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CRÍTICA DRAMA
David Cronenberg filma tara de uma época
Fantasia erótico-automotiva do cineasta canadense, "Crash - Estranhos Prazeres" tem lançamento em DVD
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O romance "Crash" (1973),
do britânico J. G. Ballard
(1930-2009), parece ter sido
escrito sob medida para virar
filme de David Cronenberg,
um cineasta que faz das contaminações entre o orgânico,
o humano e o mecânico o seu
campo de criação.
O longa "Crash - Estranhos
Prazeres" (1996) é, de certa
maneira, a quintessência de
Cronenberg.
Nele, um publicitário (James Spader), depois de sofrer
um grave acidente de carro,
mergulha com sua bela mulher (Deborah Unger) num
mundo de perversões sexuais ligadas a desastres automobilísticos.
Em sua aventura exploratória, o protagonista se envolve com a viúva (Holly
Hunter) do homem morto em
seu acidente, com um ex-cientista empenhado em cultivar um novo erotismo fundado na fusão entre fluidos
humanos e industriais e com
malucos que reencenam desastres fatais de figuras célebres (James Dean, Jayne
Mansfield).
Como costuma acontecer
em sua obra, o diretor canadense filma essa fantasia erótico-automotiva sem nenhum juízo moral. Mais que
isso: dá a impressão de saber
tão pouco quanto o espectador a respeito do que está
sendo mostrado. Filma como
quem descobre, como quem
investiga.
Essa perturbadora suspensão do julgamento, que permite ao espectador mergulhar no filme como quem entra num sonho (ou num pesadelo), estava presente no livro de Ballard. Ao levá-lo à
tela, Cronenberg praticamente se limitou a transpor a
ação da periferia de Londres
para a de Toronto.
No mais, é a mesma genial
loucura que explicita e exacerba a tara de uma época em
que, como diria Macunaíma,
"os homens são as máquinas
e as máquinas é que são os
homens".
CRASH - ESTRANHOS
PRAZERES
LANÇAMENTO Lume
QUANTO R$ 49,90
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo
JOSÉ SIMÃO
O colunista está em férias
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