|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVRO/LANÇAMENTO
Autor que criticou a fragmentação do conhecimento agora encontra novo sentido para estudar o passado
François Dosse reúne migalhas da história
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Gestos frenéticos, discurso entusiasmado, o longo cabelo cacheado em desordem. Em geral,
historiadores não apreciam ser
chamados de profetas, mas este,
além de ter a aparência de um,
também gosta de dar uns palpites
sobre como as coisas podem vir a
ser. Afinal, investigar o presente e
o sentido que a história pode tomar estão entre seus temas.
O francês François Dosse, autor
do clássico "História do Estruturalismo", diagnosticou de forma
ácida o esfacelamento da história
em "História em Migalhas" e é
um dos principais críticos da historiografia atual. Na última semana, Dosse esteve no Brasil para
lançar seu novo livro, "A História
à Prova do Tempo". Poucas horas
antes de proferir uma palestra na
USP, o historiador falou à Folha.
Para Dosse, um ex-militante
trotskista, existem três momentos
importantes na história recente
das formas como o homem interpreta o seu passado.
O primeiro teria sido no século
19 e princípio do 20, época em que
se fazia uma história carregada de
nacionalismo, pois o objetivo era
justificar os cada vez mais fortalecidos Estados-nação.
O segundo momento seria
aquele em que se criou a chamada
Nova História, que buscava a relação entre o cotidiano e a história
global -ou, em uma linguagem
mais técnica, entre a pequena duração e a longa duração.
Esse modo de fazer história recebeu duras críticas de Dosse em
seu "A História em Migalhas".
"Eu criticava a fragmentação que
a história do cotidiano causava.
Nela, os fatos passaram a não ser
tão importantes quanto os costumes, era uma história imóvel, em
que os acontecimentos eram menos importantes. Também se perderam a visão global dos acontecimentos e o sujeito da história."
Deixando de lado a modéstia,
Dosse se vê como um dos articuladores do novo momento que vive a historiografia. "Preciso dizer
que minhas críticas à Nova História se mostraram pertinentes, pois
a própria "Revista dos Annales"
[publicação que criou o termo
Nova História e na qual escrevem
seus principais colaboradores",
no final dos anos 80, questionou-se sobre o que fazia, e isso quase
provocou o desaparecimento do
projeto intelectual original."
O momento atual, segundo o
historiador, seria o do "resgate do
sentido". "Quando falo da busca
de um novo sentido, não é um
sentido globalizante, mas um sentido pluralizante", diz.
"A tarefa do historiador é fazer
com que o passado deixe de parecer algo que fatalmente se desdobra no presente e buscar a indeterminação do presente das sociedades passadas. Não podemos
agir como se já soubéssemos
-ainda que saibamos- o que
aconteceu depois."
Além desse lançamento, Dosse
terá outros títulos lançados no
Brasil. A Edusc prepara para julho
o relançamento dos dois tomos
de "História do Estruturalismo" e
a edição de "O Império da Sensibilidade". Os dois textos nos quais
o autor trabalha, uma biografia
do historiador Michel de Certeau
e "A História do Presente", saem
na França este ano e têm previsão
de lançamento no Brasil em 2002.
A HISTÓRIA À PROVA DO TEMPO. De:
François Dosse. Editora: Unesp (tel. 0/
xx/11/232-7171,
www.editora.unesp.br). Primeira edição.
321 págs. R$ 34.
Texto Anterior: Netcetera - Sérgio Dávila: A morte e os gatinhos-bonsai Próximo Texto: Frases Índice
|