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``Jedi'' é império do continuísmo
MURILO GABRIELLI
especial para a Folha
Não vá assistir a "O Retorno de
Jedi" sem ter antes visto as duas
primeiras partes da trilogia de
George Lucas. O conselho óbvio
não se deve apenas à íntima relação de seus argumentos, mas,
principalmente, ao fato de este filme não ter existência própria, não
subsistir como obra isolada.
Lucas concebeu "O Retorno"
como conclusão de sua saga, na
qual se resolveriam todas as questões expostas nas duas primeiras
-a origem de Luke, o triângulo
amoroso entre os protagonistas, o
embate entre bem e mal etc.
Aparentemente, porém, esqueceu-se de realizar o filme em si. Tudo em "O Retorno" aposta na
memória afetiva que seu público
guarda de "Guerra nas Estrelas" e
"O Império Contra-Ataca".
Han Solo dá uma risada maliciosa? O espectador responde com
outro sorriso. Não por que essa risada crie uma situação engraçada,
mas por fazer referência ao caráter
dúbio do personagem, construído
em outras telas.
Darth Vader representa o mal? A
bem da verdade, todo o filme parece corroborar a intuição de Luke,
que enxerga uma chance de redenção para seu pai. A necessária dúvida que o público deve manter,
para que se construa o suspense, se
apóia em vilezas cometidas nas
obras anteriores.
Há, é claro, algumas boas sequências. Os confrontos entre Luke e Jabba ou Luke e Vader lembram os melhores momentos dos
capa-e-espada clássicos.
Os realizadores se eximem, porém, da responsabilidade de criar
tensão e identificação. Deixam para o olhar da platéia a tarefa de autor, como em um teste em que se
pede que sejam preenchidos os espaços em branco.
Mais do que saga intergaláctica,
a trilogia de Lucas parece contar a
história recente de Hollywood.
"Guerra nas Estrelas", em que
pesem seus vários defeitos, deu
um novo sopro de vida a uma indústria em crise, tendo por armas
originalidade e ousadia.
Em "O Império Contra-Ataca",
aproveitava-se o sucesso de seu
predecessor para realizar um eficiente produto cultural, equivalente às melhores produções de estúdio das décadas anteriores.
Neste "O Retorno de Jedi", lançou-se o triste paradigma do
blockbuster. Estratégia de marketing em lugar de decupagem. Continuísmo em vez de criação.
Dá-se ao público o que ele já conhece, o que ele espera. Vale a máxima do fast food: a melhor surpresa é a ausência de surpresas.
Filme: O Retorno de Jedi
Produção: EUA, 1983
Direção: Richard Marquand
Com: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie
Fisher, Billy Dee Williams
Quando: a partir de hoje nos cines Marabá,
Bristol, Plaza Sul 1 e circuito
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