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Paris expõe a cultura da mestiçagem
Museu francês Quai Branly apresenta trabalhos resultantes de interações culturais pelo mundo
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A expansão européia deu início a novas culturas surgidas
depois da primeira mundialização, resultado dos descobrimentos portugueses e espanhóis, nos séculos 15 e 16.
Vários séculos depois, o historiador Serge Gruzinski se debruça sobre as interações culturais para criar a exposição,
"Planète Métisse - To Mix or
Not to Mix" (Planeta Mestiço -Misturar ou Não) no museu Quai Branly, inaugurado em
2006, cujo slogan é: "o lugar onde as culturas dialogam". Recém-aberta, a exposição, que
prevê conferências e filmes, vai
até julho de 2009.
"Objeto mestiço é a expressão da criação humana que surge na confluência do mundo
europeu com o de sociedades
da Ásia, da África e da América", define Gruzinski.
Concebida em espaços curvos divididos por fios que formam uma cortina transposta
com um movimento de mão, a
exposição leva o visitante a
abrir caminho para entrar e
sair dos nichos. A própria concepção da mostra é uma metáfora dos espaços geográficos
que as culturas atravessam para formar uma nova cultura
chamada mestiça, que subverte
as noções de antigo, primitivo,
neoclássico ou primordial.
"Objetos expostos são o resultado tangível do encontro
das diferentes partes do mundo
e das interações entre elas. Um
exemplo é o "Codex Borbonicus", um calendário nem clássico nem primitivo, nem étnico
nem folclórico: é tudo isso, pois
pertence ao mundo dos povos
indígenas que habitavam o México e ao dos conquistadores
espanhóis", explica Gruzinski.
Outro exemplo são os objetos
feitos no Japão refletindo a fé
católica dos europeus: o Cristo
em marfim ou a imagem de São
Sebastião. Da Índia, há objetos
em marfim representando
Cristo como o Bom Pastor, mas
lembrando Krishna e Sidhaarta
(Buda) meditando. Há ainda a
escultura da Rainha Vitória feita por uma artista iorubá, na
qual a soberana inglesa aparece
com traços africanizados.
O Brasil, uma das sociedades
mais mestiças do planeta tanto
racial quanto culturalmente,
faz a síntese das músicas mestiças. Numa sala, pode-se ouvir
do lundu ao samba e à bossa-nova, passando pelo rock urbano e pelo afro-samba. O som
"made in Brasil" sai de tubos de
neon, verdes e amarelos. O catálogo da exposição diz que há
500 gêneros de música mestiça, entre elas a rumba e o jazz. O
ministro Gilberto Gil vai visitar
a exposição dia 7 de abril.
A mostra termina com as
mestiçagens no cinema. As produções de Hollywood marcando o cinema asiático ou a América vista sob o olhar chinês:
Wong Kar-wai recriando a Argentina a partir da China de
Hong-Kong ou Ang Lee explorando os EUA a partir da China
de Taiwan.
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