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ARTES PLÁSTICAS
Los Angeles sedia reunião de obras de 15 brasileiros em uma seleção de 130 artistas; Oiticica é principal destaque com oito obras
Exposição maximiza símbolo do Brasil
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Finalmente a arte brasileira deixou de ser "brasileira" para simplesmente ser vista como arte. Ao
menos é o que ocorre na exposição "Beyond Geometry" (Além
da Geometria), inaugurada no último dia 13, no Lacma, o Los Angeles County Museum.
Após uma sucessão de mostras
no exterior -nos EUA, França,
Inglaterra e até Japão-, que
apresentaram marcos da arte nacional sem contextualização internacional, a mostra de LA dá
um passo à frente: apresenta artistas brasileiros como atores importantes em tendências artísticas
do século 20. São 15 brasileiros
numa mostra de 130, ou seja, mais
de 10% da seleção, fato inédito em
qualquer livro de história da arte.
Mesmo a primeira obra que se
vê na mostra, "Unidade Tripartida" (1948-49), de Max Bill, não
por acaso uma grande influência
no concretismo brasileiro, pertence ao Museu de Arte Contemporânea da USP. Com isso, "Beyond Geometry" busca traçar um
percurso de experimentos na forma dos anos 40 e 70, mas sem se
ater ao contexto construtivista a
que, em geral, estão ligados.
O que levou a curadora do museu e da exposição, Lynn Zelevansky, a realizar tal percurso? "É
muito claro, se você segue o trabalho de artistas como Hélio Oiticica, Piero Manzoni ou Donald
Judd, para citar apenas três, que a
forma reduzida radicalmente é
uma estratégia, como a repetição
e a serialização, que pode carregar
muitos tipos de idéias. Os artistas
usaram essas estratégias como
ferramentas para comunicar
idéias relacionadas à percepção, à
fenomenologia e ao feminismo,
entre vários outros conceitos."
Assim, partindo de experimentos formais para propostas conceituais, foi natural que artistas
neoconcretistas brasileiros assumissem papel relevante na exposição. Segundo a curadora, "a arte
brasileira pós-guerra é incrivelmente boa, e Oiticica, em particular, foi central para o projeto. Seu
trabalho abriu meus olhos porque
é original e claramente brasileiro.
Ao mesmo tempo, ele permanece
num diálogo com a maioria da
vanguarda européia e americana
do período".
Oiticica assume, dessa forma, figura central, com oito trabalhos,
destaque que não foi dado as outros artistas, europeus ou americanos. No Lacma, é possível ver
desde os "Metaesquemas" (1957 e
1958), passando pelas primeiras
aventuras especiais do artista,
com os "Núcleos" (1960), e chegando à participação do espectador com os "Parangolés" (1965),
em meio a obras também antológicos, como trabalhos de Robert
Morris, Sol LeWitt, Blinky Palermo e Hans Haacke, entre outros.
Outra boa surpresa é a seleção
que vai além dos já consagrados
Oiticica e Lygia Clark. "Quis
ampliar nossa idéia do que é
a arte brasileira. Creio que
os "Gibis", de Raymundo
Colares [recentemente
expostos no Centro Maria Antônia], são particularmente belos e creio que
o "Cubo Colorido" [1960],
de Aluisio Carvão, pode ser o primeiro "objeto", nos termos do [artista norte-americano] Donald
Judd, na América Latina, por ser
uma simples forma "completa",
sem ser um arranjo de partes como uma composição tradicional", explica Zelevansky.
E há muitos outros brasileiros
presentes, como Sergio Camargo,
Maurício Nogueira Lima, Antonio Dias, Lygia Pape, Mira Schendel, Ivan Serpa e Cildo Meireles,
artista aliás cuja obra "Cruzeiro
do Sul" (1969-1970) é usada como
símbolo da mostra, estampada
em cartazes pelas ruas de Los Angeles, dividindo as atenções com a
propaganda de "Homem-Aranha
2". O trabalho, um cubo de 0,9
cm, consegue assim maximizar
um símbolo brasileiro, apesar da
limitação de tamanho, afinal a
própria idéia de Meireles, em
questionar o espaço da América
Latina no contexto internacional.
Foi com Meireles, aliás, que Zelevansky iniciou o contato com a
arte brasileira, organizando a
mostra do artista no MoMA, o
Museu de Arte Moderna de Nova
York, em 1990. "Já estive nove vezes no Brasil e, desde que estou no
Lacma, tenho buscado adquirir
obras de brasileiros para o museu", conta a curadora. É o caso de
"Redes de Liberdade", outra obra
de Meireles. Depois de Los Angeles, a exposição segue para o Museu de Arte de Miami e não tem
previsão de vir ao Brasil. Pena...
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