São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2011

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Beto Bruel ilumina cena teatral desde os anos 70

Iluminador possui perfil obsessivo que agrada a muitos diretores do país

Veterano autodidata já trabalhou no cinema, iluminou shows de MPB e diz que tenta "entrar no cérebro do diretor"

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se teve alguém que marcou presença nesta edição do Festival de Curitiba -encerrada no último dia 10- foi o iluminador Beto Bruel.
Era comum vê-lo em plateias, pelas ruas da cidade acompanhando o fluxo de espectadores com seu jeito bonachão. Ou, ainda mais frequente, no "backstage" de algum espetáculo.
Isso porque cinco montagens tinham iluminação assinada por ele, entre elas "Murro em Ponta de Faca", dirigida por Paulo José, e "Trilhas Sonoras de Amor Perdidas", de Felipe Hirsch, impulsionada pela meia-luz do aconchego de um lar.
Veterano autodidata que iniciou sua carreira nos anos 70 com um grupo amador de Curitiba, Bruel tem um perfil obsessivo que os diretores adoram. Obsessivo no bom sentido. "Quanto mais ensaios eu vejo, quanto mais ouço sobre o conceito da peça, mais posso entrar no cérebro do diretor", explica.
Hirsch, parceiro de trabalho há mais de 15 anos, conta que Bruel não desiste nunca de um projeto, mesmo quando as soluções parecem inalcançáveis. Caso de "Não Sobre o Amor" (foto no alto), quebra-cabeça que em 2009 rendeu a Bruel o principal prêmio de iluminação no World Stage Design, o Oscar de quem trabalha com recursos cenográficos, em Seul.
No espetáculo, cabia a ele iluminar a cena com holofotes que deveriam ficar localizados atrás das paredes do cenário. Luz frontal estava fora de cogitação. Os fachos, enfim, vazavam por duas janelas. "Cenário grandiosos são nossos inimigos mortais. Alguns diretores acham que luz faz curva", ele brinca.

MUITA PESQUISA
Para conseguir um bom resultado, Bruel passou dias pesquisando tipos de madeira (e de verniz) que pudessem refletir esses fachos e tornar a ambientação nítida e uniforme. O madeiramento foi usado pela cenografia de Daniela Thomas, outra velha parceira da Sutil Companhia, dirigida por Hirsch.
Foi com Thomas e com a Sutil que Bruel fez seus principais trabalhos. Sete deles foram indicados ao Shell, e três foram vencedores.
São todos trabalhos meticulosos que revelam o olhar de alguém dedicado a uma pesquisa que entrelaça conceito e tecnologia.
Bruel hoje está de olho nas marcas de LED que não gastam energia como as tradicionais lâmpadas parabólicas. "O cenário de "Pterodátilos" fica um forno", ele protesta. "Não sei como o [Marco] Nanini aguenta."
Sua sensibilidade visual também aponta para um outro problema crônico: ano a ano, espetáculos necessitam de mais de luz. "Perdemos referência do que é o escuro, porque não ficamos nunca no escuro." Da porta de um teatro no centro de Curitiba ele aponta a rua: "Tudo ali fora está iluminado demais".
Suas experiências também lhe conferiram um papel incomum entre iluminadores. Ele dá palpites na direção. Peças baseadas em contos de Dalton Trevisan, por exemplo, pedem luz indireta "para não quebrar o clima sórdido, acentuar a mesquinhez dos personagens".
Também houve o famoso caso em que ele determinou que uma cena do espetáculo "Colônia Cecília" deveria ter luz clara e chapada. O diretor Ademar Guerra havia pedido "clima de penumbra" para representar o dia que seguiria uma manhã com geada. Só que Bruel apontou um erro: depois de geada sempre faz dia de sol forte e claro, principalmente em Curitiba.
Além do extenso trabalho com a Sutil, o iluminador trabalhou com os diretores Edson Bueno e Hector Babenco e também fez projetos para shows de Caetano Veloso com Roberto Carlos.


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