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"MÃE CORAGEM E SEUS FILHOS"
Espetáculo é despojado e divertido sem cair no deboche
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Dizia Brecht : o teatro deve
divertir. A afirmação parece
um contra-senso vinda do grande
mentor do teatro político, que se
propõe instrumento de análise
das injustiças do mundo. Mas
Brecht buscava se precaver contra
o tédio das peças sentenciosas, do
dogma ensinado às massas, por
meio de uma irreverência estratégica para deixar o público à vontade. O importante em seu teatro
é instigar, não converter.
O diretor Sérgio Ferrara soube
fazer uma "Mãe Coragem e Seus
Filhos" divertida e tocante, sem
querer grandes achados, sem roubar focos de um grande elenco,
mas sem deixá-lo descambar para
o deboche.
Chega assim a uma fábula livre
de referências históricas, bastando as legendas projetadas para situar o público. O mesmo despojamento está presente nos cenários
de Serrone, cortinas que abrem e
fecham quando morrem os filhos,
que eficazmente contribuem para
a dinâmica do espetáculo, sugerindo um melodrama de teatro
ambulante sem cair no miserabilismo naturalista.
Cúmplices em uma mesma fé
no taco, o elenco reveza a ribalta
abrindo a voz e se expondo ao público. Pertencem, no entanto, a
etapas diversas da carreira. Há a
geração dos que se lançam agora,
sem se intimidar com o falso respeito de "fazer Brecht" para melhor trilhar as sutilezas da partitura, aprendendo a ganhar os calos
da estrada. A ela pertence Jiddú
Neves, com tipo físico e inteligência ideais para fazer a filha muda
de "Mãe Coragem". Há a geração
que colhe os louros da carreira:
José Rubens Chachá põe o público no bolso na primeira cena e só
o solta para passá-lo para Chirolli,
Caribé ou Mariana Muniz. E há a
terceira etapa, privilégio de poucos, como Maria Alice Vergueiro.
Maria Alice não faz teatro: ela é
teatro. Basta a ela estar no palco,
falar com voz serena, e ficamos
cúmplices de "Mãe Coragem",
com todas as suas contradições à
mostra. Fluem generosos a dor e o
deboche, a sensualidade e o maquiavelismo. E, quando é preciso
cantar, solta a voz com uma agilidade que coloca cacos nas partituras mais difíceis. "Mãe Coragem"
é um momento histórico do teatro brasileiro.
Avaliação:
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