São Paulo, domingo, 25 de julho de 2010

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CRÍTICA DRAMA

David Cronenberg filma tara de uma época

Fantasia erótico-automotiva do cineasta canadense, "Crash - Estranhos Prazeres" tem lançamento em DVD

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O romance "Crash" (1973), do britânico J. G. Ballard (1930-2009), parece ter sido escrito sob medida para virar filme de David Cronenberg, um cineasta que faz das contaminações entre o orgânico, o humano e o mecânico o seu campo de criação.
O longa "Crash - Estranhos Prazeres" (1996) é, de certa maneira, a quintessência de Cronenberg.
Nele, um publicitário (James Spader), depois de sofrer um grave acidente de carro, mergulha com sua bela mulher (Deborah Unger) num mundo de perversões sexuais ligadas a desastres automobilísticos.
Em sua aventura exploratória, o protagonista se envolve com a viúva (Holly Hunter) do homem morto em seu acidente, com um ex-cientista empenhado em cultivar um novo erotismo fundado na fusão entre fluidos humanos e industriais e com malucos que reencenam desastres fatais de figuras célebres (James Dean, Jayne Mansfield).
Como costuma acontecer em sua obra, o diretor canadense filma essa fantasia erótico-automotiva sem nenhum juízo moral. Mais que isso: dá a impressão de saber tão pouco quanto o espectador a respeito do que está sendo mostrado. Filma como quem descobre, como quem investiga.
Essa perturbadora suspensão do julgamento, que permite ao espectador mergulhar no filme como quem entra num sonho (ou num pesadelo), estava presente no livro de Ballard. Ao levá-lo à tela, Cronenberg praticamente se limitou a transpor a ação da periferia de Londres para a de Toronto.
No mais, é a mesma genial loucura que explicita e exacerba a tara de uma época em que, como diria Macunaíma, "os homens são as máquinas e as máquinas é que são os homens".


CRASH - ESTRANHOS PRAZERES

LANÇAMENTO Lume
QUANTO R$ 49,90
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo


JOSÉ SIMÃO
O colunista está em férias


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