São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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Em meio a crise, "Paraíso Tropical" vive seu "dia D"

Globo reúne amanhã grupo de telespectadores para entender a baixa audiência

Novela das oito teve a pior estréia no Ibope da década; história, personagens e até a abertura podem mudar a fim de conquistar o público

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Globo reúne amanhã e terça-feira, em São Paulo, um grupo de telespectadores a fim de descobrir o que levou "Paraíso Tropical" a registrar a pior estréia no Ibope desta década.
Esta será uma semana-chave para a novela das oito, que entrou no ar há 15 dias. Além da pesquisa com o chamado "grupo de discussão", a Globo espera que a gêmea má, vilã interpretada por Alessandra Negrini, alavanque a audiência.
A personagem apareceu pela primeira vez na última quarta-feira, e o capítulo marcou 40 pontos de média. Foi um alívio para uma trama que chegou a amargar 30 em um dos episódios da primeira semana e ficou abaixo até do ibope da novela das seis, "O Profeta".
Taís, a gêmea má, deve movimentar a história, no início concentrada na gêmea boa, Paula. Vilãs costumam ser mais interessantes do que mocinhas, ainda mais quando a intérprete das duas é Alessandra Negrini.
A pesquisa com o grupo de espectadores será acompanhada pelo diretor da novela, Dennis Carvalho, e Ricardo Linhares, um dos autores. O outro, Gilberto Braga, permanece no Rio escrevendo os capítulos.
Espera-se que o encontro aponte os principais motivos dessa rejeição à trama. Assim que houver um diagnóstico, os autores e diretor deverão iniciar as mudanças na tentativa de atender a expectativa do público. Além de ajustar personagens e a própria história, é possível que haja até mudanças na abertura da novela, como aconteceu em "América" (2005). Glória Perez trocou uma música composta por Marcus Vianna por "Soy Loco por Ti, América", na voz de Ivete Sangalo.
Uma das hipóteses cogitadas na Globo é a de que o espectador teve uma impressão de déjà vu com a abertura de "Paraíso Tropical". A música, "Sábado em Copacabana", com Maria Bethânia, e as imagens do Rio lembrariam "Mulheres Apaixonadas", que terminou arrastada e com desgaste no Ibope.

Ousadia perigosa
Tony Ramos, que faz o empresário canalha Antenor Cavalcanti, diz que "o perigo mora em certos temas ousados, que muitas vezes podem assustar o público". Ele se refere à prostituição e ao turismo sexual, que deram a tônica dos primeiros capítulos e, na opinião do ator e de outros globais, podem ter afugentado o espectador.
Gilberto Braga espera que a entrada de Taís deixe claro que "Paraíso Tropical" não é centrada nesses tópicos mais "pesados" e sim nas gêmeas, a boa e a má, separadas na infância.
Já a escritora e pesquisadora da USP Renata Pallotini (autora de "O que É Dramaturgia") aposta que foi justamente por essa história que as pessoas não se sentiram atraídas. "O argumento das gêmeas boa e má separadas na infância é muito antigo, batido. É estranho que Gilberto [Braga] tenha optado por essa solução dramatúrgica."
Além disso, Pallotini acredita em erro na escalação do elenco. "Alessandra Negrini e Fábio Assunção [intérpretes do casal romântico] não deram aquela "faísca", não houve "química"."
Para Braga, "fica difícil dar respostas em cima de suposições". "Já ouvimos muitas justificativas para o fato da audiência não estar alta, mas a verdade é que ninguém sabe dizer o que o público está pensando. Não existe uma fórmula do sucesso, caso contrário, qualquer um poderia escrever novelas. Entender a reação do público sempre foi uma incógnita", afirma. Na opinião do novelista, é preciso esperar o grupo de discussão para "entender o que se passa na cabeça dos telespectadores".
Apesar do começo trágico, a Globo aposta em recuperação. A professora da USP também. "Os recursos da emissora e dos autores são grandes, e muita novela que parecia condenada se recuperou. Isso deverá acontecer também com "Paraíso"."


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