São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Los Angeles sedia reunião de obras de 15 brasileiros em uma seleção de 130 artistas; Oiticica é principal destaque com oito obras

Exposição maximiza símbolo do Brasil

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Finalmente a arte brasileira deixou de ser "brasileira" para simplesmente ser vista como arte. Ao menos é o que ocorre na exposição "Beyond Geometry" (Além da Geometria), inaugurada no último dia 13, no Lacma, o Los Angeles County Museum.
Após uma sucessão de mostras no exterior -nos EUA, França, Inglaterra e até Japão-, que apresentaram marcos da arte nacional sem contextualização internacional, a mostra de LA dá um passo à frente: apresenta artistas brasileiros como atores importantes em tendências artísticas do século 20. São 15 brasileiros numa mostra de 130, ou seja, mais de 10% da seleção, fato inédito em qualquer livro de história da arte.
Mesmo a primeira obra que se vê na mostra, "Unidade Tripartida" (1948-49), de Max Bill, não por acaso uma grande influência no concretismo brasileiro, pertence ao Museu de Arte Contemporânea da USP. Com isso, "Beyond Geometry" busca traçar um percurso de experimentos na forma dos anos 40 e 70, mas sem se ater ao contexto construtivista a que, em geral, estão ligados.
O que levou a curadora do museu e da exposição, Lynn Zelevansky, a realizar tal percurso? "É muito claro, se você segue o trabalho de artistas como Hélio Oiticica, Piero Manzoni ou Donald Judd, para citar apenas três, que a forma reduzida radicalmente é uma estratégia, como a repetição e a serialização, que pode carregar muitos tipos de idéias. Os artistas usaram essas estratégias como ferramentas para comunicar idéias relacionadas à percepção, à fenomenologia e ao feminismo, entre vários outros conceitos."
Assim, partindo de experimentos formais para propostas conceituais, foi natural que artistas neoconcretistas brasileiros assumissem papel relevante na exposição. Segundo a curadora, "a arte brasileira pós-guerra é incrivelmente boa, e Oiticica, em particular, foi central para o projeto. Seu trabalho abriu meus olhos porque é original e claramente brasileiro. Ao mesmo tempo, ele permanece num diálogo com a maioria da vanguarda européia e americana do período".
Oiticica assume, dessa forma, figura central, com oito trabalhos, destaque que não foi dado as outros artistas, europeus ou americanos. No Lacma, é possível ver desde os "Metaesquemas" (1957 e 1958), passando pelas primeiras aventuras especiais do artista, com os "Núcleos" (1960), e chegando à participação do espectador com os "Parangolés" (1965), em meio a obras também antológicos, como trabalhos de Robert Morris, Sol LeWitt, Blinky Palermo e Hans Haacke, entre outros.
Outra boa surpresa é a seleção que vai além dos já consagrados Oiticica e Lygia Clark. "Quis ampliar nossa idéia do que é a arte brasileira. Creio que os "Gibis", de Raymundo Colares [recentemente expostos no Centro Maria Antônia], são particularmente belos e creio que o "Cubo Colorido" [1960], de Aluisio Carvão, pode ser o primeiro "objeto", nos termos do [artista norte-americano] Donald Judd, na América Latina, por ser uma simples forma "completa", sem ser um arranjo de partes como uma composição tradicional", explica Zelevansky.
E há muitos outros brasileiros presentes, como Sergio Camargo, Maurício Nogueira Lima, Antonio Dias, Lygia Pape, Mira Schendel, Ivan Serpa e Cildo Meireles, artista aliás cuja obra "Cruzeiro do Sul" (1969-1970) é usada como símbolo da mostra, estampada em cartazes pelas ruas de Los Angeles, dividindo as atenções com a propaganda de "Homem-Aranha 2". O trabalho, um cubo de 0,9 cm, consegue assim maximizar um símbolo brasileiro, apesar da limitação de tamanho, afinal a própria idéia de Meireles, em questionar o espaço da América Latina no contexto internacional.
Foi com Meireles, aliás, que Zelevansky iniciou o contato com a arte brasileira, organizando a mostra do artista no MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1990. "Já estive nove vezes no Brasil e, desde que estou no Lacma, tenho buscado adquirir obras de brasileiros para o museu", conta a curadora. É o caso de "Redes de Liberdade", outra obra de Meireles. Depois de Los Angeles, a exposição segue para o Museu de Arte de Miami e não tem previsão de vir ao Brasil. Pena...


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