São Paulo, quinta-feira, 25 de março de 2010

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Vila da rua Berta teme novas obras

Novo templo da Igreja Universal, que não quis se manifestar, deve aumentar movimento nas ruas no entorno das casas

Defesa do patrimônio histórico municipal liberou construções, mas diz que pode intervir caso haja dano para o conjunto tombado

DA REPORTAGEM LOCAL

Cada vez que passa um caminhão pela rua Berta, tremem os copos e cristais na casa do designer Rogério Alves de Lima. Ele mora num dos sobrados da Vila Mariana feito nos anos 20 por Gregori Warchavchik, o ucraniano radicado no Brasil que fez as primeiras construções modernas no país.
"É um patrimônio delicado", diz Lima. "Se começar a ter muita circulação, daqui a pouco isso vai começar a desmontar."
Mesmo protegidas pelo Conpresp, órgão do patrimônio histórico municipal, desde 1991, as casas da rua Berta não escaparam do crescimento da cidade.
Moradores dali agora temem que a construção de um templo da Igreja Universal do Reino de Deus na quadra em frente às casas e planos de erguer um prédio no terreno de trás vão saturar o fluxo da pequena via de paralelepípedos e ameaçar a estrutura das casas dos anos 20.
Procurada pela Folha, a Igreja Universal não quis comentar o caso, mas confirmou que o templo com capacidade para 1.200 fiéis e vagas para 140 carros no estacionamento será inaugurado em abril.
Mesmo com o tombamento na esfera municipal, foi autorizada a construção da igreja na quadra ao lado. "Se esse fluxo causar danos aos bens tombados, pode haver uma intervenção do patrimônio histórico", disse à Folha o vice-presidente do Conpresp, Walter Pires. "Mas foi julgado que não havia um impacto direto na vila."
A prefeitura liberou a construção da igreja um mês antes de ser arquivado um estudo de tombamento da rua que estava há 20 anos parado no Condephaat, órgão estadual de defesa do patrimônio. Moradores tentaram estender, sem sucesso, a proteção à esfera estadual, para evitar uma disputa entre as casas da rua e empreiteiras.
Quando decidiu arquivar o processo, o Condephaat alegou que as casas em questão já haviam sofrido um excesso de alterações em relação ao projeto original e que estavam sob proteção em nível municipal.
Desde 2003, processos de tombamento não precisam mais declarar protegido o entorno da obra em questão, o que dá margem para construções adjacentes que possam descaracterizar esse tipo de conjunto arquitetônico. Agora, essa proteção da área envoltória é estudada caso a caso.
"Qualquer construção deveria reverenciar essa obra de arte e não ofuscar", diz Ana Beatriz Galvão, superintendente de São Paulo do Iphan, órgão federal de defesa do patrimônio. "Se a igreja extrapola a escala das edificações tombadas, é um projeto equivocado."
Embora o conjunto de casas não esteja tombado na esfera federal, a Casa Modernista, nos arredores, está sob proteção do Iphan. Segundo Galvão, será feita uma vistoria no local para averiguar se as novas construções não ameaçam a casa protegida, a duas quadras dali.
Em julho do ano passado, reportagem da Folha revelou um quadro de deterioração avançada de um projeto semelhante de Warchavchik no Rio, uma vila operária construída na zona do porto, única obra do arquiteto ainda de pé na cidade.

Novo restauro
Em situação oposta à das vilas, a casa da rua Itápolis, considerada um marco modernista, foi restaurada como era há 80 anos pela família do arquiteto. Foram desfeitas alterações de vários inquilinos, que, ao longo de 80 anos, fecharam o terraço da entrada e mudaram alguns aspectos da fachada. Agora, a casa volta a ter a laje de concreto armado em balanço e seu jardim original, traços definidores do projeto. (SILAS MARTÍ)


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