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Cannes faz justiça
tardia a Bergman
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
O cineasta sueco Ingmar Bergman, 79, deve enviar um representante a Cannes para receber em 11
de maio a Palma das Palmas, o prêmio especial da 50¦ edição do mais
importante festival de cinema do
mundo.
O diretor de "Morangos Silvestres" recorreu a razões profissionais para justificar sua anunciada
ausência da cerimônia de entrega
do troféu.
A escolha foi feita por 18 vencedores da Palma de Ouro. O único
votante latino-americano foi o
brasileiro Anselmo Duarte, ganhador da Palma de 1962 com "O Pagador de Promessas". Em entrevista por telefone à Folha, Duarte
confirmou que irá a cerimônia.
Também confirmaram presença, por ordem cronológica de
triunfo no festival, Michelangelo
Antonioni ("Blow Up - Depois daquele Beijo, 1967), Robert Altman
("M.A.S.H.", 1970), Francesco
Rosi ("O Caso Mattei", 1972),
Francis Ford Coppola ("A Conversação", 1974, e "Apocalypse
Now", 1979), Martin Scorsese
("Taxi Driver", 1976), Andrzej
Wajda ("O Homem de Ferro",
1981), Shohei Imamura ("A Balada de Narayama", 1983), Wim
Wenders ("Paris, Texas", 1984),
Emir Kusturica ("Quando Papai
Saiu em Viagem de Negócios",
1985, e "Underground", 1995),
David Lynch ("Coração Selvagem", 1990), e Jane Campion e
Chen Kaige (``O Piano" e
"Adeus, Minha Concubina",
1993).
O processo de votação, segundo
Duarte, foi desenvolvido por meio
de correspondências com o delegado-geral do festival, Gilles Jacob.
Na primeira carta, Jacob fixou
como critério a escolha de um realizador vivo e em atividade, dentre
os mil cineastas que já disputaram
a Palma de Ouro. Uma lista de dez
cineastas era apresentada, e havia
a possibilidade da indicação de um
11º candidato.
A relação original continha os
nomes de Woody Allen, Ingmar
Bergman, Bernardo Bertolucci,
Jean-Luc Godard, Milos Forman,
Peter Greenaway, Nikita Mikhalkov, Manoel de Oliveira, Alain
Resnais e Steven Spielberg.
A primeira resposta de Duarte
criticava o apontamento de Allen e
Godard. "São pessoas que vivem
da negatividade. Ganhariam mais
notoriedade ao dizer não ao prêmio. Como Marlon Brando e o
próprio Allen no Oscar".
Propôs a Jacob a substituição de
Allen pelo espanhol Carlos Saura.
Foi além: "Citei três brasileiros:
Nélson Pereira dos Santos, Cacá
Diegues e Arnaldo Jabor".
Nenhum deles emplacou.
Bergman recebeu a maioria tranquila dos votos e ficou com a Palma das Palmas. Cannes lhe faz justiça depois de quase meio século de
tensas relações (leia abaixo).
A Palma, contudo, vem depois
de três Oscar de filme estrangeiro
(``A Fonte da Donzela'', ``Através
de um Espelho'' e ``Fanny e Alexander'') e um prêmio Irving Thalberg, um Urso de Ouro de Berlim
(``Morangos Silvestres''), entre
outros. A resistência do quase octagenário cineasta em ir receber o
prêmio, contas feitas, não parece
tão estranha assim.
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