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São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2003

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LITERATURA

Autores como o argentino Juan José Saer e o cubano Pedro Juan Gutiérrez debatem isolacionismo de nossas letras

Vanguardas latinas "tiram atraso" no CCBB

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

As vanguardas artísticas brasileiras nasceram com antolhos, aquelas peças que se coloca nos cavalos para evitar que olhem para os lados. Os modernistas tupiniquins vigiavam o que se passava na Europa e praticamente ignoravam o que havia de novo nos vizinhos sul-americanos.
Um seminário que começa hoje em Brasília, e que teve largada ontem no Rio, procura examinar os motivos desses tapa-olhos e discutir a integração do nossos escritores com os "hermanos" de língua espanhola.
"Vanguardas Literárias da América Latina", evento que acontece nas unidades do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio e do Distrito Federal, reúne uma equipe pequena, mas selecionada de escritores e críticos, nacionais e importados.
Tido como o maior escritor contemporâneo da argentina, o romancista, crítico e poeta Juan José Saer, radicado na França desde os anos 60, fala hoje em Brasília, dividindo mesa com um dos principais estudiosos dos latino-americanos de vanguarda no Brasil, o professor da Universidade de São Paulo Jorge Schwartz.
Os dois vão defender o tema "Vanguarda, Influência e Adjacências". "Vou fazer uma retrospectiva da minha própria produção", adianta Schwartz, que pesquisa as vanguardas há 25 anos.
A miopia brasileira com relação ao que faziam os artistas de frente latinos -e vice-versa-, um dos temas do ensaio "Vanguarda e Cosmopolitismo" (ed. Perspectiva), do professor da USP, será o ponto de partida.
"Os diálogos que aconteceram, como o de Mário de Andrade com argentinos, que está sendo levantado agora, foi ocasional", afirma o ensaísta, organizador das obras completas de Jorge Luís Borges para a editora Globo e curador de exposições como "Da Antropofagia a Brasília".
O cubano Pedro Juan Gutiérrez defende que esse autismo das vanguardas latino-americanas não acontece mais.
Um dos grandes "bad boys" da literatura em língua espanhola, o autor de "Trilogia Suja de Havana" (Companhia das Letras) diz que é alto o intercâmbio entre os grandes escritores brasileiros e os nomes centrais de países como Argentina, Cuba e México.
Mas Gutiérrez acredita que as vanguardas hoje são totalmente diferentes das de outrora. "O termo vanguarda sempre se referiu à destruição de códigos anteriores para a criação de novos. As novas vanguardas não estão funcionando assim", disse à Folha. "Hoje a vanguarda é o trabalho com toda a matéria-prima disponível em torno do escritor."
O autor cubano, que nesta quarta visita ao Brasil faz palestras hoje no Rio (cujo centro diz ter achado "idêntico a Havana") e amanhã em Brasília, diz que esse modo de trabalhar faz dos latino-americanos escritores muito mais vanguardistas que os da Europa e Estados Unidos, para ele muito "politicamente corretos".
Curadora do seminário, Suzana Vargas fala afinada com Gutiérrez. A produtora cultural, que com "Vanguardas Literárias da América Latina" chega ao sexto evento de literatura latino-americana no CCBB, diz que as produções latinas de ponta, como a do próprio autor cubano, são mais vanguardistas na postura que no conteúdo (e um importante parênteses seja feito: fala-se aqui sempre de vanguardas -e não em modernismo-, pois o que se chama de modernismo na América Latina seria algo mais próximo do simbolismo brasileiro).
"Os atuais autores latinos herdaram as rupturas, não propriamente os mesmos temas ou modos de escrever", diz a dona da produtora Estação das Letras.


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