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Em meio a crise, "Paraíso Tropical" vive seu "dia D"
Globo reúne amanhã grupo de telespectadores para entender a baixa audiência
Novela das oito teve a pior estréia no Ibope da década; história, personagens e até a abertura podem mudar a fim de conquistar o público
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Globo reúne amanhã e terça-feira, em São Paulo, um grupo de telespectadores a fim de
descobrir o que levou "Paraíso
Tropical" a registrar a pior estréia no Ibope desta década.
Esta será uma semana-chave
para a novela das oito, que entrou no ar há 15 dias. Além da
pesquisa com o chamado "grupo de discussão", a Globo espera que a gêmea má, vilã interpretada por Alessandra Negrini, alavanque a audiência.
A personagem apareceu pela
primeira vez na última quarta-feira, e o capítulo marcou 40
pontos de média. Foi um alívio
para uma trama que chegou a
amargar 30 em um dos episódios da primeira semana e ficou
abaixo até do ibope da novela
das seis, "O Profeta".
Taís, a gêmea má, deve movimentar a história, no início
concentrada na gêmea boa,
Paula. Vilãs costumam ser mais
interessantes do que mocinhas,
ainda mais quando a intérprete
das duas é Alessandra Negrini.
A pesquisa com o grupo de
espectadores será acompanhada pelo diretor da novela, Dennis Carvalho, e Ricardo Linhares, um dos autores. O outro,
Gilberto Braga, permanece no
Rio escrevendo os capítulos.
Espera-se que o encontro
aponte os principais motivos
dessa rejeição à trama. Assim
que houver um diagnóstico, os
autores e diretor deverão iniciar as mudanças na tentativa
de atender a expectativa do público. Além de ajustar personagens e a própria história, é possível que haja até mudanças na
abertura da novela, como aconteceu em "América" (2005).
Glória Perez trocou uma música composta por Marcus Vianna por "Soy Loco por Ti, América", na voz de Ivete Sangalo.
Uma das hipóteses cogitadas
na Globo é a de que o espectador teve uma impressão de déjà
vu com a abertura de "Paraíso
Tropical". A música, "Sábado
em Copacabana", com Maria
Bethânia, e as imagens do Rio
lembrariam "Mulheres Apaixonadas", que terminou arrastada e com desgaste no Ibope.
Ousadia perigosa
Tony Ramos, que faz o empresário canalha Antenor Cavalcanti, diz que "o perigo mora
em certos temas ousados, que
muitas vezes podem assustar o
público". Ele se refere à prostituição e ao turismo sexual, que
deram a tônica dos primeiros
capítulos e, na opinião do ator e
de outros globais, podem ter
afugentado o espectador.
Gilberto Braga espera que a
entrada de Taís deixe claro que
"Paraíso Tropical" não é centrada nesses tópicos mais "pesados" e sim nas gêmeas, a boa e
a má, separadas na infância.
Já a escritora e pesquisadora
da USP Renata Pallotini (autora de "O que É Dramaturgia")
aposta que foi justamente por
essa história que as pessoas não
se sentiram atraídas. "O argumento das gêmeas boa e má separadas na infância é muito antigo, batido. É estranho que Gilberto [Braga] tenha optado por
essa solução dramatúrgica."
Além disso, Pallotini acredita
em erro na escalação do elenco.
"Alessandra Negrini e Fábio
Assunção [intérpretes do casal
romântico] não deram aquela
"faísca", não houve "química"."
Para Braga, "fica difícil dar
respostas em cima de suposições". "Já ouvimos muitas justificativas para o fato da audiência não estar alta, mas a
verdade é que ninguém sabe dizer o que o público está pensando. Não existe uma fórmula do
sucesso, caso contrário, qualquer um poderia escrever novelas. Entender a reação do público sempre foi uma incógnita", afirma. Na opinião do novelista, é preciso esperar o grupo
de discussão para "entender o
que se passa na cabeça dos telespectadores".
Apesar do começo trágico, a
Globo aposta em recuperação.
A professora da USP também.
"Os recursos da emissora e dos
autores são grandes, e muita
novela que parecia condenada
se recuperou. Isso deverá acontecer também com "Paraíso"."
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