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Surfe domina novo CD do Kid Abelha
DA REPORTAGEM LOCAL
Os quarentões (ou quase) do
Kid Abelha iniciam nova etapa de
sua carreira (mudaram de gravadora pela primeira vez em 19 anos
de trabalho) fazendo do surfe o tema circular de seu novo álbum.
Não é adolescência tardia, dizem. "Surf" fala de aventuras
praieiras cariocas, mas as letras de
Paula Toller, 38, vêm impregnadas de melancolia.
A cantora e compositora do
grupo explica: ""Eu contra a Noite" e "Da Lama à Pista", por exemplo, são opostas uma da outra.
Uma é alegre, a outra é amarga, é
"dia de gente" versus "dia de cão". É
tudo muito pessoal, veio de um
período recente em que passei
por muita coisa complicada, por
perdas na família. Tive que me dividir para fazer essas canções".
Ela adota o surfista como símbolo da divisão: "O surfista é um
ser que passa a impressão de estar
sempre alegre. E é solitário, passa
a impressão ilusória de ser feliz
sozinho, da qual sinto inveja".
""O Rei do Salão" é sobre surfe,
mas é uma música introspectiva.
O que se espera de surf music é o
contrário dessa música, que é surfe em preto-e-branco. A ressaca
também é um tema, em "Ressaca
99'", completa o saxofonista e
compositor George Israel, 40.
"É quando a paisagem, que é tão
bonita, passa a ameaçar você, o
mar e as montanhas parecem
ameaçadores", divaga Paula, negando qualquer relação com o
acidente do amigo e ex-marido
Herbert Vianna. "Não, o acidente
foi bem depois", diz.
Alguém no trio ainda pega onda? "Eu até pego onda de brincadeira, meio devagarzinho. Tenho
um filho pequeno que está aprendendo. Bruno (Fortunato, 42, o
guitarrista) pegou onda na adolescência", diz George.
Há aí um quê de saudosismo?
"Não, porque ao longo da nossa
vida sempre houve isso. Os caras
do rock estão fazendo 60 anos e
ainda tocando guitarra, rock é um
estilo de vida", compara.
Em "Surf", os produtores habituais do Kid (George e Kadu Menezes, espécie de coringa do grupo) deram lambuja a Memê e a
Max de Castro, em duas faixas cada um. Diz George: "Temos certa
resistência em colocar alguém de
fora, medo de sermos enquadrados em produção de série. Somos
caóticos e de certa forma artesanais. Para a geração do Max, estúdio é natural, para nós, no começo era meio uma nave espacial".
Paula fala sobre o convite a Max:
"Queríamos ter alguém novo, e
sua presença nos ajudou no departamento soul, que sempre gostamos". Bruno ajuda a explicar:
"Contornamos uma coisa mais
acomodada. Se dizemos "vamos
levar um funk" sai algo óbvio, comum, clichê do clichê. Com Max
pudemos aprofundar nosso contato com esse lado".
Sobre Memê: "Ele tem essa idéia
eletrônica, que nos interessa, mas
não queríamos colocar no disco
inteiro". Ela despista o dado de
Memê vir da recente produção do
disco de "funk" do É o Tchan: "É
um serviço que ele faz. A gente
puxa a orelha dele".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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