São Paulo, sexta-feira, 25 de maio de 2001

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Surfe domina novo CD do Kid Abelha

DA REPORTAGEM LOCAL

Os quarentões (ou quase) do Kid Abelha iniciam nova etapa de sua carreira (mudaram de gravadora pela primeira vez em 19 anos de trabalho) fazendo do surfe o tema circular de seu novo álbum.
Não é adolescência tardia, dizem. "Surf" fala de aventuras praieiras cariocas, mas as letras de Paula Toller, 38, vêm impregnadas de melancolia.
A cantora e compositora do grupo explica: ""Eu contra a Noite" e "Da Lama à Pista", por exemplo, são opostas uma da outra. Uma é alegre, a outra é amarga, é "dia de gente" versus "dia de cão". É tudo muito pessoal, veio de um período recente em que passei por muita coisa complicada, por perdas na família. Tive que me dividir para fazer essas canções".
Ela adota o surfista como símbolo da divisão: "O surfista é um ser que passa a impressão de estar sempre alegre. E é solitário, passa a impressão ilusória de ser feliz sozinho, da qual sinto inveja".
""O Rei do Salão" é sobre surfe, mas é uma música introspectiva. O que se espera de surf music é o contrário dessa música, que é surfe em preto-e-branco. A ressaca também é um tema, em "Ressaca 99'", completa o saxofonista e compositor George Israel, 40.
"É quando a paisagem, que é tão bonita, passa a ameaçar você, o mar e as montanhas parecem ameaçadores", divaga Paula, negando qualquer relação com o acidente do amigo e ex-marido Herbert Vianna. "Não, o acidente foi bem depois", diz.
Alguém no trio ainda pega onda? "Eu até pego onda de brincadeira, meio devagarzinho. Tenho um filho pequeno que está aprendendo. Bruno (Fortunato, 42, o guitarrista) pegou onda na adolescência", diz George.
Há aí um quê de saudosismo? "Não, porque ao longo da nossa vida sempre houve isso. Os caras do rock estão fazendo 60 anos e ainda tocando guitarra, rock é um estilo de vida", compara.
Em "Surf", os produtores habituais do Kid (George e Kadu Menezes, espécie de coringa do grupo) deram lambuja a Memê e a Max de Castro, em duas faixas cada um. Diz George: "Temos certa resistência em colocar alguém de fora, medo de sermos enquadrados em produção de série. Somos caóticos e de certa forma artesanais. Para a geração do Max, estúdio é natural, para nós, no começo era meio uma nave espacial".
Paula fala sobre o convite a Max: "Queríamos ter alguém novo, e sua presença nos ajudou no departamento soul, que sempre gostamos". Bruno ajuda a explicar: "Contornamos uma coisa mais acomodada. Se dizemos "vamos levar um funk" sai algo óbvio, comum, clichê do clichê. Com Max pudemos aprofundar nosso contato com esse lado".
Sobre Memê: "Ele tem essa idéia eletrônica, que nos interessa, mas não queríamos colocar no disco inteiro". Ela despista o dado de Memê vir da recente produção do disco de "funk" do É o Tchan: "É um serviço que ele faz. A gente puxa a orelha dele".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

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