São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Martins exibe sinais de sexo no enxoval

Paulo Giandalia/Folha Imagem
A artista plástica Mara Martins com detalhe de obra na galeria Thomas Cohn


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

A artista plástica Mara Martins não pinta, mas borda, literalmente. E em dois sentidos. Naquele metafórico, que remete ao ditado popular que diz "fulano pinta e borda", usado para designar alguém transgressor; e naquele prático, já que os objetos que apresenta hoje em sua individual na galeria Thomas Cohn são realmente, em sua maioria, objetos bordados.
Mara Martins borda pênis de vários tamanhos, vaginas e uma vasta gama de cenas eróticas explícitas em objetos de uso doméstico, como toalhinhas de mesa, anáguas, camisolas, lenços, aventais e luvas de crochê. As cenas têm conotação heterossexual.
Masturbação, felação ou penetração abandonam a alcova e ganham assim o campo familiar e doméstico.
Na verdade, essas cenas nunca deixaram de ser familiares. Primeiro porque se tratam de cenas do cotidiano, embora privado. Segundo, pois foram retiradas da mídia, como o bordado de uma cunilíngua ("As Chaves de Mapplethorpe"), realizada a partir de um trabalho do fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe.
Logo a seguir, uma sequência de 13 cenas bordadas em uma anágua de linho foi retirada das histórias eróticas de Carlos Zéfiro ("Os Passos da Paixão").
O autor erótico e desenhista Zéfiro é grande fonte de inspiração da artista e reaparece em série de toalhas de mesa com cenas e frases eróticas explícitas.
"Quis mostrar essa ambiguidade entre o explícito e o subjetivo", disse a artista paulista radicada no Rio, que com suas obras rompe com o universo romântico da mulher e das artes manuais.
Mara Martins dessacraliza ainda objetos de cunho religioso, como os corações de cera usados em simpatias pela umbanda, que transforma em vulvas de bronze disfarçadas. Mara Martins segue assim os passos de Nelson Leirner, um seu admirador e transgressor de carteirinha.
Cabe lembrar que a mostra de Mara Martins é proibida para menores de 18 anos.
Também hoje, a Thomas Cohn inaugura a mostra do projeto Portas Abertas, que selecionou seis jovens artistas do Estado de São Paulo para mostra na galeria (leia texto nesta página).

Mostra: Mara Martins (individual com objetos bordados e esculturas em bronze e em cera) e coletiva do projeto Portas Abertas (pinturas, desenhos, objetos e fotografias de Rodrigo Cunha, Carmem Alves, Fabio Faria, Eduardo Srur, Regina Sposatti e Marcelo Zocchio) Onde: galeria Thomas Cohn (av. Europa, 641, Jardins, tel. 011/883-3355) Vernissage: hoje, às 20h Quando: de segunda a sexta, das 11h às 19h; sábado, das 11h às 14h; até 17 de abril Preços das obras: de R$ 800 a R$ 5.000 (obras de Mara Martins). Obras do projeto Portas Abertas, de R$ 500 (fotografias de Marcelo Zocchio) a R$ 5.000 (pinturas de Rodrigo Cunha)


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