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Crítica/"Fôlego"
Narrativa de Kim Ki-duk resulta em mensagem óbvia
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Em pouco tempo, o cineasta coreano Kim Ki-duk passou de novo gênio do cinema asiático a embuste do circuito de arte. A "trajetória" talvez seja um bom
exemplo das idiossincrasias da
crítica, que adora eleger e destruir mitos, do que uma observação justa de suas qualidades.
Prolífico, Kim Ki-Duk despontou no circuito internacional com o impactante "Seom"
("A Ilha"), que concorreu no
Festival de Veneza de 2000.
Desde então vem apresentando ao menos um filme por ano
nos grandes festivais. "Primavera, Verão, Outono, Inverno...
e Primavera" foi consagrado
em Locarno e San Sebastian.
Exibido na última edição de
Cannes, "Fôlego" exemplifica
as potencialidades e limitações
de seu cinema, enquanto sua
capacidade de narrar com poucas palavras chama a atenção.
"Fôlego" começa quando
uma dona-de-casa descobre no
carro do marido um enfeite de
cabelo que não lhe pertence.
Quando o marido volta para casa, ela está usando esse enfeite.
Compreende-se tudo com economia de meios. Na TV, a dona-de-casa acompanha o noticiário sobre um homem condenado à morte que tenta se matar na cadeia. Boa parte das cenas do filme se desenrola na cela que o condenado divide com
três presos, onde também quase não se pronunciam palavras.
Os caminhos da dona-de-casa e do condenado se cruzam
por vontade dela. Metaforicamente presa em uma bela casa,
a mulher se vinga da traição do
marido oferecendo um pouco
de alegria àquele homem que
está, literalmente, preso.
Mas, aos poucos, fica evidente uma certa ostentação desses
recursos em nome de uma
mensagem um tanto óbvia.
Quase sempre a capacidade
narrativa de Kim Ki-duk se põe
a serviço de metáforas de papelão. O silêncio e os enquadramentos diferenciados se repetem com resultados ora mais
interessantes ora menos. "Fôlego" fica num meio-termo.
Tem belos personagens e não
chega a ser um desfile de quadros bonitos como "Primavera,
Verão...", mas a sensação final
ainda é de um conjunto vazio.
FÔLEGO
Produção: Coréia do Sul, 2007
Direção: Kim Ki-duk
Com: Chang Chen e Park Ji-a
Onde: em cartaz no Reserva Cultural 2
Avaliação: regular
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