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LIVRO LANÇAMENTO
Hobsbawm revela usos da história
SYLVIA COLOMBO
Editora-assistente da Ilustrada
Por mais que pareça estranho,
um historiador que acredite na
existência dos fatos, pura e simplesmente, é hoje olhado com alguma desconfiança por seus pares.
O cruzamento dos discursos e o
estudo do particular para desautorizar elucidações genéricas tomou
conta da historiografia, rotulando
de forma pejorativa os discípulos
das grandes narrativas com o termo "positivistas".
Na coletânea "Sobre História",
do historiador Eric Hobsbawm,
lançado no Brasil nesta semana
pela Companhia das Letras, algumas questões conceituais e metodológicas sobre o estudo da disciplina são levantadas e discutidas.
Os textos são ensaios do pensador, nascido no Egito e radicado
em Londres, que foram escritos
nos últimos 30 anos.
As questões a que ele se propõe
no livro: o que é fazer história, como se faz, como ele próprio a encara e o sentido que o desenvolvimento desse saber tem para a sociedade contemporânea pode, a
princípio, soar como uma série de
preocupações corporativas.
Longe disso, o livro funciona,
pela clareza da exposição e pela
proximidade dos exemplos, uma
espécie de introdução (ainda que
atormentada) à história.
Numa explicação endereçada ao
senso comum, Hobsbawm nos
apresenta o passado como a justificativa para que as sociedades assumam que são como são. O passado como um referencial, um padrão para o presente.
E apresenta exemplos particulares: para que guardamos fotos e
objetos de pessoas queridas? As
elocubrações se ampliam para receitas mais amplas: por que um
povo indígena cultiva em seus descendentes histórias sobre as terras
que já ocuparam, a vida que já viveram, como que para criar na nova geração a idéia de um passado
ideal para o qual é possível voltar,
ainda que por meio das lutas? Assinala os dois fenômenos como
usos da história.
Do uso para o abuso, Hobsbawm mostra como um historiador pode ser tão perigoso quanto
um físico nuclear. Quando existe
para justificar ideologicamente
um regime de governo ou quando
produz saber que alimenta, por
exemplo, grupos terroristas que
passam a ter no passado a justificativa para atos que lhes devolvam
a antiga moralidade.
A imprensa e a crítica gostam de
frisar a idéia de que Hobsbawm é
ainda um marxista, num tom de
surpresa e até de indignação. Ele
defende, sim, o marxismo como
sua principal bandeira. Mas menos enquanto discurso político do
que como um modelo para se entender a história. "Mesmo que eu
achasse que grande parte da abordagem da história por Marx precisasse ser jogada no lixo, ainda assim continuaria a levá-la em consideração."
Defendendo a idéia de que somente a generalização pode ajudar
a detectar tendências, Hobsbawm
deixa claro o eurocentrismo de
suas análises, visto que suas generalizações partem do referencial
europeu: "Infelizmente, a única
sociedade na história que até hoje
fornece material adequado para o
estudo da relativa atração de ancestrais e da novidade é a sociedade capitalista ocidental dos séculos 19 e 20".
Ele explica, quase que pedindo
desculpas a seus colegas de profissão, que o seu ofício de detectar a
formação de mitos e tendências na
hora em que estão sendo gerados,
nunca fará deles figuras populares
na sociedade em que vivem.
Livro: Sobre História
Autor: Eric Hosbawm
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: preço indefinido (344 págs.)
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