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Morre Zezé Gonzaga, cantora da era do rádio
Intérprete era admirada por Villa-Lobos e Radamés Gnattali; para Guinga, era "um gênio"
Aos 81 anos, Zezé morava sozinha e foi hospitalizada na terça com quadro grave de desnutrição; enterro aconteceria ontem à tarde
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Cantora admirada por Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e
Radamés Gnattali (1906-1988),
Zezé Gonzaga morreu ontem
no Rio de Janeiro, aos 81 anos,
no Hospital Adventista Silvestre (zona sul). A causa da morte
foi falência múltipla dos órgãos.
Sem família -sua filha de
criação morreu em 1999-, Zezé morava sozinha em um
apartamento nas proximidades
da praça da Bandeira (zona
norte do Rio).
Foi hospitalizada dois dias
antes de morrer, com um quadro grave de desnutrição, de
acordo com amigos.
Nascida Maria José Gonzaga,
em Manhuaçu (a 290 km de Belo Horizonte, na Zona da Mata
de Minas Gerais), a cantora
completaria 82 anos no dia 3
de setembro.
No início do ano, por iniciativa do amigo, produtor, letrista e
poeta Herminio Bello de Carvalho, foi lançado seu último
disco, batizado "Entre Cordas".
À Folha, por telefone, enquanto se dirigia ao velório realizado na Câmara de Vereadores do Rio, cidade em que Zezé
se radicara a partir de 1945,
Herminio, 73, lembrou que, para lançar o disco pela gravadora
Biscoito Fino, teve que recorrer a seu acervo de gravações
raras, pois ela já não manifestava muito interesse em ir para
o estúdio.
Mesmo assim, por insistência do amigo, Zezé gravou duas
canções e duas vinhetas para o
trabalho. As demais faixas trazem interpretações em programas de TV que Herminio comandou entre 1983 e 2002. No
repertório, dois temas de Villa-Lobos e "Amargura" (Radamés
Gnattali/Alberto Ribeiro).
"Seu último disco é uma ode
ao canto brasileiro. Era uma
mulher fantástica, a grande
mestra do canto brasileiro",
afirmou ele.
Gravações perdidas
Para Herminio, material inédito de Zezé Gonzaga só existe
no acervo da extinta TV Educativa (hoje da rede TV Brasil).
Ele conta que fracassou na tentativa de obter a liberação das
imagens e áudios de programas
gravados com a cantora nas décadas de 70, 80 e 90.
"A TVE a devolveu ao anonimato. Eu não consegui os programas que fiz com ela. Dariam
para fazer um belíssimo disco",
lamentou.
Autor (com o letrista Paulo
César Pinheiro) de "Senhorinha", canção de abertura de
"Entre Cordas", o compositor e
cantor Guinga, 58, comoveu-se
quando informado pela Folha
da morte da amiga.
Entre soluços, Guinga disse
considerá-la "um gênio, uma
maravilha".
"Eu conhecia Zezé havia
muito tempo. Participei com
ela das filmagens de "Brasileirinho" [documentário do finlandês Mika Kaurismäki sobre
músicos e música brasileira
lançado no ano passado nos cinemas do país], com "Senhorinha'", contou ele.
A saúde de Zezé Gonzaga vinha piorando desde 2003,
quando, em um teatro no Rio,
caiu de uma escadaria. Na queda, feriu a boca gravemente e
sofreu afundamento do osso
esterno, na caixa torácica, o
que, dizia, passou a atrapalhar
sua respiração, especialmente
ao cantar. Perfeccionista, resolveu evitar gravações e
shows, pois alegava dificuldades no canto.
Amigo de Zezé, o jornalista,
escritor e letrista Sérgio Cabral, 71, definiu-a como "uma
cantora encantadora".
"Zezé era realmente uma
grande cantora. Muito digna,
muito cuidadosa nas músicas.
Tinha um repertório maravilhoso. Ela falava muito bem da
época do rádio, das amigas cantoras. Era uma boa colega, uma
pessoa de fácil convivência. A
preferida de Radamés Gnattali", disse Cabral.
O enterro de Zezé Gonzaga
aconteceria no final da tarde
no cemitério de São Batista, em
Botafogo (zona sul).
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