São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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TEATRO

Universo do cientista americano Richard Feynman é contado no Sesc Santo André por grupo que encenou "Einstein"

Físico americano vira estrela brasileira

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dilema filosófico. Uma decisão de vida ou morte. A luta contra o câncer. O horror da bomba atômica. A perda da mulher. A catástrofe do ônibus espacial. A burocracia das instituições e os horizontes limítrofes do ensino tradicional. O fascínio pela decifração das leis da natureza. A paixão pela mulheres. Carnaval.
Bem-vindo ao inesgotável universo do físico americano Richard Feynman, apresentado pela nova produção do Núcleo Arte Ciência no Palco, em cartaz desde a semana passada no Sesc Santo André.
Criado em 1999, o grupo paulista se especializou na montagem de espetáculos ligados a temas científicos. A viagem começou um ano antes, com a peça "Einstein". O sucesso inspirou a realização de uma série de adaptações com personagens famosos da ciência, como Niels Bohr, Werner Heisenberg e Alan Turing.
"E Agora, Sr. Feynman?", a mais nova montagem da trupe, segue a linha das anteriores, mas aposta num nome que, apesar dos méritos, carece da popularidade de um Einstein. A essa altura, o grupo já pode se dar ao luxo de apostar.
"Eu vim à estréia porque havia visto a montagem de "Einstein", gostei do trabalho deles e decidi conferir este", diz Manuel Diniz, 25, médico que foi à estréia da nova peça. "É uma forma interessante de entrar em contato com idéias que não fazem parte da nossa formação original."
Voltado principalmente para professores, formadores de opinião e estudantes, o trabalho do núcleo já conquistou público cativo. A maioria dos cerca de 250 presentes à estréia já havia visto algum dos espetáculos do grupo -em vários casos, mais de um.
"É uma inspiração para os professores", comenta Rúbia Guedes, 39, coordenadora pedagógica de um cursinho pré-vestibular da Prefeitura de Santo André. "Eles saem com novas idéias de como apresentar os conceitos."
Embora a ciência sirva como fio condutor, o que faz a peça vencer é a capacidade de entrar em contato com as maquinações internas dos personagens. "Não sei se eu aprendi mais sobre física, mas certamente o processo contribui para aprendermos mais sobre o ser humano", diz Oswaldo Mendes, ator que protagoniza a peça, dirigida por Sylvio Zilber.
O texto do espetáculo é americano, escrito por Peter Darnell, adaptado por Mendes e Zilber. "O que fizemos foi basicamente incluir os pedaços que mencionam o Brasil", diz Mendes. "Feynman era louco pelo Brasil, e a peça original passava batido por isso."
De fato, em 1952, o físico americano trabalhou no Rio e chegou a desfilar no Carnaval carioca.
E essa é apenas uma das muitas histórias que fazem dele uma figura interessante. Com uma atuação vibrante e fiel ao espírito de Feynman, Mendes carrega o espetáculo, demolindo a "quarta parede" e levando a platéia do riso às lágrimas. "E Agora, Sr. Feynman?" é um drama que, a despeito do viés científico, é sobretudo profundamente humano.


E AGORA, SR. FEYNMAN? Texto: Peter Parnell. Direção: Sylvio Zilber. Com: Oswaldo Mendes, Monika Plöger. Onde: Sesc Santo André (r. Tamarutaca, 302, tel. 4469-1200). Quando: sáb., 21h; dom., 19h; até 9/5. Quanto: de R$ 5 a R$ 14.


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