São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"LEIS DA ATRAÇÃO"

Comédia à moda burlesca vira apanhado de clichês do gênero

CLAUDIO SZYNKIER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A comédia americana, entre a farsa engenhosa e a reflexão de sentimentos de época, cansou de explorar o casamento e seu par natural, o divórcio.
O catálogo da "screwball comedy" (comédia ligeira e burlesca, marca das décadas de 30 e 40) registra um filme seminal, de Leo McCarey. É "Cupido É Moleque Teimoso" (1937), artefato cinematográfico reprocessado em cínica brincadeira de gênero assinada por Joel Coen, em "O Amor Custa Caro" (2003).
O tema recebeu verniz e tintas dos anos 60, via, por exemplo, Bud Yorkin, em "Divórcio à Americana". "Leis da Atração" é um primo comportado e não muito brilhante desses filmes.
O diretor (Peter Howitt) e o ator principal (Pierce Brosnan) são ingleses. Os cenários dividem-se entre o anacronismo de uma Irlanda verde e folclorizada e a selva de uma Nova York artificializada, onde o divórcio está sempre conectado a aspectos industriais, de mídia ou de grife: o mainstream do rock, os mercados da moda e da arte e o basquete profissional.
O filme não fixa apenas elementos americanos, mas os traços indicam uma comédia bem americana. Seu movimento inicial emula o batimento da "screwball comedy", e o enredo é desenhado para funcionar nesse padrão: dois advogados (Brosnan e Julianne Moore), solteiros e manipuladores, digladiam-se na corte, em casos de litígio. Não tarda para que eles se descubram mutuamente atraídos.
Howitt domina a fabricação de conteúdo cênico e espacial em seus planos, peças meio estilizadas à antiga. A filmagem abre com elegantes olhares aéreos sobre a Nova York dos táxis e das fachadas de vidro e concreto. No entanto, a comédia ágil, que subverte o tempo, vai gradualmente se revelar uma segura vitrine de clichês. A partir de um determinado ponto, tudo poderá ser antevisto, pressentido.
Mesmo assim, "Leis da Atração" atinge um certo grau de interesse. Sobretudo quando busca a casualidade como sintoma do casamento atual, ao mesmo tempo em que assume crença atualizada e ardorosa no matrimônio como razão para a vida e vacina para vazios da modernidade.
No tempo dos relacionamentos fast food, é o antiquado visando soar, ou destoar, novo. Aqui, a linguagem e o estilo absorvem tal conceito, porém o filme e sua lógica encrespam o caminho.


Leis da Atração
Laws of Attraction
  
Direção: Peter Howitt
Produção: EUA/Inglaterra/Irlanda, 2004
Com: Julianne Moore, Pierce Brosnan
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Interlagos, Kinoplex Itaim e circuito



Texto Anterior: "Pelé Eterno": Biografia é registro de arrepiar, no bom e também no mau sentido
Próximo Texto: Cinema/estréias: Remake dos irmãos Coen "profana" clássico
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.