com o cabelo arrepiado; para John Cusack, o Craig Schwartz de"Quero Ser John Malkovich", o mais inconcebível foi o filme ter sido financiado em Hollywood.
Em recente entrevista à Folha, num hotel em Beverly Hills, o ator confessou que quando leu o roteiro teve certeza de que ele jamais sairia do papel.
"Era a história mais absurdamente sensacional que eu já tinha lido, mas esse tipo de paradoxo surreal e bizarro normalmente não encontra financiamento."
Depois de ler apenas 40 páginas do script, Cusack ligou para seu agente e disse que se um dia, por alguma razão que ele não conseguia ali conceber, aquele filme saísse do papel, ele faria questão de participar. "Eu disse que pagaria para trabalhar. E podem acreditar: se fosse preciso, teria pago." Não foi preciso. Para surpresa do ator, o filme conseguiu levantar US$ 12 milhões e ser rodado.
Cusack, 32, filho de uma professora e de um escritor, nasceu em Chicago e desde cedo começou a atuar. Porque sua educação foi, de certa forma, alternativa para os padrões americanos (seu pai o encorajava a questionar a autoridade e o sistema), ele trouxe para a vida adulta uma avaliação mais criteriosa da escolha dos papéis que interpreta.
Talvez por isso Cusack seja mais conhecido pelos filmes que recusou ("Proposta Indecente", "Dormindo com o Inimigo" e "Apollo 13") do que pelos que ele fez (como "Os Imorais" e "Além da Linha Vermelha").
Mas é exatamente esse lado mais político que faz de John Cusack escolha certa para filmes como "Malkovich". Interpretar Craig -um marionetista desempregado que mora com sua mulher e vários animais num apartamento em Nova York e que, ao encontrar trabalho como arquivista no sétimo e meio andar de um prédio, concebido originalmente para anões, descobre um portal para a cabeça do ator John Malkovich, desencadeando assim uma série de acontecimentos tão ou mais absurdos (impossível encontrar descrição coerente para um filme tão cheio de esquisitices)- caiu como uma luva.
""Malkovich" é o roteiro mais improvável que já vi, um filme cheio de sutis genialidades; absolutamente fantástico", disse o ator.
Mas Cusack diz que a idéia de concretizar o filme continuou a ser irreal mesmo nas filmagens.
"Não entrava na minha cabeça em que circunstâncias Hollywood ia nos deixar sair ilesos com um filme em que quase todas as linhas ironizam a indústria. Todos os dias eu tinha certeza de que alguma autoridade ia entrar no estúdio e dizer: "Já chega, vamos acabar com essa palhaçada, todos fora daqui agora'".
Não aconteceu. E o filme ainda conseguiu três indicações para o Oscar (roteiro, de Charlie Kaufman; atriz coadjuvante, para Catherine Keener, e diretor, Spike Jonze). Quando questionado se achava que "Quero Ser John Malkovich" tinha alguma chance de arrecadar uma estatueta no próximo domingo, Cusack riu. "Depois que esse filme saiu do papel, tudo é possível", emendou.


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