São Paulo, sexta-feira, 25 de maio de 2007

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Crítica/"O Tigre e a Neve"

Populismo estraga filme de Benigni

Diretor de "A Vida É Bela" parece lutar para reconquistar sua popularidade em longa que se passa na Guerra do Iraque

CRÍTICO DA FOLHA

N ão faz muito tempo, o diretor e ator italiano Roberto Benigni era rei. Hoje, caiu em desgraça. A quase unanimidade em torno de "A Vida É Bela" (filme-rival do brasileiro "Central do Brasil", de Walter Salles, na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro em 1999) e sua onipresença na mídia testaram os limites da paciência do público. Em 2002, a versão de Benigni para a história de Pinóquio -o filme leva o nome do boneco de madeira- foi um grande estouro de bilheteria na Itália, mas, por aqui, saiu direto em DVD.
Agora, "O Tigre e a Neve", concluído em 2005, chega aos cinemas brasileiros. O último longa de Benigni é um filme estranho, que, por um lado, mais parece uma jogada oportunista de reconquista da popularidade, mas, por outro, também parece refletir uma preocupação muito sincera de seu criador.
No filme, Roberto Benigni defende pontos muito interessantes: se a linguagem constrói o mundo, e se a linguagem permite a poesia, de onde vem tanta guerra e brutalidade? É uma pergunta ingênua, mas muito eficaz justamente pela ingenuidade que guarda. Desse ponto de vista, a guerra se faz ainda mais absurda.

Iraque
"O Tigre e a Neve" foi batizado de "A Vida É Bela no Iraque". Sua premissa, de fato, permite essa comparação. O ator e cineasta retoma a mesma lógica do filme que lhe deu fama mundial ao contar a história de um homem apaixonado que vai ao Iraque, em plena guerra, para salvar a mulher que ama, vítima de um ataque a bomba. Benigni cria alguns momentos realmente tocantes e divertidos.
O músico Tom Waits participa do curioso sonho felliniano que abre e entrecorta o filme, por exemplo. Em outros momentos, porém, o diretor apela para um populismo desgraçado, que compromete a sua proposta e joga boa parte da poesia por água abaixo.

O chato
Uma cena do filme é especialmente divertida. Preso por engano pelos americanos, o professor Attillio, personagem interpretado pelo próprio Benigni, grita sem parar que é italiano. Grita tanto que provoca a ira de um velhinho iraquiano ao seu lado, que reage: "Cala a boca!".
Trata-se, no mínimo, de uma demonstração de plena consciência de sua chatice, ou, pelo menos, de uma boa piada com sua grande fama de chato. No panorama desolador do cinema italiano atual, é difícil não reconhecer que Benigni, ao menos, tem um universo próprio. Ele é um chato, está certo, mas um chato com algum talento e domínio de linguagem. Para quem tem afinidades com seu universo, "O Tigre e a Neve" tem lá seu encanto. (PEDRO BUTCHER)


O TIGRE E A NEVE
Direção: Roberto Benigni
Produção: Itália, 2005
Com: Roberto Benigni, Jean Reno e Nicoletta Braschi
Quando: estréia hoje no Cine Bombril, Frei Caneca Unibanco Arteplex, Kinoplex Itaim e circuito
Avaliação: regular



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