São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2005

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Radioatividade

Tecnologia digital indica saídas para a crise criativa e comercial das emissoras de rádio

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há 50 anos, a TV iria matar o rádio. Não matou. Há 20, alguém disse que os videoclipes é que iriam jogar a pá de cal nas FMs. Não foi dessa vez. Com a popularização dos tocadores de MP3 como o iPod, da Apple, que permitem que se carregue no bolso mais de 24 horas de música, o assunto voltou à baila: o rádio vai morrer?
Não necessariamente.
Com a ajuda da mesma tecnologia digital que vem sendo acusada de ameaçá-lo, o rádio -ou a idéia de transmissão de áudio para qualquer tipo de receptores móveis- começou o ano de 2005 como um dos principais tópicos de discussão do universo da música e adjacências, a saber, empresas de tecnologia, fabricantes de celulares e demais interessados no mercado em expansão da distribuição de música digital.
Nos EUA, onde o assunto foi capa da revista "Wired", em março, e também debatido no festival de música e tecnologia M3, em Miami, a renovação do rádio parte de frentes diversas. Uma das mais vigorosas, entretanto, é ascensão das chamadas rádios por satélite, que, semelhante às TVs a cabo, cobram uma assinatura dos usuários em troca de mais de uma centena de canais segmentados, "sem censura e sem comerciais".
"As emissoras tradicionais não são mais controladas por gente da música, mas por contadores", acusa Liquid Todd, DJ e locutor da Sirius Satellite Radio, que tem entre seus programas -não só musicais mas de informação, humor etc.- as grifes do polêmico radialista Howard Stern, Eminem, Fred Schneider (do B52's), Jerry Seinfeld, Bill Cosby e o skatista-celebridade Tony Hawk.
Com 1,5 milhão de assinantes, a Sirius divide o novo mercado com a XM Satellite Radio, que tem uma carteira de clientes ainda mais gorda: 3,8 milhões, com crescimento de 540 mil usuários só no primeiro trimestre de 2005, segundo a "Business Week".
Ainda assim, as velhas FMs não foram deixadas para trás. Fabricantes de telefones celulares e de tocadores de MP3 -neste caso, à exceção da Apple- também já vêm embutindo receptores de ondas de rádio em seus produtos.
"75% das pessoas ainda descobrem suas músicas preferidas ouvindo rádio", afirma Alberto Moriondo, diretor de soluções de entretenimento da Motorola. De olho no filão, a empresa desenvolveu um sistema que permite que o usuário grave um trecho de uma música que esteja tocando numa estação de rádio, envie por celular para uma central e receba os dados sobre a faixa e as possíveis formas de comprá-la por telefone.
Outra ferramenta desenvolvida pela fabricante, batizada de iRadio, possibilita a transmissão de faixas em MP3 do celular diretamente para o rádio do carro.
Principal concorrente, a Nokia também aposta no futuro do rádio. Por meio de uma ferramenta batizada de Visual Radio, o ouvinte recebe no celular, juntamente com o áudio, informações em texto sobre a faixa e outras opções de interatividade.
"O Visual Radio é uma tecnologia que redefine a experiência com o rádio FM não somente para os ouvintes mas também para as estações de rádio, anunciantes e operadoras. Nunca mais as pessoas terão que imaginar quem está tocando o que no rádio", sugere Fiore Mangone, gerente de produtos da empresa.
Outra face do novo "rádio" é a tendência dos "podcasts", que recentemente também chegou ao Brasil. As aspas em rádio são porque, apesar de emular parte da linguagem radiofônica (locução, informação, seleção de músicas etc.), o "podcast" é um arquivo de áudio digital que pode ser gravado por qualquer pessoa e disponibilizado na internet, por meio de blogs e sistemas desenvolvidos especialmente para transmiti-lo a um grupo de assinantes. (Imagine um blog que avisasse ao leitor sobre cada atualização feita pelo autor; é essa a idéia, só que com as informações gravadas em áudio).
"A principal diferença [em relação ao rádio] é que o "podcast" oferece ao ouvinte a escolha de quando ouvir os programas, já que ele baixa para o computador e passa para um tocador portátil, podendo escutar quando tiver tempo livre", explica Guilherme Leite, 28, autor de um dos primeiros "podcasts" do Brasil. "Ele passa para o ouvinte o controle do que ouvir e de quando ouvir."
O também "podcaster" René de Paula Jr. acrescenta: ""Podcasts" são um sintoma, mas não o remédio. O fato de as pessoas estarem buscando alternativas mais humanas, mais espontâneas e autênticas é um sinal de que as rádios de massa estão deixando muito a desejar". Autor do "podcast" "Roda & Avisa", grava reflexões diárias no trânsito, no trabalho e onde quer que tenha um gravador à mão. A imaginação -e uma conexão com a internet- é o limite para a sua rádio particular.


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