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Acervo mantém Cinédia viva após oito décadas
Estúdio lançou nomes como Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçaves e Carmem Miranda e foi palco de filmagens de Orson Welles
FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO
A julgar pelo resultado da
primeira tentativa de filmar,
aquela empresa cinematográfica não teria futuro: "Lábios sem
Beijos", produzido e dirigido
por Adhemar Gonzaga em
1929, quando a Cinédia ainda
era um projeto, foi interrompido quando a atriz principal,
Carmem Santos, grávida, sofreu uma queda.
Pois o jornalista não se abalou. Em 15 de março de 1930
fundou a Cinédia e retomou a
filmagem, nos estúdios de São
Cristóvão (zona norte do Rio).
"Lábios sem Beijos", em nova
versão, foi lançado em novembro daquele ano.
Seguiram-se outros 55 longas, em que estrearam artistas
como Oscarito, Grande Otelo,
Paulo Gracindo, Dercy Gonçalves, Procópio Ferreira e Carmen Miranda. A lista de diretores inclui Humberto Mauro,
Oduvaldo Vianna e até Orson
Welles, que filmou nos estúdios
da Cinédia, em 1942, parte do
inacabado "It's All True" ("É
Tudo Verdade").
Aos 80 anos, a Cinédia resiste
dirigida por Alice Gonzaga, filha de Adhemar -morto em
1978, aos 77 anos. Hoje sediada
em um casarão histórico em
Santa Teresa (centro do Rio), a
empresa tem como principal
foco a preservação de seu acervo, mantido pelo dinheiro arrecadado com a venda de imagens, a consulta ao próprio arquivo e patrocínios eventuais.
"Está tudo muito bem guardado em um espaço de 200 m2",
afirma Alice, que já restaurou
17 dos 40 longas integrantes do
acervo. De outros 16 restam
apenas fotos. Parte do acervo
inicial se perdeu em um incêndio em 1957. A maioria dos
mais de 700 cinejornais e documentários também desapareceu.
"O Ministério da Cultura já
quis comprar o acervo, mas não
vendo. Trabalho nesse arquivo
desde que tinha cinco anos, ele
é meu orgulho", diz Alice, 75.
Para comemorar as oito décadas de Cinédia, ela anuncia
um ciclo de cursos pagos sobre
cinema a partir de junho, a exibição de sete filmes recém-restaurados em agosto e a digitalização de parte do acervo.
"Vou disponibilizar para
consulta gratuita pela internet
100 mil documentos, como fotos e cartas", conta.
Até 1937 Adhemar Gonzaga
investiu US$ 20 milhões na iniciativa, segundo estima Hernani Heffner, professor da PUC-RJ e conservador da cinemateca do Museu de Arte Moderna
do Rio.
O recordista de bilheteria foi
"O Ébrio" (1946), que atraiu 8
milhões de espectadores. Entre
os clássicos estão "Ganga Bruta" (1933) e "Alô Alô Carnaval"
(1936). A última produção própria foi "Consórcio de Intrigas", de 1981. Em coproduções,
a Cinédia esteve ativa até 1996.
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