São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2008

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Paris expõe a cultura da mestiçagem

Museu francês Quai Branly apresenta trabalhos resultantes de interações culturais pelo mundo

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

A expansão européia deu início a novas culturas surgidas depois da primeira mundialização, resultado dos descobrimentos portugueses e espanhóis, nos séculos 15 e 16.
Vários séculos depois, o historiador Serge Gruzinski se debruça sobre as interações culturais para criar a exposição, "Planète Métisse - To Mix or Not to Mix" (Planeta Mestiço -Misturar ou Não) no museu Quai Branly, inaugurado em 2006, cujo slogan é: "o lugar onde as culturas dialogam". Recém-aberta, a exposição, que prevê conferências e filmes, vai até julho de 2009.
"Objeto mestiço é a expressão da criação humana que surge na confluência do mundo europeu com o de sociedades da Ásia, da África e da América", define Gruzinski.
Concebida em espaços curvos divididos por fios que formam uma cortina transposta com um movimento de mão, a exposição leva o visitante a abrir caminho para entrar e sair dos nichos. A própria concepção da mostra é uma metáfora dos espaços geográficos que as culturas atravessam para formar uma nova cultura chamada mestiça, que subverte as noções de antigo, primitivo, neoclássico ou primordial.
"Objetos expostos são o resultado tangível do encontro das diferentes partes do mundo e das interações entre elas. Um exemplo é o "Codex Borbonicus", um calendário nem clássico nem primitivo, nem étnico nem folclórico: é tudo isso, pois pertence ao mundo dos povos indígenas que habitavam o México e ao dos conquistadores espanhóis", explica Gruzinski.
Outro exemplo são os objetos feitos no Japão refletindo a fé católica dos europeus: o Cristo em marfim ou a imagem de São Sebastião. Da Índia, há objetos em marfim representando Cristo como o Bom Pastor, mas lembrando Krishna e Sidhaarta (Buda) meditando. Há ainda a escultura da Rainha Vitória feita por uma artista iorubá, na qual a soberana inglesa aparece com traços africanizados.
O Brasil, uma das sociedades mais mestiças do planeta tanto racial quanto culturalmente, faz a síntese das músicas mestiças. Numa sala, pode-se ouvir do lundu ao samba e à bossa-nova, passando pelo rock urbano e pelo afro-samba. O som "made in Brasil" sai de tubos de neon, verdes e amarelos. O catálogo da exposição diz que há 500 gêneros de música mestiça, entre elas a rumba e o jazz. O ministro Gilberto Gil vai visitar a exposição dia 7 de abril.
A mostra termina com as mestiçagens no cinema. As produções de Hollywood marcando o cinema asiático ou a América vista sob o olhar chinês: Wong Kar-wai recriando a Argentina a partir da China de Hong-Kong ou Ang Lee explorando os EUA a partir da China de Taiwan.


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