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Comediante diz ter 35 roteiros prontos
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1996, no papel do pai da
personagem-título de "Tieta",
de Cacá Diegues, Chico Anysio
pôs fim a um longo inverno cinematográfico: haviam passado 25 anos desde a estréia da
comédia erótica "O Doce Esporte do Sexo". Antes, ele havia
participado de chanchadas como "Mulheres à Vista" e "Cacareco Vem Aí".
Mas a volta aos sets parou
por aí -segundo ele, por falta
de convites. A autoconfiança
exacerbada (assumida no documentário "Chico Anysio É", em
que diz: "Sempre acabo fazendo o que quero") não seria a razão da escassez de propostas?
"O meu esporte favorito é fazer
o diretor mudar de idéia a meu
respeito", brinca, para logo tergiversar e "vender seu peixe".
"Não chego atrasado, sei as minhas falas, obedeço ao que o diretor manda. Olha, é difícil
achar um profissional melhor
do que eu."
Preterido como ator, decidiu
se concentrar nos roteiros. Calcula ter 35 (?) "prontinhos, que
são minha herança para meus
filhos". Boa parte dos scripts é
em inglês -algo que faz sentido
para quem já chegou a dizer
que não adiantava criar histórias em português porque, no
Brasil, só se filmavam adaptações de Nelson Rodrigues e
Jorge Amado. Hoje, abranda o
discurso. "Foi uma frase. Sempre deu [para fazer filme aqui],
desde que houvesse boa vontade, empenho", afirma ele, citando Walter Salles e Breno Silveira como bons diretores nacionais.
Burt Reynolds
Mas, afinal, algum roteiro foi
filmado? "Eu tinha um agente
na América, o Arthur, que morreu. Antes, me telefonou, de
Los Angeles, dizendo que tinha
entregue três roteiros, "A Viúva", "Caminhão do Lixo" e "O
Frade". Sei que um foi dado à
Sally Field e outro, ao Michael
J. Fox", explica.
De acordo com Anysio, "O
Frade" seria filmado pelo Hugh
Hudson, diretor de "Carruagens de Fogo", filme vencedor
de quatro Oscars em 1981. Mas
o cineasta desistiu. "O Burt
Reynolds interpretaria o papel
principal. Era filme para ganhar Oscar, pois quem lê acha
maravilhosa a história de um
frade que vai parar em uma colônia de pescadores depois que
o navio dele naufraga, no norte
da Irlanda", conta o humorista,
com inflexões hiperbólicas.
Anysio, no entanto, tem uma
alternativa brasileira em mente. "Mandei o roteiro para o Daniel Filho, para ver se ele filma
lá [nos EUA] e se arrisca a ser
indicado para um Oscar."
Deixando momentaneamente de lado a fixação na estatueta
dourada, o comediante elege a
chanchada como a linguagem
cinematográfica brasileira por
definição. "Se você fizer uma
chanchada com os recursos de
hoje, arrebenta", especula.
Mas não se arrisca a ressuscitar o gênero. "Não tenho quem
vá filmar, não sei para quem
mostrar." Talvez para Daniel
Filho? "Não sei, não sei. Está
difícil chegar ao Daniel. Ele tem
muito o que fazer", desconversa Anysio.
Enquanto o frade irlandês
não ganha a tela grande, Anysio
roda o Brasil com os shows de
humor "Eu Conto, Vocês Cantam" e "Chico.Tom" (com Tom
Cavalcante). E acalenta o projeto de um programa dominical, o "Papo Furado", em que
seria um contador de histórias.
(LUCAS NEVES)
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