São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2008

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Morre Zezé Gonzaga, cantora da era do rádio

Intérprete era admirada por Villa-Lobos e Radamés Gnattali; para Guinga, era "um gênio"

Aos 81 anos, Zezé morava sozinha e foi hospitalizada na terça com quadro grave de desnutrição; enterro aconteceria ontem à tarde


SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Cantora admirada por Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e Radamés Gnattali (1906-1988), Zezé Gonzaga morreu ontem no Rio de Janeiro, aos 81 anos, no Hospital Adventista Silvestre (zona sul). A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos.
Sem família -sua filha de criação morreu em 1999-, Zezé morava sozinha em um apartamento nas proximidades da praça da Bandeira (zona norte do Rio).
Foi hospitalizada dois dias antes de morrer, com um quadro grave de desnutrição, de acordo com amigos.
Nascida Maria José Gonzaga, em Manhuaçu (a 290 km de Belo Horizonte, na Zona da Mata de Minas Gerais), a cantora completaria 82 anos no dia 3 de setembro.
No início do ano, por iniciativa do amigo, produtor, letrista e poeta Herminio Bello de Carvalho, foi lançado seu último disco, batizado "Entre Cordas".
À Folha, por telefone, enquanto se dirigia ao velório realizado na Câmara de Vereadores do Rio, cidade em que Zezé se radicara a partir de 1945, Herminio, 73, lembrou que, para lançar o disco pela gravadora Biscoito Fino, teve que recorrer a seu acervo de gravações raras, pois ela já não manifestava muito interesse em ir para o estúdio.
Mesmo assim, por insistência do amigo, Zezé gravou duas canções e duas vinhetas para o trabalho. As demais faixas trazem interpretações em programas de TV que Herminio comandou entre 1983 e 2002. No repertório, dois temas de Villa-Lobos e "Amargura" (Radamés Gnattali/Alberto Ribeiro).
"Seu último disco é uma ode ao canto brasileiro. Era uma mulher fantástica, a grande mestra do canto brasileiro", afirmou ele.

Gravações perdidas
Para Herminio, material inédito de Zezé Gonzaga só existe no acervo da extinta TV Educativa (hoje da rede TV Brasil). Ele conta que fracassou na tentativa de obter a liberação das imagens e áudios de programas gravados com a cantora nas décadas de 70, 80 e 90.
"A TVE a devolveu ao anonimato. Eu não consegui os programas que fiz com ela. Dariam para fazer um belíssimo disco", lamentou.
Autor (com o letrista Paulo César Pinheiro) de "Senhorinha", canção de abertura de "Entre Cordas", o compositor e cantor Guinga, 58, comoveu-se quando informado pela Folha da morte da amiga.
Entre soluços, Guinga disse considerá-la "um gênio, uma maravilha".
"Eu conhecia Zezé havia muito tempo. Participei com ela das filmagens de "Brasileirinho" [documentário do finlandês Mika Kaurismäki sobre músicos e música brasileira lançado no ano passado nos cinemas do país], com "Senhorinha'", contou ele.
A saúde de Zezé Gonzaga vinha piorando desde 2003, quando, em um teatro no Rio, caiu de uma escadaria. Na queda, feriu a boca gravemente e sofreu afundamento do osso esterno, na caixa torácica, o que, dizia, passou a atrapalhar sua respiração, especialmente ao cantar. Perfeccionista, resolveu evitar gravações e shows, pois alegava dificuldades no canto.
Amigo de Zezé, o jornalista, escritor e letrista Sérgio Cabral, 71, definiu-a como "uma cantora encantadora".
"Zezé era realmente uma grande cantora. Muito digna, muito cuidadosa nas músicas. Tinha um repertório maravilhoso. Ela falava muito bem da época do rádio, das amigas cantoras. Era uma boa colega, uma pessoa de fácil convivência. A preferida de Radamés Gnattali", disse Cabral.
O enterro de Zezé Gonzaga aconteceria no final da tarde no cemitério de São Batista, em Botafogo (zona sul).


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