São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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LIVRO/LANÇAMENTO

Autor que criticou a fragmentação do conhecimento agora encontra novo sentido para estudar o passado

François Dosse reúne migalhas da história

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Gestos frenéticos, discurso entusiasmado, o longo cabelo cacheado em desordem. Em geral, historiadores não apreciam ser chamados de profetas, mas este, além de ter a aparência de um, também gosta de dar uns palpites sobre como as coisas podem vir a ser. Afinal, investigar o presente e o sentido que a história pode tomar estão entre seus temas.
O francês François Dosse, autor do clássico "História do Estruturalismo", diagnosticou de forma ácida o esfacelamento da história em "História em Migalhas" e é um dos principais críticos da historiografia atual. Na última semana, Dosse esteve no Brasil para lançar seu novo livro, "A História à Prova do Tempo". Poucas horas antes de proferir uma palestra na USP, o historiador falou à Folha.
Para Dosse, um ex-militante trotskista, existem três momentos importantes na história recente das formas como o homem interpreta o seu passado.
O primeiro teria sido no século 19 e princípio do 20, época em que se fazia uma história carregada de nacionalismo, pois o objetivo era justificar os cada vez mais fortalecidos Estados-nação.
O segundo momento seria aquele em que se criou a chamada Nova História, que buscava a relação entre o cotidiano e a história global -ou, em uma linguagem mais técnica, entre a pequena duração e a longa duração.
Esse modo de fazer história recebeu duras críticas de Dosse em seu "A História em Migalhas". "Eu criticava a fragmentação que a história do cotidiano causava. Nela, os fatos passaram a não ser tão importantes quanto os costumes, era uma história imóvel, em que os acontecimentos eram menos importantes. Também se perderam a visão global dos acontecimentos e o sujeito da história."
Deixando de lado a modéstia, Dosse se vê como um dos articuladores do novo momento que vive a historiografia. "Preciso dizer que minhas críticas à Nova História se mostraram pertinentes, pois a própria "Revista dos Annales" [publicação que criou o termo Nova História e na qual escrevem seus principais colaboradores", no final dos anos 80, questionou-se sobre o que fazia, e isso quase provocou o desaparecimento do projeto intelectual original."
O momento atual, segundo o historiador, seria o do "resgate do sentido". "Quando falo da busca de um novo sentido, não é um sentido globalizante, mas um sentido pluralizante", diz.
"A tarefa do historiador é fazer com que o passado deixe de parecer algo que fatalmente se desdobra no presente e buscar a indeterminação do presente das sociedades passadas. Não podemos agir como se já soubéssemos -ainda que saibamos- o que aconteceu depois."
Além desse lançamento, Dosse terá outros títulos lançados no Brasil. A Edusc prepara para julho o relançamento dos dois tomos de "História do Estruturalismo" e a edição de "O Império da Sensibilidade". Os dois textos nos quais o autor trabalha, uma biografia do historiador Michel de Certeau e "A História do Presente", saem na França este ano e têm previsão de lançamento no Brasil em 2002.




A HISTÓRIA À PROVA DO TEMPO. De: François Dosse. Editora: Unesp (tel. 0/ xx/11/232-7171, www.editora.unesp.br). Primeira edição. 321 págs. R$ 34.



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