São Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2004

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CINEMA

"Tarja Preta" é recomendável antitédio

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ventos de renovação sopraram na direção do Canal Brasil. "Tarja Preta", dirigido e apresentado pelo ator Selton Mello, que estréia amanhã, é boa notícia para eventuais entediados da habitual sisudez do canal e um duro golpe para os que não toleram planos caóticos e operadores de câmera idem.
Tirando partido do jeito de moleque que não reverencia o próprio (inegável) talento, Mello zomba de saída dos "patrões": "O Canal Brasil me convidou para fazer um programa. Estranho, né?".
O "diálogo" com o espectador é um dos recursos de "Tarja Preta", que também se serve de historietas ficcionais, num estilo que parece prestar tributo simultaneamente ao cinema trash nacional e aos preceitos do Dogma 95 -o defunto decálogo do despojamento cinematográfico, prescrito pelo dinamarquês Lars von Trier.
A peça de resistência do programa é uma entrevista com uma personalidade do cinema. As historietas de ficção pontuam o percurso de Mello até o tête-à-tête.
O ator Paulo César Pereio é o convidado da edição de estréia, numa escolha pelo critério das afinidades eletivas, que Mello não se preocupa em disfarçar. E que Pereio reconhece com uma gentil referência indireta, quando aponta o que supõe ser uma coincidência no caráter de ambos. Qual seja: a de serem "diabólicos, nem anabólicos nem parabólicos".
A conversa entre iguais favorece a entrevista. Um exemplo é a revelação que (o hoje abstêmio) Pereio faz das saudades que sente de tomar um porre. Quem lhe faz falta é sua "persona bêbada", sem freios para dizer tudo o que deseja, que pode depois pedir perdão em nome do excesso de álcool.
Parece também ser o fato de estar diante de um ator como ele que incentiva Pereio a não tergiversar nas respostas do "questionário Tarja Preta", que encerra o programa. A um jornalista ele confessaria o filme que se arrepende de ter feito? Justo aquele?


TARJA PRETA. Quando: quartas, às 23h, no Canal Brasil.


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