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DVDs - Crítica/"O Primo Basílio"
Daniel Filho faz melodrama mumificado
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Um nome central para
compreender o cinema brasileiro atual,
mais que Fernando Meirelles,
José Padilha ou qualquer outro, é Daniel Filho, ator competente no passado e hoje patrono da aproximação entre TV
(leia-se Rede Globo) e cinema,
essencial para a criação de nossa "indústria de cinema".
Por seu longo vínculo com a
Globo, Daniel Filho pode ser
visto como o homem capaz de
aproximar um cinema sem público de um padrão de espetáculo de massa feito pela TV.
Daniel Filho dirige os protótipos desse ideal estético. O resultado pode ser uma boa comédia, como "Se Eu Fosse Você", mas também pode revelar
os limites dessa estratégia desastrosa, quando o cineasta se
mostra mais ambicioso. É o caso de "O Primo Basílio".
Fosse uma minissérie, tinha
tudo para ser recebido com a
complacência habitual reservada a "produtos de qualidade" da
Globo: São Paulo nos anos 50
parece São Paulo nos anos 50, a
reconstituição histórica é verossímil (leia-se: um decalque
às revistas de época), o texto é
profundo (entenda-se: bom para as massas ignorantes, que assim são civilizadas pela TV), a
interpretação, primorosa (superficial como sempre) etc.
No cinema, a impressão é
bem outra: "O Primo Basílio"
sofre de uma concepção dramatúrgica antiquada, tolamente melodramática; de uma
montagem quadrada, estática,
adequada aos filmes dos anos
30 (padrão no Brasil, hoje) e a
fotografia é quase um acinte, tal
sua vulgaridade.
À força de querer achar no
espetáculo cinematográfico
uma extensão da TV e seu caráter "comunicativo", o filme de
Daniel Filho ignora praticamente tudo o que o cinema
questionou desde, pelo menos,
o fim da Segunda Guerra para
se refugiar num realismo pré-neo-realista: realismo verista
que estaria vencido há 50 anos
caso tivesse sido usado por algum bom filme, em algum momento da história.
Daí, talvez, a impressão incômoda de estarmos vendo um
produto mumificado e ressuscitado sete décadas depois.
Todo o vigor do nosso cinema se fez, pelo menos desde o
cinema novo, sobre a capacidade de achar respostas estéticas
adequadas ao estado do cinema
e também ao do país.
Toda sua fragilidade atual
passa pela absoluta insuficiência de pensamento teórico e conhecimento histórico, da qual
decorre a ilusão de estarmos fazendo "cinema popular", quando apenas promovemos o atraso estético a padrão compulsório, à custa de preservar a ilusão
de que novelas de TV constituem uma espécie de vanguarda estética mundial (e não uma
tara nacional).
Para sabermos algo sobre o
casamento, podemos recorrer a
qualquer filme de Lubitsch ou
Cukor ou McCarey, isto é, a
qualquer bom filme do momento em que a representação
clássica fazia sentido, e saberemos infinitamente mais sobre
o casamento, a paixão, o desejo
e, sobretudo, o cinema.
O PRIMO BASÍLIO
Diretor: Daniel Filho
Distribuidora: Buena Vista Home Entertainment
Quanto: R$ 22, em média
Avaliação: ruim
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