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"LEIS DA ATRAÇÃO"
Comédia à moda burlesca vira apanhado de clichês do gênero
CLAUDIO SZYNKIER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A comédia americana, entre
a farsa engenhosa e a reflexão de sentimentos de época, cansou de explorar o casamento e seu
par natural, o divórcio.
O catálogo da "screwball comedy" (comédia ligeira e burlesca, marca das décadas de 30 e 40)
registra um filme seminal, de Leo
McCarey. É "Cupido É Moleque
Teimoso" (1937), artefato cinematográfico reprocessado em cínica brincadeira de gênero assinada por Joel Coen, em "O Amor
Custa Caro" (2003).
O tema recebeu verniz e tintas
dos anos 60, via, por exemplo,
Bud Yorkin, em "Divórcio à Americana". "Leis da Atração" é um
primo comportado e não muito
brilhante desses filmes.
O diretor (Peter Howitt) e o ator
principal (Pierce Brosnan) são ingleses. Os cenários dividem-se entre o anacronismo de uma Irlanda
verde e folclorizada e a selva de
uma Nova York artificializada,
onde o divórcio está sempre conectado a aspectos industriais, de
mídia ou de grife: o mainstream
do rock, os mercados da moda e
da arte e o basquete profissional.
O filme não fixa apenas elementos americanos, mas os traços indicam uma comédia bem americana. Seu movimento inicial
emula o batimento da "screwball
comedy", e o enredo é desenhado
para funcionar nesse padrão: dois
advogados (Brosnan e Julianne
Moore), solteiros e manipuladores, digladiam-se na corte, em casos de litígio. Não tarda para que
eles se descubram mutuamente
atraídos.
Howitt domina a fabricação de
conteúdo cênico e espacial em
seus planos, peças meio estilizadas à antiga. A filmagem abre
com elegantes olhares aéreos sobre a Nova York dos táxis e das fachadas de vidro e concreto. No
entanto, a comédia ágil, que subverte o tempo, vai gradualmente
se revelar uma segura vitrine de
clichês. A partir de um determinado ponto, tudo poderá ser antevisto, pressentido.
Mesmo assim, "Leis da Atração" atinge um certo grau de interesse. Sobretudo quando busca a
casualidade como sintoma do casamento atual, ao mesmo tempo
em que assume crença atualizada
e ardorosa no matrimônio como
razão para a vida e vacina para vazios da modernidade.
No tempo dos relacionamentos
fast food, é o antiquado visando
soar, ou destoar, novo. Aqui, a linguagem e o estilo absorvem tal
conceito, porém o filme e sua lógica encrespam o caminho.
Leis da Atração
Laws of Attraction
Direção: Peter Howitt
Produção: EUA/Inglaterra/Irlanda, 2004
Com: Julianne Moore, Pierce Brosnan
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Interlagos, Kinoplex Itaim
e circuito
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