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LANÇAMENTO
Obra de Oliveira retoma lições de 68
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
"Louco por Cinema" foi o tipo
do filme deslocado nesse "renascimento" do cinema brasileiro:
personalíssimo, dava-se ao luxo
de incluir todas as idiossincrasias
de André Luiz Oliveira, seu diretor, em detrimento do tempo, da
norma ou do gosto público.
É compreensível que tenha sido
um fracasso. O cinema brasileiro
atual busca se reafirmar entrando
pela porta de serviço, aparentando
aquela humildade e bons modos
próprios dos bons empregados,
aqueles que sabem o seu lugar.
Não que isso seja errado. Talvez
não exista mesmo alternativa.
"Louco por Cinema" talvez fosse
de fato um arcaísmo, uma emanação tardia de 68.
O livro
"Louco por Cinema", o livro
que se lança hoje no Rio e amanhã
em São Paulo, mais do que ajudar
a compreender o processo de criação do filme, coloca em relevo algumas questões muito atuais.
Começando pelo começo: a idéia
inicial era publicar apenas o roteiro do filme. Concebeu-se uma introdução.
Aos poucos, ela tornou-se uma
autobiografia reduzida; o livro,
uma simbiose do cinema com a vida -que é também o que é o próprio filme.
Pois "Louco por Cinema" não é
um desses títulos blasés que buscam tirar partido de um amor -o
mais das vezes narcisista- pelo
cinema. É a história de um diretor
recolhido a horas tantas a um sanatório.
Exatamente o que aconteceu
com André Luiz Oliveira no começo dos anos 70, uma história que
começou quando foi preso pelo
simples fato de estar sem documentos e com os cabelos compridos. Condenado a um ano de detenção, terminou cumprindo pena em um manicômio judiciário.
Se o caso é central -pois dele
surge a idéia do filme-, é apenas
um entre os muitos episódios que
nos levam da Bahia à Índia e do
Guarujá a Brasília. Pois "Louco
por Cinema" é uma história de andanças, de derivas. Do cinema,
passa-se à música, mas a música já
inclui a poesia, pois o show
"Mensagem" era uma adaptação
de poemas de Fernando Pessoa.
Hoje se chamaria a isso multimídia. Não é o caso. O rótulo tem algo de mercadológico, de classificatório. Exclui a paixão, a vontade
de uma alma de se manifestar -e
é isso que move o trabalho de André Luiz Oliveira.
Música, cinema, literatura são
uma coisa só. Trechos de um corpo marcado pela arte da paixão.
Seria injusto dizer que "Louco
por Cinema", o livro ou o filme,
colocam em questão nosso cinema e nossa literatura contemporâneos. Eles se dirigem, eles atingem
a caretice do presente como uma
lição de suave resistência contra o
tempo da vida pré-fabricada.
Talvez não haja muitas escolhas
-como no caso do cinema. Mas a
lição está dada por esse livro de exceção.
O quê: lançamento do livro "Louco por
Cinema"
Quando: hoje no Rio e amanhã em SP,
sempre às 20h30
Onde: Espaço Unibanco de Cinema (no
Rio, r. Voluntários da Pátria, 35; em SP, r.
Augusta, 1.470)
Lançamento: 30º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Quanto: não definido ( 234 págs.)
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