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ERUDITO
Melhor violoncelista do Brasil dá início à temporada do Cultura Artística, com récitas hoje e amanhã em São Paulo
Meneses interpreta profundidade de Bach
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O violoncelista pernambucano
Antonio Meneses, 47, com certeza
o melhor instrumentista de cordas já surgido no Brasil, inicia
com duas récitas, hoje e amanhã,
a temporada de 2005 do Cultura
Artística, em São Paulo.
Ele fará as "Seis Suítes" para violoncelo solo de Johann Sebastian
Bach (1675-1750), escritas provavelmente entre 1720 e 1725 e que
são uma parcela preciosa do acervo musical do Ocidente.
Cada peça será precedida de
uma curta composição que Meneses encomendou a seis autores
brasileiros: Ronaldo Miranda, Almeida Prado, Marisa Rezende,
Marlos Nobre, Edino Krieger e
Marco Padilha.
O violoncelista já gravou duas
vezes a integral dessas "Seis Suítes" de Bach. A segunda versão é a
única disponível atualmente no
Brasil.
Leia a seguir principais trechos
de sua entrevista concedida à Folha dias antes de iniciar a temporada na cidade.
Folha - As "Seis Suítes" de Bach
são uma bíblia para qualquer violoncelista. De quando data sua familiaridade com essas partituras?
Antonio Meneses - Comecei a estudá-las ainda garoto. As primeiras vezes em que as ouvi foram
com meu pai, que as tocava na
trompa. Eu então descobri nelas
uma beleza incrível, era algo que
me comovia, mesmo criança. Em
meu primeiro recital, com 12
anos, no Rio de Janeiro, cheguei a
interpretar movimentos da "Suíte
nš 3". São peças que me acompanham desde então.
Folha - Hoje essa aproximação se
deve mais à riqueza das melodias
ou ao desafio técnico que elas representam para o seu instrumento,
o violoncelo?
Meneses - É algo que vai além
dessas duas opções. Há a profundidade da música de Bach, algo
que atinge de tal maneira a alma
de um ser humano que é isso que
faz com que seja uma música absolutamente incansável. Eu nunca
me cansaria de estudá-las, reinterpretá-las, melhorar meu desempenho. Só os grandes músicos
conseguiram escrever algo assim,
como Beethoven ou Mozart. São
compositores que sempre nos impulsionam para que pesquisemos
melhor a interpretação.
Folha - Por que não se encontra
por aqui a primeira gravação que
você fez, aliás com o violoncelo que
foi de Pablo Casals?
Meneses - Na época, quando me
convidaram para gravar as "Suítes" no Japão, não me explicaram
exatamente como funcionava a
distribuição dos CDs. Quando
vim a saber que a gravação se destinava apenas ao mercado japonês, já era tarde demais. Não havia como lançar essa integral
mundialmente.
Folha - É a segunda integral, gravada na Inglaterra, que está agora
disponível no Brasil, não é?
Meneses - Sim.
Folha - Com qual dos instrumentos usados nas duas gravações você se sente mais à vontade?
Meneses - Para falar a verdade,
eu me sinto bem com o instrumento que eu tenho agora. É um
terceiro violoncelo. O da segunda
integral das "Suítes" era um Guillaume, francês. Mas o cello que
eu tenho agora é o instrumento de
meus sonhos. É um Alessandro
Gagliano, de 1704.
Folha - Foi você quem encomendou aos seis compositores brasileiros as curtas peças que estarão
também no programa?
Meneses - Exatamente. Comecei
a ter um contato maior com alguns compositores brasileiros no
comecinho do ano passado. Almeida Prado, por exemplo, escreveu uma sonata para mim, que interpretei no Festival de Campos
do Jordão com a [pianista] Sônia
Rubinski. Encontrei-me também
com o Marlos Nobre, com o Edino Krieger. Tive então a idéia de
encomendar seis pequenas introduções a cada uma das suítes para
eles.
Folha - São todas obras curtas?
Meneses - Exatamente. De cinco
a seis minutos.
Folha - Elas evocam especificamente as "Suítes" de Bach?
Meneses - Eu sugeri que as composições tivessem alguma coisa a
ver com Bach ou com o repertório
barroco. Mas os compositores tiveram a liberdade de escrever o
que fosse mais conveniente. O
Ronaldo Miranda, por exemplo,
trabalhou com temas da "Suíte nš
1". A Marisa Rezende fez uma
obra totalmente livre, que se
aproxima apenas da "Suíte nš 5"
pela tonalidade.
Folha - Esse formato de concerto
também será reaproveitado para
outras apresentações futuras suas
no exterior?
Meneses - Sim, sem dúvida. Por
enquanto eu gostaria de trabalhar
com essa complementação de
compositores brasileiros.
Antonio Meneses (violoncelo)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, região central, SP, tel. 0/
xx/11/3258-3344)
Quanto: de R$ 70 a R$ 150 (ou R$ 10
para estudantes, meia hora antes de
cada récita)
Patrocinadores: banco Safra,
Telefônica, Varig e Votorantim
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