São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

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Crítica/"Fôlego"

Narrativa de Kim Ki-duk resulta em mensagem óbvia

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Em pouco tempo, o cineasta coreano Kim Ki-duk passou de novo gênio do cinema asiático a embuste do circuito de arte. A "trajetória" talvez seja um bom exemplo das idiossincrasias da crítica, que adora eleger e destruir mitos, do que uma observação justa de suas qualidades. Prolífico, Kim Ki-Duk despontou no circuito internacional com o impactante "Seom" ("A Ilha"), que concorreu no Festival de Veneza de 2000.
Desde então vem apresentando ao menos um filme por ano nos grandes festivais. "Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera" foi consagrado em Locarno e San Sebastian.
Exibido na última edição de Cannes, "Fôlego" exemplifica as potencialidades e limitações de seu cinema, enquanto sua capacidade de narrar com poucas palavras chama a atenção.
"Fôlego" começa quando uma dona-de-casa descobre no carro do marido um enfeite de cabelo que não lhe pertence.
Quando o marido volta para casa, ela está usando esse enfeite. Compreende-se tudo com economia de meios. Na TV, a dona-de-casa acompanha o noticiário sobre um homem condenado à morte que tenta se matar na cadeia. Boa parte das cenas do filme se desenrola na cela que o condenado divide com três presos, onde também quase não se pronunciam palavras.
Os caminhos da dona-de-casa e do condenado se cruzam por vontade dela. Metaforicamente presa em uma bela casa, a mulher se vinga da traição do marido oferecendo um pouco de alegria àquele homem que está, literalmente, preso.
Mas, aos poucos, fica evidente uma certa ostentação desses recursos em nome de uma mensagem um tanto óbvia.
Quase sempre a capacidade narrativa de Kim Ki-duk se põe a serviço de metáforas de papelão. O silêncio e os enquadramentos diferenciados se repetem com resultados ora mais interessantes ora menos. "Fôlego" fica num meio-termo.
Tem belos personagens e não chega a ser um desfile de quadros bonitos como "Primavera, Verão...", mas a sensação final ainda é de um conjunto vazio.


FÔLEGO
Produção:
Coréia do Sul, 2007
Direção: Kim Ki-duk
Com: Chang Chen e Park Ji-a
Onde: em cartaz no Reserva Cultural 2
Avaliação: regular


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