da Reportagem Local

Muito jovem ainda, a gravadora Trama já presta alguns serviços relevantes à história da MPB, e o mais recente deles é relançar à circulação a mítica Banda de Pífanos de Caruaru, em atividade há 74 (!) anos, mas que andava havia muito fora do mercado.
"Tudo Isso É São João" é a volta ao disco do clã pernambucano dos Biano, que se mantém na música desde a década de 20 -tocou até para o bando de Lampião- e já está em sua terceira geração.
Com tudo isso de estrada, o conjunto centrado nos pífanos (tipos rústicos de flauta) só começou a gravar nos anos 70, em parte impulsionado pela inclusão de sua "Pipoca Moderna" no disco "Expresso 2222" (72), de Gilberto Gil, à qual Caetano Veloso adicionou letra no LP "Jóia" (75).
Envolta na bolha de revalorização da cultura musical nordestina de raiz que acompanhou o primeiro período pós-tropicalista, a banda voltou depois à míngua fonográfica, e, por isso, essa reconstituição deve ser comemorada.
É preciso tocar, no entanto, nos pontos contra. O primeiro deles é que a produção (do condutor da gravadora, João Marcello Bôscoli, com Luiz Paulo Serafim) e a atual formação, de dois pífanos, zabumba, tarol, prato e surdo, tornam um pouco tímida demais a presença dos pífanos, afinal sua razão de ser.
O excesso de vocais em coro -a banda já foi predominantemente instrumental- talvez concorra para o abafamento dos "pifes". Necessidade de "popização", talvez.
Outro é o conjunto de ditames do mercado, que empurra o CD para o período junino e pesa um pouco demais sua barra nos forrós, saturados em temas pop como "Isso Aqui Tá Bom Demais", a faixa-título e as batidíssimas "Asa Branca" e "Assum Preto" (ambas de Luiz Gonzaga). Bem, a Banda de Pífanos de Caruaru não é propriamente um conjunto de forró, e temas apenas dançantes colocam-na aquém de suas possibilidades.
É fácil perceber isso na grandeza de "Balão Azul" (um tema junino, veja), de Sebastião Biano, de rara poesia rupestre ("eu vim zuá no sul/ é um balão azul/ eu vim zuá na praia/ é um balão que vai"), e, em especial, em "Petrolina, Juazeiro".
Essa última, de Jorge de Altinho, é o ponto de foco da cativante simplicidade da Banda de Pífanos. Canção conciliatória, joga panos quentes na rivalidade Pernambuco/Bahia, derramando amor no leito do rio São Francisco, divisa entre Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Uns pacificadores esses Pífanos de Caruaru. (PAS)

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