São Paulo, terça, 25 de março de 1997.

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TEATRO
``As Coisas Ruins da Nossa Cabeça'', de Fernando Bonassi, será lida hoje na Folha, no ciclo `Leituras de Teatro'
Peça é história de amor trágico, diz autor

PATRICIA DECIA
da Reportagem Local


``As Coisas Ruins da Nossa Cabeça'' é a primeira peça -escrita como tal- de Fernando Bonassi, 34, autor de sete livros, entre eles ``Um Céu de Estrelas'', que virou filme dirigido por Tata Amaral e peça teatral nas mãos de Lígia Cortez.
O texto, que será lido hoje à noite na Folha (leia texto ao lado), foi escrito em 89, e sua única apresentação pública ocorreu em outra leitura, no teatro Sérgio Cardoso (São Paulo), após o recebimento de um prêmio no centenário de Oswald de Andrade.
``Acho que a peça nunca foi montada porque tanto atores quanto patrocinadores têm um pouco de medo. Atores, quando passam um tempo fazendo televisão, se acovardam de trabalhar se não for um texto estrangeiro ou comédia. É apenas covardia. Há muitos textos dramáticos novos bons por aí. O fato de a Folha promover uma leitura por mês é uma prova disso'', afirma.
A peça de Bonassi fala da história de um homem e de uma mulher (grávida) em um bar de beira de estrada em Rondônia. ``São dois desesperados. É uma história de amor trágico. O Vilela é um ex-policial militar que matou alguém em São Paulo e foi mandado por sugestão de seu superior para esse bar em Rondônia. Lá, ele encontra uma mulher que está grávida desse superior. É uma história desolada'', diz.
O autor nega que a peça seja hermética. ``É apenas que qualquer coisa que tenha um pouco de virilidade assusta. As pessoas preferem dormir em paz. Eu escrevo para perturbá-las.''
Nascido na zona leste de São Paulo, que serviu de ambientação tanto para ``Céu de Estrelas'' quanto para o romance ``Subúrbio'', Bonassi conta que resolveu localizar ``As Coisas Ruins...'' em Rondônia após uma viagem de carro pela região.
``Fui para lá em 88, de carro. Fiz alguns trechos da viagem sozinho. Achei impressionante a devastação, até um ponto, e a floresta. A sensação é muito parecida com a que você tem diante do mar. É muito grande, muito assustador.''
Mas, mesmo assim, diz que suas raízes do subúrbio operário estão presentes também no texto. ``Esse universo está muito dentro do meu trabalho. Falo dos lugares de que gosto e que conheço. Minha peça se passa na Rondônia, mas poderia acontecer num bar de Santo André (região do ABC, grande São Paulo)'', afirma.
Segundo ele, há uma possibilidade de que a peça seja encenada ainda no segundo semestre deste ano. A responsável seria a diretora Lígia Cortez, que dirige a leitura desta noite. No entanto, ainda não há confirmação.
Outro texto de Bonassi que está sendo adaptado para o teatro é o romance ``Subúrbio'', que conta a história de dois sexagenários. Mas a produção só deverá entrar em cartaz na Alemanha.
``Achei surpreendente que os alemães viessem comprar o `Subúrbio'. Eles têm interesse em manifestações outras. Há uma cultura operária e popular muito forte. Daí a medida do nosso elitismo no Brasil.''

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