São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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MÔNICA BERGAMO

Greg Salibian/Folha Imagem
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que foi pergutado no programa de Hebe Camargo por que nunca fez implante


"Gracinha!"

"Gracinha!", "Linda!", exclamou a loira ao abraçá-la e agradecer sua presença, num dia em que, além do governador Geraldo Alckmin, sentaram em seu sofá a atriz portuguesa Maria João, o cantor brega Frank Aguiar e as cantoras Alcione, Sandra de Sá e Luciana Mello (que Hebe cismou em chamar de Luciana de Mello). Nem todos alavancam o Ibope. Quem liga? No programa de Hebe, a grande atração é ela mesma.

"Nem sei quem são os convidados. Venho só por causa dela", diz a feirante Perpétua Lopes, 48. De blusa florida, batom vermelhão e cabelos no tom loiro-Hebe, Perpétua conta que é solteira, de certa forma, por causa da apresentadora. "Homem pra casar comigo tem que gostar da Hebe, senão mando passear", diz. Ela é uma das integrantes da "turma das sete", um grupo de sete mulheres que vai ao programa da loira há pelo menos 25 anos. E por isso tem certas regalias, como uma van que as busca na porta de casa e lugares nas primeiras fileiras. Perpétua ganhou de Hebe uma cirurgia de redução de estômago. Perdeu 30 kg e só aumentou sua devoção. "Ela é o máximo. Amo!"

"Ela me chama pelo nome, me conhece mesmo", diz Maria Virgínia de Mozo, 58 anos de vida, 39 de Hebe e cabelos também no tom loiro-Hebe. Maria vai ao programa com a mãe, dona Albertina, 88, que se arruma toda para a ocasião.

Antes de o programa começar, assistentes do SBT dão uma pequena palestra à platéia, que é informada sobre o que pode e o que não pode ser feito durante a apresentação.

"Por favor, nada de vaias para o governador", pede a assistente Patrícia Venâncio. "Sabe o que é? A gente tem medo de o povo não respeitar", explica, em voz baixa, a também produtora Luana Bertinelli. "Caravanas animadas têm mais chance de voltar", avisa às espectadoras a terceira funcionária da produção, Carla Valéria.

Enquanto ouvem, os integrantes da caravana do Parque Edu Chaves comem um sanduíche de queijo com blanquet de peru que ganharam da produção. Pela presença, cada um recebeu ainda R$ 3. Um ônibus os buscou num ponto de encontro.

Animação, palmas no momento certo, interação com os convidados é tudo o que a produção espera do público -95% formado por mulheres- que irá lotar as 179 cadeiras impecavelmente brancas do auditório.

Às 22h30, três sinais sonoros avisam que o show vai começar. Numa blusa esvoaçante de oncinha, Hebe entra no palco sob palmas ritmadas. Apresenta os convidados, fala "gracinha!" pelo menos oito vezes e puxa papo com o governador.

O auditório segue à risca o que lhe foi ensinado. Mas, fazer o quê?, morre de rir quando, num VT, um anônimo pergunta se Alckmin nunca tinha pensado em "usar peruca, fazer um implante, sei lá". Hebe ri com gosto. Alckmin cora. Uma funcionária do programa faz sinal para que o público bata palmas. A conversa com ele vai se prolongando. Por trás das câmeras, a produtora executiva Regina Chaves agita as mãos para que Hebe dê logo atenção aos outros convidados. A apresentadora ignora e continua falando com Alckmin. Faz um comentário sobre o atual ministro das Cidades, Olívio Dutra. "Aquele bigodão me dá nervoso. Parece que tá cheio de arroz embaixo!"

Nos intervalos, o garçom Fred Cardoso leva água para os convidados e um copinho com suco de limão e mel para Hebe, bom para a voz. Depois de dar atenção para todos os entrevistados, chamar Frank Aguiar de "gostoso", anunciar esponjas, temperos e produtos para o cabelo, a apresentadora se despede.

"Aaahhh!", fazem muxoxo, em coro. Hebe atende mais alguns fãs e sai rumo a seu carro, uma Mercedes prateada com a placa EBE que fica parada bem pertinho do estúdio. No caminho, troca as sandálias de saltos altíssimos que a machucavam pelo sapato masculino do sobrinho e empresário, Cláudio. Seus tornozelos, depois de duas horas de movimento e gargalhadas, estão em carne viva.

MICROFONE

"Maluf está uma coisa horrorosa"

Hebe tem opinião formada sobre tudo. E, num bate-papo sobre política, não poupou críticas nem a Paulo Maluf, a quem apoiou por longos anos.

Folha - O que você acha do cenário político atual?
Hebe Camargo -
Ah, eu tô um pouco enojada com os políticos. Quanto mais eles roubam, mais são inocentes, mais riem da nossa cara. Fico indignada [séria].

Folha - E o Paulo Maluf?
Hebe -
O Maluf também está uma coisa horrorosa. A gente não se fala mais. Participação política não faço mais para ninguém. Fazia para ele porque acreditava. Agora não acredito mais.

Folha - Do Lula você gosta?
Hebe -
Ainda estou esperando. Como disse a Fernanda Montenegro, estou esperando ele começar. Porque esses caras do MST estão se achando no direito de invadir tudo, até terras produtivas. Eles estão fazendo isso porque o Lula sempre liderou esses movimentos, e estão se sentindo no direito de fazer o que quiserem. Acho que ele tinha que tomar uma atitude mais drástica contra os sem-terra.

@: bergamo@folhasp.com.br

Com Cleo Guimarães (reportagem local) e Lucrecia Zappi



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