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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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OSCAR 2003

Vitória do diretor franco-polonês banido dos Estados Unidos causa espanto e arranca aplausos

Sem convite, Polanski invade festa de "Chicago"


Vitória de "Chicago" interrompe jejum do gênero desde 1968; Academia ignora "Gangues de Nova York" e reabilita Polanski


Oscar da guerra premia musical americano

France Presse
Para conter o choro, Nicole Kidman dá as costas à platéia, ao agradecer o Oscar de atriz


DA REPORTAGEM LOCAL

Em tempos de guerra, o Oscar reassumiu a lógica dos vencedores e vencidos.
Os atores Kirk Douglas e Michael Douglas (pai e filho) sobem ao palco para anunciar o melhor filme. Com o envelope nas mãos, Kirk se demora num suspense. Michael provoca: "Você supostamente deveria dizer: "O Oscar vai para...'". Kirk desobedece: "Não. O vencedor é "Chicago"."
Cai por terra a fórmula de anúncio politicamente correta, adotada há anos, na tentativa de desconhecer que existem derrotados na competição.
Está declarado o triunfo de "Chicago" e, com ele, a revalorização do gênero musical, considerado pelos norte-americanos expressão típica de sua excelência e ausente do prêmio de melhor filme no Oscar desde 68 ("Oliver").
Dirigido por Rob Marshall e estrelado por Renée Zellweger e Catherine Zeta-Jones (nora de Kirk Douglas, grávida de um filho de Michael), "Chicago" recebeu seis estatuetas, das 13 a que foi indicado -montagem, direção de arte, figurino, som e atriz coadjuvante (Zeta-Jones), além de filme.
"Gangues de Nova York", de Martin Scorsese, foi o grande derrotado da noite -nenhuma vitória, em dez indicações. A Academia ignorou o épico sobre a gênese de Nova York no qual a Miramax gastou mais de US$ 100 milhões e quase um ano de disputa com o cineasta pelo corte final do filme. A câmera buscou Scorsese na platéia do Oscar diversas vezes. O diretor estava impassível.
Ao manter a cerimônia mesmo quando os Estados Unidos estão em guerra contra o Iraque, Frank Pierson, presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, disse que era "especialmente importante seguir com um evento cultural como o Oscar, num tempo em que os valores americanos são questionados ao redor do mundo".
A vitória do franco-polonês Roman Polanski como melhor diretor (por "O Pianista") teve caráter de surpresa histórica. Polanski não foi à cerimônia porque pode ser preso se entrar nos EUA. Ele deixou o país em 78, acusado de estuprar uma garota de 13 anos.
Poucos dias antes da entrega do Oscar, Samantha Geimer, a suposta vítima, reiterou à imprensa que havia feito sexo não consentido com o diretor, mas disse que os acadêmicos deveriam votar no filme que julgassem merecedor.
O fato de a França ser o mais relevante opositor dos Estados Unidos em sua decisão de atacar o Iraque completa o pano de fundo geopolítico da decisão.
"O Pianista" venceu também roteiro adaptado e ator (Adrien Brody, 29, que se tornou o mais jovem vencedor da categoria).
O cineasta polonês Krzystof Zanmussi disse que o fato de "O Pianista" tratar do extermínio de poloneses e judeus e relacionar isso com a realidade atual, definitivamente, influenciou o grande reconhecimento que o filme teve".
O melhor filme estrangeiro -"Ningendwo in Afrika" (Em Nenhum Lugar na África), de Caroline Link- é sobre a vida de uma família judia na África, pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Segundo a crítica internacional, o filme escorrega no conservadorismo ao abordar a questão racial e o colonialismo.
O melhor documentário foi o antiarmamentista "Jogando Boliche por Columbine", de Michael Moore. E o rapper Eminem derrotou os pacifistas do U2 na categoria melhor canção.
Hollywood voltou a dividir o mundo entre os que ganham e os que perdem, mas não sem surpresas no resultado final.

Com agências internacionais


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