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"Mistério se mantém até o final", diz Negrini sobre adaptação de Bressane
FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Eles mal se olham, se tocam
ou se falam. "Mas existe algo
tenso entre os dois, uma tensão
erótica", explica a atriz Alessandra Negrini, 38, sobre a relação da sua personagem com a
de Selton Mello, os únicos em
cena no filme "A Erva do Rato".
Para construir esta "relação
do avesso", foram dois meses
visitando a casa do diretor, Júlio Bressane, no Leblon, quase
diariamente, entre discussões e
observações de pinturas clássicas e fotografias antigas. "Tudo
para sacar o filme que ele estava imaginando, para penetrar
esse universo Júlio Bressane."
"Achava um filme muito difícil, misterioso, por mais que a
gente conversasse. Esse mistério se manteve até o final, mesmo nas filmagens. Depois que
vi o filme, comecei a usufruir
mais esse mistério, gostei."
No longa, os dois personagens dividem a mesma casa e
cama, mas a rotina é atrapalhada pela chegada de um rato, que
começa a roer as fotografias íntimas que o homem tira com
esmero da companheira.
Sobre as fotos que surgem na
tela, com closes bastante reveladores, Negrini logo esclarece
que são de uma dublê, cujo nome surge na metade final dos
créditos. "Aliás, isso devia ficar
mais explícito [que uma dublê
fez]", diz Negrini, embora não
se importe com a nudez, contanto que seja "necessária".
"Eu não ficaria nua para
qualquer filme, assim comercialzão, não fico mesmo, não
sou a fim. Mas, agora, um filme
que tem uma linguagem que te
cubra, você pode ficar nua, é a
película, é a luz, é a beleza dali."
A atriz conta que foi consultada por Bressane antes de rodar certas cenas, como uma em
que aparece sem roupa sob a
luz vermelha de um laboratório
caseiro de revelação de fotos.
"Ele perguntou se eu queria
fazer, e eu disse: "Vou pensar".
Pensei e falei: "Claro que eu vou
fazer". É uma cena fundamental, a tensão fica num nível máximo. Então foi uma escolha
minha, foi meu culhão de atriz.
Não me sinto exposta. É uma
nudez muito clássica, estética."
Este é seu segundo trabalho
com Bressane -o primeiro foi
"Cleópatra". Ambos foram exibidos no Festival de Veneza. O
diretor já a escalou para o próximo, "Beduíno", um "filme
meio surrealista", segundo ela.
Paulistana que mora no Rio
há 12 anos, Negrini deve voltar
a fazer TV no final do ano, numa novela da Globo, onde está
desde os anos 90. Sua vontade,
no entanto, é se dedicar mais ao
teatro, da mesma forma que fez
com o cinema autoral. Ela, que
já encenou "A Gaivota", de
Tchecov, quer produzir sua
própria peça em 2010, embora
ainda não saiba qual texto.
"Amo fazer TV, mas eu também gosto dos clássicos", diz.
"Pô, eu era estudante de ciências sociais [na USP] e caí na
Globo. Amo estar lá, mas tem
um outro lado meu que precisava ser satisfeito."
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