São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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Comediante diz ter 35 roteiros prontos

DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1996, no papel do pai da personagem-título de "Tieta", de Cacá Diegues, Chico Anysio pôs fim a um longo inverno cinematográfico: haviam passado 25 anos desde a estréia da comédia erótica "O Doce Esporte do Sexo". Antes, ele havia participado de chanchadas como "Mulheres à Vista" e "Cacareco Vem Aí".
Mas a volta aos sets parou por aí -segundo ele, por falta de convites. A autoconfiança exacerbada (assumida no documentário "Chico Anysio É", em que diz: "Sempre acabo fazendo o que quero") não seria a razão da escassez de propostas? "O meu esporte favorito é fazer o diretor mudar de idéia a meu respeito", brinca, para logo tergiversar e "vender seu peixe". "Não chego atrasado, sei as minhas falas, obedeço ao que o diretor manda. Olha, é difícil achar um profissional melhor do que eu."
Preterido como ator, decidiu se concentrar nos roteiros. Calcula ter 35 (?) "prontinhos, que são minha herança para meus filhos". Boa parte dos scripts é em inglês -algo que faz sentido para quem já chegou a dizer que não adiantava criar histórias em português porque, no Brasil, só se filmavam adaptações de Nelson Rodrigues e Jorge Amado. Hoje, abranda o discurso. "Foi uma frase. Sempre deu [para fazer filme aqui], desde que houvesse boa vontade, empenho", afirma ele, citando Walter Salles e Breno Silveira como bons diretores nacionais.

Burt Reynolds
Mas, afinal, algum roteiro foi filmado? "Eu tinha um agente na América, o Arthur, que morreu. Antes, me telefonou, de Los Angeles, dizendo que tinha entregue três roteiros, "A Viúva", "Caminhão do Lixo" e "O Frade". Sei que um foi dado à Sally Field e outro, ao Michael J. Fox", explica.
De acordo com Anysio, "O Frade" seria filmado pelo Hugh Hudson, diretor de "Carruagens de Fogo", filme vencedor de quatro Oscars em 1981. Mas o cineasta desistiu. "O Burt Reynolds interpretaria o papel principal. Era filme para ganhar Oscar, pois quem lê acha maravilhosa a história de um frade que vai parar em uma colônia de pescadores depois que o navio dele naufraga, no norte da Irlanda", conta o humorista, com inflexões hiperbólicas.
Anysio, no entanto, tem uma alternativa brasileira em mente. "Mandei o roteiro para o Daniel Filho, para ver se ele filma lá [nos EUA] e se arrisca a ser indicado para um Oscar."
Deixando momentaneamente de lado a fixação na estatueta dourada, o comediante elege a chanchada como a linguagem cinematográfica brasileira por definição. "Se você fizer uma chanchada com os recursos de hoje, arrebenta", especula.
Mas não se arrisca a ressuscitar o gênero. "Não tenho quem vá filmar, não sei para quem mostrar." Talvez para Daniel Filho? "Não sei, não sei. Está difícil chegar ao Daniel. Ele tem muito o que fazer", desconversa Anysio.
Enquanto o frade irlandês não ganha a tela grande, Anysio roda o Brasil com os shows de humor "Eu Conto, Vocês Cantam" e "Chico.Tom" (com Tom Cavalcante). E acalenta o projeto de um programa dominical, o "Papo Furado", em que seria um contador de histórias. (LUCAS NEVES)


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