UOL


São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Após saída dos Titãs e a morte de Cássia Eller, Nando Reis volta sentimental ao disco

O último romântico

Roberto Price/Folha Imagem
O cantor e compositor Nando Reis, que gravou o disco "A Letra A"


DO ENVIADO AO RIO

A hora é decisiva para Nando Reis, 40. "A Letra A", seu quarto álbum solo, é também o primeiro após sua separação dos Titãs, assim como é o primeiro de composições inéditas após a partida de sua mais constante intérprete, Cássia Eller (1962-2001).
"Os acontecimentos foram surpreendentes, mas hoje vejo que eu mesmo não me dava conta da extensão das amarras que tinha nos Titãs. Estava lá a serviço da banda, e isso não cabia mais", avalia de fora.
Quanto à "revolução" da perda de Cássia, admite que sua obra autoral precisou das interpretações dela para conquistar vida própria e independente dos Titãs e que "a morte dela mudou toda a história".
"Sei que mudou o ponto de vista. Sinto nas pessoas algo como "se ele saiu é porque confia no que faz, não é mais aquele trabalho paralelo". Não é o cara que faz na casa da tia o que não pode fazer na da mãe", define.
E conclui o raciocínio: "Nunca fui um compositor de expressão dentro dos Titãs, mas, pô, já me vêem como esse cara que fez aquelas músicas que Cássia Eller e Marisa Monte cantaram".

Romantismo
Nando reconhece um tom romântico permeando intensamente "A Letra A". "É um grande disco de "eu estou falando isso para você, meu amor". É minha relação pessoal com o mundo, eu sou doce." "A Letra A" reproduz quase integralmente o formato de banda do disco anterior, com dois brasileiros e dois norte-americanos -e a participação especial de Peter Buck, do R.E.M., em duas faixas.
A banda traz aproximações, que ele não evita, com o folk rock à moda de Neil Young e com o soul-rock de cantores negros como Stevie Wonder, Al Green, Curtis Mayfield, Barry White. "Nasci em 63 e fui criado ouvindo música dos anos 70. Gosto muito de música americana e dessa tal sonoridade da década."
"Não quero dar a impressão de que sou nostálgico ou estou fazendo trabalho de recuperação, mas não gosto de trabalhar com programação, não gosto de música eletrônica", admite.
Ainda denunciando sua despretensão ao saudosismo, faz a lista dos elementos que insistem em puxá-lo a isso.
O disco ganhará tiragem de 2.000 cópias em vinil duplo, que ele próprio não sabe quem vai consumir; as letras do encarte são datilografadas em tipos de máquina de escrever Olivetti, como a que sua mãe possuía; sabe que os abundantes teclados de Alex Veley dialogam, mesmo sem querer, com o romantismo juvenil do iê-iê-iê brasileiro.
"Honestamente, nem posso dizer que meu Roberto Carlos favorito seja o da jovem guarda. Eu gosto mesmo é daquele dos anos 70 e 80, de "Detalhes" e "Lady Laura'", romantiza. Diz que a influência que recebe de Roberto é muito mais melódica que de sonoridade. "Acho muito louco a gravadora escolher "Dentro do Mesmo Time" como faixa que vai para as rádios. Mas no meu mundo ideal todo mundo ia cantar e assoviar essa música", afirma, fazendo a ponte entre Roberto Carlos e ele próprio, que já cantou/disse não ser "nenhum Roberto".

Pop star
Não nega um pendor pela figura do pop star, que a diluição nos Titãs adiava ("Acho isso curioso, desde quando imitava Alice Cooper dentro do quarto").
Mas sabe que, mesmo estando na gravadora Universal, dita "a número um do Brasil", letras às vezes misteriosas e canções de seis minutos de "A Letra A" não facilitam de todo a vocação para pop star.
"Sei que eu ter produzido ali dois discos de Cássia Eller me deu currículo. Fui contratado pelo [ex-presidente da companhia] Marcelo Castello Branco por ser quem eu sou, por motivos que são da gravadora e não meus. Mas as condições até agora são absolutamente saudáveis."
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Texto Anterior: Personalidade: Leon "Exodus" Uris morre aos 78 em NY
Próximo Texto: Frase
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.