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CINEMA
"Tarja Preta" é recomendável antitédio
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ventos de renovação sopraram na direção do Canal
Brasil. "Tarja Preta", dirigido e
apresentado pelo ator Selton Mello, que estréia amanhã, é boa notícia para eventuais entediados da
habitual sisudez do canal e um
duro golpe para os que não toleram planos caóticos e operadores
de câmera idem.
Tirando partido do jeito de moleque que não reverencia o próprio (inegável) talento, Mello
zomba de saída dos "patrões": "O
Canal Brasil me convidou para fazer um programa. Estranho, né?".
O "diálogo" com o espectador é
um dos recursos de "Tarja Preta",
que também se serve de historietas ficcionais, num estilo que parece prestar tributo simultaneamente ao cinema trash nacional e
aos preceitos do Dogma 95 -o
defunto decálogo do despojamento cinematográfico, prescrito
pelo dinamarquês Lars von Trier.
A peça de resistência do programa é uma entrevista com uma
personalidade do cinema. As historietas de ficção pontuam o percurso de Mello até o tête-à-tête.
O ator Paulo César Pereio é o
convidado da edição de estréia,
numa escolha pelo critério das
afinidades eletivas, que Mello não
se preocupa em disfarçar. E que
Pereio reconhece com uma gentil
referência indireta, quando aponta o que supõe ser uma coincidência no caráter de ambos. Qual seja: a de serem "diabólicos, nem
anabólicos nem parabólicos".
A conversa entre iguais favorece
a entrevista. Um exemplo é a revelação que (o hoje abstêmio) Pereio faz das saudades que sente de
tomar um porre. Quem lhe faz falta é sua "persona bêbada", sem
freios para dizer tudo o que deseja, que pode depois pedir perdão
em nome do excesso de álcool.
Parece também ser o fato de estar diante de um ator como ele
que incentiva Pereio a não tergiversar nas respostas do "questionário Tarja Preta", que encerra o
programa. A um jornalista ele
confessaria o filme que se arrepende de ter feito? Justo aquele?
TARJA PRETA. Quando: quartas, às 23h,
no Canal Brasil.
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