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Radioatividade
Tecnologia digital indica saídas para a crise criativa e comercial das emissoras de rádio
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 50 anos, a TV iria matar o rádio. Não matou. Há 20, alguém
disse que os videoclipes é que
iriam jogar a pá de cal nas FMs.
Não foi dessa vez. Com a popularização dos tocadores de MP3 como o iPod, da Apple, que permitem que se carregue no bolso mais
de 24 horas de música, o assunto
voltou à baila: o rádio vai morrer?
Não necessariamente.
Com a ajuda da mesma tecnologia digital que vem sendo acusada
de ameaçá-lo, o rádio -ou a idéia
de transmissão de áudio para
qualquer tipo de receptores móveis- começou o ano de 2005 como um dos principais tópicos de
discussão do universo da música
e adjacências, a saber, empresas
de tecnologia, fabricantes de celulares e demais interessados no
mercado em expansão da distribuição de música digital.
Nos EUA, onde o assunto foi capa da revista "Wired", em março,
e também debatido no festival de
música e tecnologia M3, em Miami, a renovação do rádio parte de
frentes diversas. Uma das mais vigorosas, entretanto, é ascensão
das chamadas rádios por satélite,
que, semelhante às TVs a cabo,
cobram uma assinatura dos usuários em troca de mais de uma centena de canais segmentados, "sem
censura e sem comerciais".
"As emissoras tradicionais não
são mais controladas por gente da
música, mas por contadores",
acusa Liquid Todd, DJ e locutor
da Sirius Satellite Radio, que tem
entre seus programas -não só
musicais mas de informação, humor etc.- as grifes do polêmico
radialista Howard Stern, Eminem, Fred Schneider (do B52's),
Jerry Seinfeld, Bill Cosby e o skatista-celebridade Tony Hawk.
Com 1,5 milhão de assinantes, a
Sirius divide o novo mercado com
a XM Satellite Radio, que tem
uma carteira de clientes ainda
mais gorda: 3,8 milhões, com
crescimento de 540 mil usuários
só no primeiro trimestre de 2005,
segundo a "Business Week".
Ainda assim, as velhas FMs não
foram deixadas para trás. Fabricantes de telefones celulares e de
tocadores de MP3 -neste caso, à
exceção da Apple- também já
vêm embutindo receptores de ondas de rádio em seus produtos.
"75% das pessoas ainda descobrem suas músicas preferidas ouvindo rádio", afirma Alberto Moriondo, diretor de soluções de entretenimento da Motorola. De
olho no filão, a empresa desenvolveu um sistema que permite que o
usuário grave um trecho de uma
música que esteja tocando numa
estação de rádio, envie por celular
para uma central e receba os dados sobre a faixa e as possíveis formas de comprá-la por telefone.
Outra ferramenta desenvolvida
pela fabricante, batizada de iRadio, possibilita a transmissão de
faixas em MP3 do celular diretamente para o rádio do carro.
Principal concorrente, a Nokia
também aposta no futuro do rádio. Por meio de uma ferramenta
batizada de Visual Radio, o ouvinte recebe no celular, juntamente com o áudio, informações em
texto sobre a faixa e outras opções
de interatividade.
"O Visual Radio é uma tecnologia que redefine a experiência
com o rádio FM não somente para os ouvintes mas também para
as estações de rádio, anunciantes
e operadoras. Nunca mais as pessoas terão que imaginar quem está tocando o que no rádio", sugere
Fiore Mangone, gerente de produtos da empresa.
Outra face do novo "rádio" é a
tendência dos "podcasts", que recentemente também chegou ao
Brasil. As aspas em rádio são porque, apesar de emular parte da
linguagem radiofônica (locução,
informação, seleção de músicas
etc.), o "podcast" é um arquivo de
áudio digital que pode ser gravado por qualquer pessoa e disponibilizado na internet, por meio de
blogs e sistemas desenvolvidos especialmente para transmiti-lo a
um grupo de assinantes. (Imagine
um blog que avisasse ao leitor sobre cada atualização feita pelo autor; é essa a idéia, só que com as
informações gravadas em áudio).
"A principal diferença [em relação ao rádio] é que o "podcast"
oferece ao ouvinte a escolha de
quando ouvir os programas, já
que ele baixa para o computador e
passa para um tocador portátil,
podendo escutar quando tiver
tempo livre", explica Guilherme
Leite, 28, autor de um dos primeiros "podcasts" do Brasil. "Ele passa para o ouvinte o controle do
que ouvir e de quando ouvir."
O também "podcaster" René de
Paula Jr. acrescenta: ""Podcasts"
são um sintoma, mas não o remédio. O fato de as pessoas estarem
buscando alternativas mais humanas, mais espontâneas e autênticas é um sinal de que as rádios
de massa estão deixando muito a
desejar". Autor do "podcast"
"Roda & Avisa", grava reflexões
diárias no trânsito, no trabalho e
onde quer que tenha um gravador
à mão. A imaginação -e uma conexão com a internet- é o limite
para a sua rádio particular.
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