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TEATRO
``As Coisas Ruins da Nossa Cabeça'', de Fernando Bonassi, será lida hoje na Folha, no ciclo `Leituras de Teatro'
Peça é história de amor trágico, diz autor
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
``As Coisas
Ruins da Nossa
Cabeça'' é a primeira peça
-escrita como
tal- de Fernando Bonassi, 34,
autor de sete livros, entre eles ``Um Céu de Estrelas'', que virou filme dirigido por
Tata Amaral e peça teatral nas
mãos de Lígia Cortez.
O texto, que será lido hoje à noite
na Folha (leia texto ao lado), foi
escrito em 89, e sua única apresentação pública ocorreu em outra
leitura, no teatro Sérgio Cardoso
(São Paulo), após o recebimento
de um prêmio no centenário de
Oswald de Andrade.
``Acho que a peça nunca foi
montada porque tanto atores
quanto patrocinadores têm um
pouco de medo. Atores, quando
passam um tempo fazendo televisão, se acovardam de trabalhar se
não for um texto estrangeiro ou
comédia. É apenas covardia. Há
muitos textos dramáticos novos
bons por aí. O fato de a Folha promover uma leitura por mês é uma
prova disso'', afirma.
A peça de Bonassi fala da história
de um homem e de uma mulher
(grávida) em um bar de beira de
estrada em Rondônia. ``São dois
desesperados. É uma história de
amor trágico. O Vilela é um ex-policial militar que matou alguém em
São Paulo e foi mandado por sugestão de seu superior para esse
bar em Rondônia. Lá, ele encontra
uma mulher que está grávida desse
superior. É uma história desolada'', diz.
O autor nega que a peça seja hermética. ``É apenas que qualquer
coisa que tenha um pouco de virilidade assusta. As pessoas preferem
dormir em paz. Eu escrevo para
perturbá-las.''
Nascido na zona leste de São
Paulo, que serviu de ambientação
tanto para ``Céu de Estrelas''
quanto para o romance ``Subúrbio'', Bonassi conta que resolveu
localizar ``As Coisas Ruins...'' em
Rondônia após uma viagem de
carro pela região.
``Fui para lá em 88, de carro. Fiz
alguns trechos da viagem sozinho.
Achei impressionante a devastação, até um ponto, e a floresta. A
sensação é muito parecida com a
que você tem diante do mar. É
muito grande, muito assustador.''
Mas, mesmo assim, diz que suas
raízes do subúrbio operário estão
presentes também no texto. ``Esse
universo está muito dentro do
meu trabalho. Falo dos lugares de
que gosto e que conheço. Minha
peça se passa na Rondônia, mas
poderia acontecer num bar de
Santo André (região do ABC,
grande São Paulo)'', afirma.
Segundo ele, há uma possibilidade de que a peça seja encenada ainda no segundo semestre deste ano.
A responsável seria a diretora Lígia
Cortez, que dirige a leitura desta
noite. No entanto, ainda não há
confirmação.
Outro texto de Bonassi que está
sendo adaptado para o teatro é o
romance ``Subúrbio'', que conta a
história de dois sexagenários. Mas
a produção só deverá entrar em
cartaz na Alemanha.
``Achei surpreendente que os
alemães viessem comprar o `Subúrbio'. Eles têm interesse em manifestações outras. Há uma cultura
operária e popular muito forte. Daí
a medida do nosso elitismo no
Brasil.''
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