São Paulo, quinta-feira, 25 de março de 2010

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Acervo mantém Cinédia viva após oito décadas

Estúdio lançou nomes como Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçaves e Carmem Miranda e foi palco de filmagens de Orson Welles

FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

A julgar pelo resultado da primeira tentativa de filmar, aquela empresa cinematográfica não teria futuro: "Lábios sem Beijos", produzido e dirigido por Adhemar Gonzaga em 1929, quando a Cinédia ainda era um projeto, foi interrompido quando a atriz principal, Carmem Santos, grávida, sofreu uma queda.
Pois o jornalista não se abalou. Em 15 de março de 1930 fundou a Cinédia e retomou a filmagem, nos estúdios de São Cristóvão (zona norte do Rio).
"Lábios sem Beijos", em nova versão, foi lançado em novembro daquele ano.
Seguiram-se outros 55 longas, em que estrearam artistas como Oscarito, Grande Otelo, Paulo Gracindo, Dercy Gonçalves, Procópio Ferreira e Carmen Miranda. A lista de diretores inclui Humberto Mauro, Oduvaldo Vianna e até Orson Welles, que filmou nos estúdios da Cinédia, em 1942, parte do inacabado "It's All True" ("É Tudo Verdade").
Aos 80 anos, a Cinédia resiste dirigida por Alice Gonzaga, filha de Adhemar -morto em 1978, aos 77 anos. Hoje sediada em um casarão histórico em Santa Teresa (centro do Rio), a empresa tem como principal foco a preservação de seu acervo, mantido pelo dinheiro arrecadado com a venda de imagens, a consulta ao próprio arquivo e patrocínios eventuais.
"Está tudo muito bem guardado em um espaço de 200 m2", afirma Alice, que já restaurou 17 dos 40 longas integrantes do acervo. De outros 16 restam apenas fotos. Parte do acervo inicial se perdeu em um incêndio em 1957. A maioria dos mais de 700 cinejornais e documentários também desapareceu.
"O Ministério da Cultura já quis comprar o acervo, mas não vendo. Trabalho nesse arquivo desde que tinha cinco anos, ele é meu orgulho", diz Alice, 75.
Para comemorar as oito décadas de Cinédia, ela anuncia um ciclo de cursos pagos sobre cinema a partir de junho, a exibição de sete filmes recém-restaurados em agosto e a digitalização de parte do acervo.
"Vou disponibilizar para consulta gratuita pela internet 100 mil documentos, como fotos e cartas", conta.
Até 1937 Adhemar Gonzaga investiu US$ 20 milhões na iniciativa, segundo estima Hernani Heffner, professor da PUC-RJ e conservador da cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio.
O recordista de bilheteria foi "O Ébrio" (1946), que atraiu 8 milhões de espectadores. Entre os clássicos estão "Ganga Bruta" (1933) e "Alô Alô Carnaval" (1936). A última produção própria foi "Consórcio de Intrigas", de 1981. Em coproduções, a Cinédia esteve ativa até 1996.


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