|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Comercialismo deslavado é a meta
DO ENVIADO AO RIO
A convicção do poder pop
tem sido a tônica da história
inteira de Lulu Santos, e os encontros musicais com o produtor e DJ
Memê são alguns daqueles momentos em que a química se completa do modo mais deslavado.
"Bugalu" é prova incontestável disso.
Lulu vem de dois insucessos comerciais relativos no formato
pop-rock ("Calendário", de 99, e "Programa", de 2002) e de um
êxito total numa das fórmulas
aprisionadoras do pop brasileiro
atual ("Acústico MTV", 2000).
Afastando-se de novo dos cânones pop-rock (mas também da assepsia acústica), "Bugalu" cobiça o comercialismo pop descarado
que fez o azeite dos dois primeiros
discos com Memê.
Até os radicaliza, porque é provavelmente o trabalho mais pautado nas frequências black de funk, soul e discothèque que já
fez. Lembra o Lulu Santos de "Tempos Modernos" (82) -com
a diferença de que aquele moço já
queria ser negão, mas se fazia de
roqueiro new wave.
Não é por acaso que regrava
agora "Melô do Amor", soul obscuro que apareceu primeiro na
trilha da novela "Plumas & Paetés" (80). Lulu ainda era Luís
Maurício, aspirante a pop star que
saíra do grupo de rock progressivo Vímana e ainda não encontrara a pista para o sucesso.
"Melô do Amor" agora virou soul quebra-barraco, de homenagem aos vocais americanos da Motown e ao brasileiríssimo soul
nordestino dos Diagonais de Cassiano. Lulu incorpora um falsete
black como jamais fizera, coisas de cantor meio inseguro.
O CD é uma fileira de truques -quer vender, fazer sucesso, sabotar o negro marginalizado que se esconde atrás do roqueiro mais
pop-popular do Brasil.
Os truques? "Já É", a da novela de 2003, é black pop tolo, inconsequente. Mas ponha tento na letra, tão tristonha e marqueteira ao
mesmo tempo. Se pensar ouvir de
uma só vez Skank e MC Serginho
ou Claudinho & Buchecha e Kelly
Key em "Leite & Mel", relaxe. Eles
estão todos lá, como estão em outras faixas o virtuose Marcos Valle
e o seriíssimo Pedro Mariano.
Trapaça das mais saborosas se
encontra na contagiosa "Jahu",
historinha de inversões sobre moças peitudas nas calçadas e fortões
pendurados em andaimes -ou
vice-versa. Ou nada disso.
Andarilho entre essas vias todas, Lulu nem evita o tecno de
"Chega de Dogma", que parece
um apêndice num disco de soul-funk-disco-new wave. Árida, se
faz a faixa mais antipática do disco, pedrinha mal-humorada no
sapato de um projeto que quer o
sucesso a todo custo.
Se é para ser assim, a receita é a
mais Lulu Santos possível: alegria,
alegria, alegria. É tanta alegria que
é até perigoso.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Bugalu
Artista: Lulu Santos
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 28, em média
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Faixa critica uso político da religião Índice
|