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LITERATURA
Autores como o argentino Juan José Saer e o cubano Pedro Juan Gutiérrez debatem isolacionismo de nossas letras
Vanguardas latinas "tiram atraso" no CCBB
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
As vanguardas artísticas brasileiras nasceram com antolhos,
aquelas peças que se coloca nos
cavalos para evitar que olhem para os lados. Os modernistas tupiniquins vigiavam o que se passava
na Europa e praticamente ignoravam o que havia de novo nos vizinhos sul-americanos.
Um seminário que começa hoje
em Brasília, e que teve largada ontem no Rio, procura examinar os
motivos desses tapa-olhos e discutir a integração do nossos escritores com os "hermanos" de língua espanhola.
"Vanguardas Literárias da
América Latina", evento que
acontece nas unidades do Centro
Cultural Banco do Brasil do Rio e
do Distrito Federal, reúne uma
equipe pequena, mas selecionada
de escritores e críticos, nacionais e
importados.
Tido como o maior escritor
contemporâneo da argentina, o
romancista, crítico e poeta Juan
José Saer, radicado na França desde os anos 60, fala hoje em Brasília, dividindo mesa com um dos
principais estudiosos dos latino-americanos de vanguarda no Brasil, o professor da Universidade
de São Paulo Jorge Schwartz.
Os dois vão defender o tema
"Vanguarda, Influência e Adjacências". "Vou fazer uma retrospectiva da minha própria produção", adianta Schwartz, que pesquisa as vanguardas há 25 anos.
A miopia brasileira com relação
ao que faziam os artistas de frente
latinos -e vice-versa-, um dos
temas do ensaio "Vanguarda e
Cosmopolitismo" (ed. Perspectiva), do professor da USP, será o
ponto de partida.
"Os diálogos que aconteceram,
como o de Mário de Andrade
com argentinos, que está sendo
levantado agora, foi ocasional",
afirma o ensaísta, organizador
das obras completas de Jorge Luís
Borges para a editora Globo e curador de exposições como "Da
Antropofagia a Brasília".
O cubano Pedro Juan Gutiérrez
defende que esse autismo das
vanguardas latino-americanas
não acontece mais.
Um dos grandes "bad boys" da
literatura em língua espanhola, o
autor de "Trilogia Suja de Havana" (Companhia das Letras) diz
que é alto o intercâmbio entre os
grandes escritores brasileiros e os
nomes centrais de países como
Argentina, Cuba e México.
Mas Gutiérrez acredita que as
vanguardas hoje são totalmente
diferentes das de outrora. "O termo vanguarda sempre se referiu à
destruição de códigos anteriores
para a criação de novos. As novas
vanguardas não estão funcionando assim", disse à Folha. "Hoje a
vanguarda é o trabalho com toda
a matéria-prima disponível em
torno do escritor."
O autor cubano, que nesta quarta visita ao Brasil faz palestras hoje
no Rio (cujo centro diz ter achado
"idêntico a Havana") e amanhã
em Brasília, diz que esse modo de
trabalhar faz dos latino-americanos escritores muito mais vanguardistas que os da Europa e Estados Unidos, para ele muito "politicamente corretos".
Curadora do seminário, Suzana
Vargas fala afinada com Gutiérrez. A produtora cultural, que
com "Vanguardas Literárias da
América Latina" chega ao sexto
evento de literatura latino-americana no CCBB, diz que as produções latinas de ponta, como a do
próprio autor cubano, são mais
vanguardistas na postura que no
conteúdo (e um importante parênteses seja feito: fala-se aqui
sempre de vanguardas -e não
em modernismo-, pois o que se
chama de modernismo na América Latina seria algo mais próximo
do simbolismo brasileiro).
"Os atuais autores latinos herdaram as rupturas, não propriamente os mesmos temas ou modos de escrever", diz a dona da
produtora Estação das Letras.
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