São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ERUDITO

Melhor violoncelista do Brasil dá início à temporada do Cultura Artística, com récitas hoje e amanhã em São Paulo

Meneses interpreta profundidade de Bach

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O violoncelista pernambucano Antonio Meneses, 47, com certeza o melhor instrumentista de cordas já surgido no Brasil, inicia com duas récitas, hoje e amanhã, a temporada de 2005 do Cultura Artística, em São Paulo.
Ele fará as "Seis Suítes" para violoncelo solo de Johann Sebastian Bach (1675-1750), escritas provavelmente entre 1720 e 1725 e que são uma parcela preciosa do acervo musical do Ocidente.
Cada peça será precedida de uma curta composição que Meneses encomendou a seis autores brasileiros: Ronaldo Miranda, Almeida Prado, Marisa Rezende, Marlos Nobre, Edino Krieger e Marco Padilha.
O violoncelista já gravou duas vezes a integral dessas "Seis Suítes" de Bach. A segunda versão é a única disponível atualmente no Brasil.
Leia a seguir principais trechos de sua entrevista concedida à Folha dias antes de iniciar a temporada na cidade.
 

Folha - As "Seis Suítes" de Bach são uma bíblia para qualquer violoncelista. De quando data sua familiaridade com essas partituras?
Antonio Meneses -
Comecei a estudá-las ainda garoto. As primeiras vezes em que as ouvi foram com meu pai, que as tocava na trompa. Eu então descobri nelas uma beleza incrível, era algo que me comovia, mesmo criança. Em meu primeiro recital, com 12 anos, no Rio de Janeiro, cheguei a interpretar movimentos da "Suíte nš 3". São peças que me acompanham desde então.

Folha - Hoje essa aproximação se deve mais à riqueza das melodias ou ao desafio técnico que elas representam para o seu instrumento, o violoncelo?
Meneses -
É algo que vai além dessas duas opções. Há a profundidade da música de Bach, algo que atinge de tal maneira a alma de um ser humano que é isso que faz com que seja uma música absolutamente incansável. Eu nunca me cansaria de estudá-las, reinterpretá-las, melhorar meu desempenho. Só os grandes músicos conseguiram escrever algo assim, como Beethoven ou Mozart. São compositores que sempre nos impulsionam para que pesquisemos melhor a interpretação.

Folha - Por que não se encontra por aqui a primeira gravação que você fez, aliás com o violoncelo que foi de Pablo Casals?
Meneses -
Na época, quando me convidaram para gravar as "Suítes" no Japão, não me explicaram exatamente como funcionava a distribuição dos CDs. Quando vim a saber que a gravação se destinava apenas ao mercado japonês, já era tarde demais. Não havia como lançar essa integral mundialmente.

Folha - É a segunda integral, gravada na Inglaterra, que está agora disponível no Brasil, não é?
Meneses -
Sim.

Folha - Com qual dos instrumentos usados nas duas gravações você se sente mais à vontade?
Meneses -
Para falar a verdade, eu me sinto bem com o instrumento que eu tenho agora. É um terceiro violoncelo. O da segunda integral das "Suítes" era um Guillaume, francês. Mas o cello que eu tenho agora é o instrumento de meus sonhos. É um Alessandro Gagliano, de 1704.

Folha - Foi você quem encomendou aos seis compositores brasileiros as curtas peças que estarão também no programa?
Meneses -
Exatamente. Comecei a ter um contato maior com alguns compositores brasileiros no comecinho do ano passado. Almeida Prado, por exemplo, escreveu uma sonata para mim, que interpretei no Festival de Campos do Jordão com a [pianista] Sônia Rubinski. Encontrei-me também com o Marlos Nobre, com o Edino Krieger. Tive então a idéia de encomendar seis pequenas introduções a cada uma das suítes para eles.

Folha - São todas obras curtas?
Meneses -
Exatamente. De cinco a seis minutos.

Folha - Elas evocam especificamente as "Suítes" de Bach?
Meneses -
Eu sugeri que as composições tivessem alguma coisa a ver com Bach ou com o repertório barroco. Mas os compositores tiveram a liberdade de escrever o que fosse mais conveniente. O Ronaldo Miranda, por exemplo, trabalhou com temas da "Suíte nš 1". A Marisa Rezende fez uma obra totalmente livre, que se aproxima apenas da "Suíte nš 5" pela tonalidade.

Folha - Esse formato de concerto também será reaproveitado para outras apresentações futuras suas no exterior?
Meneses -
Sim, sem dúvida. Por enquanto eu gostaria de trabalhar com essa complementação de compositores brasileiros.


Antonio Meneses (violoncelo)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, região central, SP, tel. 0/ xx/11/3258-3344)
Quanto: de R$ 70 a R$ 150 (ou R$ 10 para estudantes, meia hora antes de cada récita)
Patrocinadores: banco Safra, Telefônica, Varig e Votorantim



Texto Anterior: Televisão: Jerry Seinfeld será pai pela terceira vez
Próximo Texto: Debate: "Diálogos Impertinentes" discute o cérebro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.